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Mangue Filha de Chico Science abriu o show da Nação Zumbi no Marco Zero no carnaval O Rappa e Jota Quest também tocaram na madrugada de segunda para terça-feira

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/02/2016 06:15 Atualizado em: 12/02/2016 16:40

Caboclos de lança do maracatu rural Piaba de Ouro participaram do show: Foto: Peu Ricardo/ Divulgação
Caboclos de lança do maracatu rural Piaba de Ouro participaram do show: Foto: Peu Ricardo/ Divulgação
 
Pela primeira vez na história da Nação Zumbi, a cantora Lula, filha de Chico Science, fez uma participação especial em um show da banda. Ela cantou a música Monólogo ao pé do ouvido na abertura da apresentação do grupo no Marco Zero, por volta das 23h, em pleno carnaval do Recife. Jota Quest e O Rappa subiram ao palco em seguida.

Lula, que nasceu em 1990, acrescentou o nome do pai e a expressão "Ocupe Estelita" à letra da música, que abre o álbum Da lama ao caos, lançado em 1994. Chico Science faria 50 anos em 2016 e o show foi mais uma homenagem ao cantor, que também ganhou tributos carnavalescos nos blocos Siri na Lata e Galo da Madrugada. Segundo Jorge du Peixe, atual vocalista, a banda pretende fazer um show especial em março com o repertório do disco Afrociberdelia, que completa duas décadas este ano.

As músicas da época de Chico Science ficaram concentradas na segunda metade do show. Depois de tocar oito faixas dos últimos três discos, a Nação Zumbi intercalou Rios, pontes e overdrives, Cidadão do mundo, Manguetown, Maracatu atômico, Banditismo por uma questão de classe, Da lama ao caos, A praieira e Macô com outras canções mais recentes.

Ao todo, a Nação tocou 23 canções. Meu maracatu pesa uma tonelada e Da lama ao caos ganharam a participação especial do cantor Franz Treichler, da banda suíça Young Gods. Um dos auges do show foi Maracatu atômico, acompanhada por uma explosão de serpentinas, por chuva de papel e pela presença de dois integrantes do maracatu rural Piaba de Ouro, fundado pelo Mestre Salustiano, que foi lembrado por Jorge du Peixe (Chico Science costumava surgir no palco de surpresa durante os shows vestido como caboclo de lança).

Siba, Fela Kuti, Lia de Itamaracá e a banda Eddie (autora de Quando a maré encher) também foram citados. O guitarrista Lúcio Maia, como sempre, ainda tocou o hino do Santa Cruz Futebol Clube. Ele entrou no palco fantasiado como uma espécie de bruxo, com o rosto coberto de cabelos, mas aos poucos desmontou a roupa e terminou o show sem camisa.

Lúcio Maia surgiu fantasiado de bruxo. Foto: Leo Motta/ Divulgação
Lúcio Maia surgiu fantasiado de bruxo. Foto: Leo Motta/ Divulgação


Jorge du Peixe também anunciou que um novo memorial em homenagem a Chico Science será construído e que a banda voltará a tocar, em 2016, no Festival de Montreux, na Suíça, onde esteve em 1996 (a gravação do show feita naquela época será remasterizada e lançada este ano). Um documentário oficial sobre o antigo vocalista também será lançado em março.

Du Peixe interrompeu o show duas vezes para criticar a ação de policiais que tentavam reprimir foliões mais entusiasmados. Antes de Blunt of Judah, ele disse que o deputado Eduardo Cunha "é um grandessíssimo filho da puta". Após o final da apresentação, ele cedeu uma rápida entrevista coletiva, em que lembrou dos posicionamentos políticos e ecológicos da banda, especialmente em relação à preservação dos ecossistemas naturais: "O cidadão tem que lutar. Não podemos destruir os mangues, se não a gente tá ferrado. Construíram um shopping center na beira do mangue e uma pista que liga um shopping a outro passando por cima dos manguezais. O dinheiro está passando por cima de tudo", criticou o cantor, que foi um dos fundadores de um movimento musical chamado "Mangue".

A Nação Zumbi volta a se apresentar no Carnaval do Recife, nesta terça, às 21h, na Lagoa do Araçá.

Rogério Flausino, do Jota Quest, interagiu bastante com a plateia. Foto: Peu Ricardo/ Divulgação
Rogério Flausino, do Jota Quest, interagiu bastante com a plateia. Foto: Peu Ricardo/ Divulgação


O grupo mineiro Jota Quest começou a tocar a 1h30 da madrugada. Além dos próprios sucessos, como Fácil, Do seu lado, Mandou bem, Na moral, Encontrar alguém, De volta ao Planeta dos Macacos e Dias melhores, eles interpretaram clássicos de Lulu Santos (Tempos modernos), Titãs (Homem primata) e Roberto Carlos (Além do horizonte).

O vocalista Rogério Flausino interagiu bastante com a plateia. Desde a primeira música, ele sempre descia do palco para chegar mais perto do público, percorria a passarela das agremiações e andava até a grade de proteção (chegou a tirar selfies com os fãs no meio das músicas). O cantor também dançou com uma sombrinha de frevo e com uma gola de caboclo de lança. Ele é aquele tipo de cara simpático que parece ser sempre legal com todo mundo.

O dia já amanhecia quando o Rappa ainda estava no palco. Foto: Allan Torres/ Divulgação
O dia já amanhecia quando o Rappa ainda estava no palco. Foto: Allan Torres/ Divulgação

A banda carioca O Rappa começou a tocar às 3h30, com uma hora de atraso. Na verdade, eles inicialmente estavam programados para 0h30, mas trocaram de horário com o Jota Quest. O show foi bastante pesado (canções como O pescador de ilusões ganharam versões mais aceleradas) e o vocalista Falcão chegou a interromper o som em dois momentos para reclamar de tumultos ("Isso é coisa feia", cantou à capela, em referência à música da banda Ponto de Equilíbrio).

O show começou com um remix de Monólogo ao pé do ouvido, de Chico Science e Nação Zumbi, tocado por Negralha, DJ da banda carioca. Após as seis primeiras músicas, ele também tocou a gravação original de Anunciação, de Alceu Valença, bastante citado por Falcão.

A apresentação foi filmada por uma equipe especial dirigida pelo cineasta pernambucano Lírio Ferreira. As filmagens podem fazer parte do próximo DVD do grupo. Por causa disso, um comunicado foi apresentado nos telões antes do show para que o público ficasse ciente da gravação e autorizasse o uso de imagem.

O Rappa também tocou no Marco Zero no carnaval do ano passado.

TUMULTOS E VIOLÊNCIA
Apesar de ter uma das maiores capacidades de público para a realização de shows no Recife, o Marco Zero definitivamente não comporta mais uma combinação de atrações como O Rappa, Nação Zumbi e Jota Quest. Dezenas de milhares de pessoas nem conseguiam ver o palco e precisaram assistir a tudo pelos telões. Quem chegava mais perto ficava espremido na multidão e passava por momentos de sufoco a cada tumulto. Relatos de cenas de violência espalharam-se nas redes sociais. Literalmente, não há para onde correr em uma situação assim. Uma possível solução, que a prefeitura já tem testado, mas que deveria ter sido mais planejada este ano, é ampliar ainda mais o poder das atrações em outros polos simultaneamente.





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