Música
Ratos de Porão relança Crucificados Pelo Sistema, primeiro disco punk brasileiro
O disco com tiragem de 600 cópias e sub-apreciado na época, chega a custar R$ 3 mil em sites de venda de vinis
Por: Agência Estado
Publicado em: 07/03/2016 13:00 Atualizado em:
Boca (bateria), João Gordo (vocal), Jão (guitarra) e Juninho (baixo). Integrantes do Ratos de Porão. Foto: crédito: Wander Willian/Divulgacao |
O punk paulista tem alguns marcos em sua história: a compilação Grito suburbano, em 1982, com as bandas Cólera, Inocentes e Olho Seco, é a primeira gravação do gênero e inicia os registros musicais. O Começo do Fim do Mundo, no Sesc Pompeia, idealizado por Antônio Bivar e Antônio Carlos Calegari, é o primeiro grande festival e caracteriza a amplificação do movimento, mas também o aumento das brigas entre gangues e de uma cobertura midiática sensacionalista dos jovens que andavam de coturno e cabelo espetado. Crucificados pelo Sistema (1984), do Ratos de Porão, é o primeiro disco inteiro de uma única banda - antes dele, havia apenas compilações e compactos - mas também coincide com o final desta primeira fase do movimento.
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O som já se aproximava do hardcore, o que alienou muitos dos puristas da época. "Aquele pé de galinha na capa, a gente começou a ser chamado de traidor ali", explica João, fazendo referência à bandeira pelo desarmamento nuclear adotado como símbolo pacifista dos hippies nos anos 1960, e que era parte da arte do disco.
Desde então, a banda anda em uma linha fina entre a idolatria e a acusação. Uma pesquisa rápida na internet é suficiente para encontrar versões das mais diversas e esquisitas de Crucificados pelo sistema. A mais famosa delas é do Sepultura, mas até artistas japoneses aparecem fazendo covers em português. O disco com tiragem de 600 cópias e sub-apreciado na época, chega a custar R$ 3 mil em sites de venda de vinis.
"Esse disco era para ser lançado em 2014, mas, como as coisas demoram, está saindo agora. É um disco comemorativo de 30 anos. É o Crucificados, só que em uma capa luxuosa, preta e em alto relevo… cheia de frescura e de brinde vem esse compacto que foi o show no Napalm."
O compacto é também o registro de um dos poucos shows da formação clássica e o fim de uma era. Alguns dos punks trabalhavam na casa noturna do centro de São Paulo, que, para compensar o baixo salário, prometia palco aberto a eles um domingo por mês. O mesmo Fábio Sampaio, que bancou Crucificados pelo Sistema, gravou a apresentação do Ratos de Porão, pouco antes de entrar em estúdio, e dos Inocentes, já sem Ariel Uliana e com Clemente nos vocais.
Hoje, o Ratos de Porão é uma das bandas nacionais mais reconhecidas lá fora, mas quem quiser ouvir o som dos caras ao vivo provavelmente terá que viajar para São Paulo. "A gente é uma banda que mora longe e eu não tenho o mesmo vigor. De uns tempos para cá começou o negócio de ser banda grande, mas eu já estou cansado para fazer turnê longa", diz João Gordo. Sorte dos paulistas.
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