Música Quinteto Violado comanda festa do Diario de Pernambuco e explica gênero free nordestino Grupo formado na década de 1970, em Pernambuco, é conhecido pelos arranjos agregados a ritmos nordestinos como maracatu, baião e frevo

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/11/2015 07:30 Atualizado em: 16/11/2015 19:06

Marcelo Melo é o único remanescente da formação original. Foto: José Marcos/Divulgação
Marcelo Melo é o único remanescente da formação original. Foto: José Marcos/Divulgação


Em abril de 1972, já conhecido no circuito de shows da capital pernambucana e em alguns estados do Sul e Sudeste do país, o Quinteto Violado se preparava para gravar primeiro disco da carreira, lançado naquele ano. “Os shows são resultado de trabalho de pesquisa em torno de temas populares do Nordeste. Estes chegam ao público por arranjos modernos a cargo dos integrantes do Quinteto: Marcelo Melo, Fernando Filizola, Toinho Alves, Luciano e Ivanildo”, descrevia, então, a primeira nota veiculada no Diario de Pernambuco sobre o projeto liderado por Marcelo e Toinho, em fevereiro de 1972. Desde então, o grupo acumula - além de 39 discos e quatro DVDs lançados - registros nas páginas de cultura, opinião e suplementos sociais do Diario. Nesta terça-feira (17) à noite, a relação entre os músicos e o periódico ganha novo capítulo, quando o Quinteto comanda, no Teatro de Santa Isabel, festa em homenagem aos 190 anos do jornal. A noite, segundo os integrantes do conjunto, promete ser de retrospectiva e valorização dos ritmos regionais.

“Nosso estilo musical é o que [Gilberto] Gil descreveu para Caetano [Veloso] como free nordestino, na época em que o amigo voltava do exílio e apurava novidades da cena nacional”, conta Marcelo Melo, violonista e único remanescente da formação original. Maracatu, frevo, baião, forró e caboclinho emprestam elementos aos arranjos criados pelo Quinteto, cujo início de trajetória foi inspirado na obra de Luiz Gonzaga. Adoniran Barbosa, Jackson do Pandeiro, Geraldo Vandré e Dominguinhos (tema do álbum mais recente, Quinteto Violado Canta Dominguinhos, lançado neste ano) também ganharam homenagens ao longo dos 44 anos de estrada do grupo, criado em reunião informal nos bastidores da TV Universitária, em 1971. Marcelo, recém-chegado da Europa, onde estudava agronomia, marcara encontro com Toinho Alves e outros colegas da emissora, a fim de narrar, entre outros feitos, a participação no disco de Geraldo Vandré, gravado no Velho Continente. Decidiram, por fim, criar um conjunto dedicado a pesquisar e promover a cultura popular nordestina, através de produções musicais - especialmente releituras, marcadas pelos arranjos extraídos de ritmos estrangeiros, como o jazz.

Das últimas quatro décadas, o conjunto (hoje formado por Marcelo Melo, Dudu Alves, Roberto Medeiros, Ciano Alves e Sandro Lins) traz bagagem que, no próximo ano, deve ser transformada no disco Quinteto Violado: o free nordestino, com proposta de destrinchar a antiga análise de Gil sobre o grupo. “Não somos uma banda de forró, de frevo, de baião. Somos free nordestino, e tudo está contido nisso.” A mistura, bem sucedida - são mais de vinte prêmios, entre quatro Prêmios da Música Brasileira e uma indicação ao Grammy Latino - dará o tom da festa desta noite.

Show em homenagem a Dominguinhos pauta turnê atual do grupo. Foto: Flickr/Quinteto Violado/Divulgação
Show em homenagem a Dominguinhos pauta turnê atual do grupo. Foto: Flickr/Quinteto Violado/Divulgação


>> ENTREVISTA: Marcelo Melo, violonista do Quinteto Violado

Qual álbum estão divulgando no momento? Algum projeto imediato? Em linhas gerais, como define essa fase?

Estamos viajando com nosso último álbum, Quinteto canta Dominguinhos. É de uma série, que incluiu Jackson do Pandeiro, Gonzagão, Vandré. Estamos com essa turnê, viajando pelo Brasil com esse trabalho. Essa é nossa fase atual. E já estamos pensando nos trabalhos para o carnaval. Temos algumas coisas sendo definidas, mas estamos analisando a possibilidade de uma presença importante, uma surpresa que vamos fazer…

Trata-se de um convidado especial? Poderia antecipar algo? E quanto aos shows do carnaval?

Isso, é um grupo convidado que estamos tentando trazer. Mas ainda não está fechado. Sobre os shows, sempre montamos repertórios novos, com arranjos diferenciados, para trazer dados novos ao frevo, ao maracatu, ao caboclinho, aos elementos que se relacionam com o carnaval.

Há muitos registros, nos arquivos do Diario, inclusive, sobre a trajetória da banda ter conquistado força nos eixos Sul e Sudeste do país, antes de regressarem a Pernambuco (onde começaram) já mais conhecidos. Como vê essa trajetória?
As atividades do Quinteto sempre foram voltadas a valorizar e agregar elementos novos à música nordestina. Encontramos na obra de Gonzaga o caminho para desenvolver a sonoridade do Quinteto. Na época que começamos, trabalhávamos os temas dos folguedos populares - maracatu, caboclinho, etc. - e os grandes cancioneiros. Gonzaga foi a maior referência, ele mesmo disse que o arranjo mais bonito de Asa Branca foi do Quinteto. Fomos bastante ao Sul e Sudeste do país porque as gravadoras estavam lá. A nossa era o selo Philips, com o qual passamos mais de dez anos. Montávamos espetáculos e viajávamos com eles. Foi em 1974, com o disco A Feira, que nós trouxemos Elba Ramalho pela primeira vez a um palco. E ela hoje é uma grande estrela.

Se recorda de outros nomes que o Quinteto ajudou a revelar?
Sim. A Patrícia França, atriz pernambucana, também ajudamos a revelar. Levamos para show no Rio de Janeiro a Banda de Pífano de Caruaru. Fizemos trabalhos junto a músicos locais, a brincantes dos folguedos pernambucanos, como Mestre Salu, Zé Marcolino, compositor e parceiro de Gonzaga. São pessoas que também ganharam a estrada com a gente. Dominguinhos viajou conosco, tocou conosco em vários shows.

Foto: Arquivo DP
Foto: Arquivo DP
Nos anos 1970, quando deram início às pesquisas na música nordestina, havia outros grupos com atividade semelhante? Ou se consideram pioneiros?

Existiam alguns pesquisadores, mas o Quinteto foi pioneiro em lançar álbuns a partir desses estudos. Registrávamos a sonoridade autêntica da região e fazíamos um tratamento para demonstrar como aquilo ficaria melhor com os arranjos do Quinteto, arranjos resgatados de ritmos estrangeiros, inclusive. Nos anos seguintes, surgiu o Movimento Armorial, liderado por Ariano Suassuna, que reunia músicos de orquestras e do Conservatório Pernambucano. O Quinteto fazia esse tipo de pesquisa e releitura de forma mais popular. Saíamos pelo Brasil mostrando essa cultura. Influenciamos grupos como o Som da Terra, a Banda de Pau e Corda, o Grupo Candeias (Piauí), o Grupo Raízes (Minas Gerais), entre outros.Muitos seguiam os passos que o Quinteto estava traçando. Caetano, voltando do exílio, perguntou a Gil o que ele encontrara de novo na cena nacional. Gil disse que encontrara um grupo de música nordestina e Caetano perguntou qual o gênero. Ele disse ‘free nordestino.’ Foi uma denominação interessante. Carregamos até hoje.

E como soube disso? Algum deles lhe contou pessoalmente? Como você, Marcelo, definiria o free nordestino?
Sim. Recentemente, inclusive, estive com Gil e ele reforçou essa mesma ideia. O free nordestino tem por objetivo trazer influências da música do mundo para a música regional. Elementos do jazz, de outros movimentos musicais, da música internacional. Tivemos contato com a música da Siria, da Coreia do Sul, de países da Europa, e trouxemos isso para a cultura nordestina.

E para o futuro, algum projeto engatado?

No ano que vem, completamos 45 anos. Em outubro. Devemos lançar Quinteto Violado: o free nordestino. A ideia é exatamente tornar clara essa proposta e essa análise que Gil fez sobre nosso grupo. Não somos um grupo de forró, de frevo, de baião. Somos free nordestino, e tudo está contido nisso.

Qual a média de shows por mês?

Quando estamos com projeto novo, fazemos de oito a dez shows por mês. Quando não, fazemos quatro. Não nos tornamos um produto comercial. Nós fomos indicados oito vezes ao Prêmio da Música Brasileira, ganhamos quatro. No ano passado, fomos a Las Vegas como indicados do Grammy Latino. Temos o reconhecimento do nosso trabalho e continuamos com a mesma proposta do inicio, fazer o free nordestino.

E para o repertório da comemoração dos 190 anos do Diario, o que prepararam?

Nós vamos mostrar uma panorâmica da nossa carreira, dos mais de 40 anos de história da banda. Momentos e ritmos diferentes, um repertorio bem alegre e comunicativo.

E em relação às pesquisas teóricas sobre a música nordestina e sobre as batidas estrangeiras, acrescentadas como arranjos, como têm sido feitos esses estudos? Vocês viajam para buscar influências, tendências? Como funciona atualmete?
As pesquisas do Quinteto são constantes. São da construção do grupo, os arranjos são sempre coletivos, todos trazem contribuição e é isso que faz nossa originalidade. São os mesmos músicos, com a mesma proposta, as mesmas ideias. Com o tempo, só vamos afinando. Toinho Alves, que fundou o quinteto comigo, e partiu há alguns anos, era genial na coordenação das ideias dos arranjos musicais. Ele passou essa característica aos outros membros do grupo. As pesquisas são contínuas, desde a formação da banda.

No Diario, registros dos primeiros passos do Quinteto Violado. Fotos: Arquivo DP
No Diario, registros dos primeiros passos do Quinteto Violado. Fotos: Arquivo DP



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