Música Duelo da rabeca com o violino chega ao Recife e une popular e erudito Mestre Maciel Salu e Maestro Israel de França se unem em espetáculo que também envolve dança e artes plásticas

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/12/2015 11:25 Atualizado em: 01/12/2015 12:28

Rabeca e violino se unem no palco do Santa Isabel. Foto: Leto Carvalho/Divulgação
Rabeca e violino se unem no palco do Santa Isabel. Foto: Leto Carvalho/Divulgação


O formato não nega a relação entre os instrumentos, embora rabeca e violino representem, por consenso, o popular e o erudito, respectivamente. Aproximar as duas vertentes foi a ideia que ocorreu ao maestro Israel França e ao mestre rabequeiro Maciel Salu na Quarta-feira de Cinzas de 2013, ambos convidados para evento da programação do carnaval do Recife daquele ano, quando tocaram juntos pela primeira vez. Quase três anos mais tarde, após shows em seis capitais brasileiras, O duelo da rabeca com o violino: uma peleja de amor à música chega, nesta terça-feira, ao Teatro de Santa Isabel, na cidade onde o projeto nasceu.

O rabequeiro que, na infância, tinha a mamadeira esquentada na bateria do carro do pai (Mestre Salustiano), e o maestro que precisou tocar violino para policiais, acusado injustamente por roubo do instrumento, eram, até o projeto, desconhecidos pelo público. Durante a turnê, são apresentados em aula-espetáculo gratuita, comandada pelos próprios artistas, que revelam curiosidades sobre si mesmos e sobre a relação com a música. No Recife, a conversa foi realizada em setembro, na Escola Municipal de Arte João Pernambuco, como ponto de partida de turnê.

Para Maciel Salu, artista forjado nas tradições do maracatu e do cavalo marinho pernambucanos, o encerramento do circuito de shows no Recife é o momento mais aguardado do roteiro, iniciado em outubro, em Salvador (BA), com patrocínio dos Correios. “Apesar do que o título do espetáculo sugere, não se trata de uma disputa, mas, sim, de um diálogo entre os dois instrumentos”, explica o rabequeiro.

Além de composições autorais (algumas feitas em parceria, durante a turnê, como a inédita Devaste), a dupla resgata clássicos de Vivaldi, Bach e Heitor Villa-Lobos. Ritmos de matriz africana também entram em cena, representados pelo ilú (tambor afro-brasileiro), em canções como Mãe do mar, referência ao candomblé. A introdução de A primavera das quatro estações, de Vivaldi, ao som da rabeca tem sido um dos momentos mais aclamados do duelo. “Montamos o repertório e os arranjos juntos, englobando todos os gêneros musicais. Com violino e rabeca se pode tocar tudo, sons do mundo todo”, diz Maciel, membro do clã olindense dos Salustiano.
        
Foto: Leto Carvalho/Divulgação
Foto: Leto Carvalho/Divulgação
DANÇA

A construção, essencialmente armorial (mistura do erudito universal com gêneros populares de origem regional), conta, ainda, com direção artística e participação especial da bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo, uma das fundadoras do Grupo Grial de Dança. "Passamos o recado. Entre o erudito e o popular não existe distância”, declarou a bailarina.

HOMENAGEM

O escritor paraibano Ariano Suassuna é homenageado junto com o jornalista pernambucano Carlos Augusto Percol. Ambos faleceram em 2014. Ariano, por complicações decorrentes de um acidente vascular cerebral. Percol, como era chamado, no acidente de avião que também vitimou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.

ARTE
O cenário é contruído durante a apresentação, pelas mãos do artista visual Toni Braga. Os traços, as cores e o ritmo das intervenções dependem do som dos instrumentos e dos movimentos de Maria Paula.

MÚSICA
Além da rabeca de Maciel Salu e do violino do maestro Israel França, os multi-instrumentistas Rodrigo Samico, Rogê Victor e Emerson Santana participam do espetáculo como músicos convidados.

>> DUAS PERGUNTAS: Maciel Salu
Como despertou o interesse pela música? Consegue se lembrar do momento em que a rabeca passou a fazer parte da sua vida?

Meu interesse pela música surgiu muito cedo, pela tradição familiar. Comecei a tocar rabeca aos 16 anos. Minha faculdade de música é o maracatu, o coco, o cavalo marinho. Tenho, ainda, outras referências, que busquei mais tarde, como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Sou influenciado também pela música cubana, pelas batidas africanas. Como músico, procuro sempre ouvir tudo.

Como avalia o resultado desse projeto? Como o público tem recebido o espetáculo?

Todas as apresentações foram incríveis. Muitas pessoas se emocionaram. Agora, teremos a grande emoção de tocar em casa, para um público que já conhece o nosso trabalho. O meu, o do maestro, o da bailarina, o dos outros músicos. Além das músicas clássicas internacionais e regionais, temos apresentado canções autorais e tido uma excelente resposta do público.

SERVIÇO
O duelo da rabeca com o violino: uma peleja de amor à música

Quando: Terça-feira, 1º de dezembro, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n - Santo Antônio)
Entrada gratuita
Informações: 3355-3323
    

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