Protesto MinC e Funarte exigem explicação do governo paulista sobre violência policial em teatro Jovens foram retirados à força do hall do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, sem ordem de prisão ou tentativa de manutenção da ordem, de acordo com o comunicado

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/12/2015 12:39 Atualizado em: 11/12/2015 18:33

Espaço foi palco de resistência cultural durante a ditadura militar. Foto: Facebook/Divulgação
Espaço foi palco de resistência cultural durante a ditadura militar. Foto: Facebook/Divulgação

A Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão federal vinculado ao Ministério da Cultura (MinC), publicou nesta quinta-feira uma nota de repúdio à ação de policiais dentro no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo. De acordo com o comunicado, divulgado no site oficial e na página da instituição no Facebook, jovens buscaram, na quarta, abrigo no local durante as manifestações dos estudantes secundaristas contra a reformulação do sistema educacional do estado, proposta pelo governo estadual.

Os alunos, ainda segundo o texto, foram retirados à força do hall da casa de espetáculos por policiais que invadiram o local "sem ordem de prisão, nem qualquer tentativa de manutenção da ordem - apenas com agressões aos adolescentes".

"Em defesa da memória do Teatro de Arena e de todos os artistas que fizeram desse espaço palco da luta insubmissa e revolucionária contra a ditadura militar, a Funarte e o Ministério da Cultura, gestores do teatro, exigem esclarecimentos do Governo do Estado de São Paulo sobre o episódio", reclama a nota, na qual a ação é classificada como arbitrária, violenta e inconstitucional.

Os órgãos também prestaram solidariedade aos agredidos, às famílias, aos artistas e ao público presente no teatro. Desde o anúncio do repasse para a rede municipal ou utilização de cerca de 60 escolas secundaristas para outros fins, os alunos têm ocupado os espaços, onde promovem atividades culturais e debates. Em algumas ocasiões, eles entraram em confronto com os policiais. Karina Buhr, Alessandra Leão e Rodrigo Caçapa fizeram shows gratuitos nas ocupações.

O Teatro de Arena Eugênio Kusnet funciona na antiga sede do Teatro de Arena, um dos principais espaços culturais nas décadas de 1950 e 1960 e palco para espetáculos importantes de resistência política e ideológica à ditadura militar brasileira. Espetáculos de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho e José Renato Pécora, como Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, foram encenados no local.

Através das redes sociais, a Funarte já se posicionou contra a redução da maioridade penal e publicou repúdio à prisão do Palhaço Tico Bonito, no Paraná. O artista de rua foi preso por suspeita de desacato após dizer que policiais defendem apenas burgueses que moram no Centro e o governador Beto Richa, durante o 29º Edição do Festival de Teatro de Cascavel.

Confira a nota na íntegra:

"Comunicado sobre o fato ocorrido no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo

A Fundação Nacional de Artes – Funarte tomou conhecimento de que, durante uma atividade pública, realizada pelo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, na noite da última quarta-feira, dia 9 de dezembro, nas dependências do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, em São Paulo, motocicletas conduzidas por policiais militares invadiram o hall do teatro, em perseguição a jovens que vinham das manifestações promovidas por estudantes secundaristas e, em razão da repressão policial, procuraram abrigo no espaço. Os policiais retiraram à força os jovens de dentro da bilheteria do teatro, sem ordem de prisão, nem qualquer tentativa de manutenção da ordem – apenas com agressões aos adolescentes.

A Funarte repudia essa ação arbitrária e violenta, que fere os direitos previstos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e, principalmente, o Estado Democrático de Direito. Em defesa da memória do Teatro de Arena e de todos os artistas que fizeram desse espaço palco da luta insubmissa e revolucionária contra a ditadura militar, a Funarte e o Ministério da Cultura, gestores do teatro, exigem esclarecimentos do Governo do Estado de São Paulo sobre o episódio.

Solidarizamo-nos com os jovens agredidos, suas famílias, os artistas e o público, presente no teatro; e com todos aqueles que acreditam que a democracia é o nosso maior patrimônio – e, por isso, sentem-se também violentados.

Fundação Nacional de Artes – Funarte"

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