Lançamento Poesia visual assume novas formas no rastro de perfis consagrados, como Pó de lua e Eu me chamo Antônio

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 08/11/2015 13:07 Atualizado em: 08/11/2015 14:36

Foto: Fábrica231/divulgação
Foto: Fábrica231/divulgação

Há 50 anos, o escritor carioca Carlos Torres Pastorino lançava um dos maiores best sellers de autoajuda do Brasil, Minutos de sabedoria, até hoje encontrado nas livrarias. Com mais de 9 milhões de exemplares vendidos, o livreto se propõe a disseminar, a cada página, uma curta mensagem de otimismo, consolo, amor, compreensão. Na era da informação, surgem produtos semelhantes, capazes de reaproveitar a essência de outrora, mas incutir características para atrair leitores da geração web 2.0. Embora compartilhem o mesmo espaço, jovens se destacam na internet com vieses distintos: poesia visual, caligrafia, desenhos.

O passo natural para os “instagrammers” é aproveitar a popularidade e publicar livros físicos, como é o caso do carioca Pedro Henrique Cordeiro, de 26 anos. Ele lança a versão em papel de Um cartão (Fábrica 231, 192 páginas, R$ 24,90) neste domingo, às 16h, na Livraria Saraiva do Shopping Recife. Na segunda-feira, participa de outra sessão de autógrafos e integra exposição de algumas de suas criações na galeria Urban Arts, cujas paredes também vão mostrar obras de Pedro Gabriel Anhorn, Lucas Brandão, Fábio Piero e Alexandre Novello.

Uma das primeiras a migrar do universo online para o mercado editorial foi a pernambucana Clarice Freire, cujo projeto Pó de Lua arrebanha mais de 1,5 milhão de seguidores. Hoje, ela prepara um segundo livro e tem aproveitado a repercussão para firmar parcerias com a iniciativa privada. “Esse grupo é formado por um pessoal muito talentoso, cada um com estilo completamente diferente. Nós não somos necessariamente semelhantes por estarmos na internet”, reivindica. Para Clarice, o projeto Um cartão é visualmente interessante, com “pegada” voltada para o design e linguagem muito própria do Instagram.

As páginas do livro de Pedro Henrique Cordeiro são destacáveis, e podem ser guardadas separadamente ou presenteadas. “Acredito que essa é a maior verdade que eu tento passar todos os dias: se dividir faz bem um bem danado e assim você pode se tornar muitos sendo apenas um. É a essência que o livro traz ao permitir que o leitor destaque os cartões ou guarde como livro. Vai de cada um, de cada momento, de cada frase. Se dividir é o segredo”, filosofa.
 
Nova geração
Nomes de novos poetas com trabalhos em evidência nas redes

“Não é poesia. Não é declaração. Não é arte. Eu sou só um coração em um pedaço de papel”. Assim Pedro gosta de definir o próprio trabalho, que está mais distante da literatura e mais próximo de cartões de felicitações. Com pouquíssimas palavras, o autor transforma ideias (nem sempre tão originais) em postagens. Agora, elas estarão nas páginas de um livro, todas destacáveis.
Pedro Henrique Cordeiro (@umcartao)

Para a já veterana Clarice Freire, do projeto Pó de Lua, Lucão é “um poeta extremamente sensível que encontrou uma forma simples de se expressar visualmente”. Como não atua com artes plásticas ou visuais, o instagrammer tem os próprios textos ilustrados por outros artistas. “É de um lirismo, delicadeza e humor sutil que me agrada muito”, comenta Clarice.
Lucas Brandão, o Lucão (@blogdolucao)

Artista visual e calígrafo por excelência, o Maca é conhecido pela habilidade de desenhar letras de maneira incomparável. “É, sem dúvida, um dos maiores calígrafos do Brasil. Viaja o país inteiro só para fazer tatuagens nas pessoas. Mesmo que uma palavra não tenha tanto significado, como ‘nuvem’, por exemplo, se for escrita por ele, vira obra de arte”, opina a criadora do projeto Pó de Lua.
Fábio Piero, o Maca (@fabiomaca)

“Gentileza urbana feita com frases que saíram do papel e garrafas que não foram para o lixo”. Esta é a definição do perfil de Alexandre no Instagram. Na conta, ele publica imagens de garrafas reaproveitadas para decoração, com trechos de poesias e outros textos. São garrafas de todos os tamanhos, cores e formatos. A paisagem de fundo e as flores dentro das garrafas também variam.
Alexandre Novello (@letrasgarrafais)

"Nós não somos necessariamente semelhantes por estarmos na internet", diz Clarice Freire, do Pó de Lua. Crédito: Leo Aversa
"Nós não somos necessariamente semelhantes por estarmos na internet", diz Clarice Freire, do Pó de Lua. Crédito: Leo Aversa


Serviço

Lançamento de Um cartão e bate-papo com Pedro Henrique
Editora: Fábrica 231/Rocco
Páginas: 192
Preço: R$ 24,90
Quando: domingo, às 16h
Onde: Livraria Saraiva do Shopping Recife
Informações: 3464-9393

Exposição coletiva Poesia & caligrafia, com obras de Pedro Gabriel Anhorn, Lucas Brandão, Fábio Piero e Alexandre Novello.
Quando: segunda-feira, às 17h
Onde: galeria Urban Arts (Rua da Hora, 647 – Espinheiro)
Informações: 3032-0034
 
Entrevista >> Pedro Henrique, instagrammer
Você diz que seu trabalho não se trata de poesia, declaração ou arte. Qual a melhor definição para o que você faz? Como tudo começou?
Tudo começou com uma vontade gigante de escrever o que não cabia mais no meu coração. Não é poesia ou arte, são só sentimentos cotidianos.

Como é seu processo de criação?
Os cartões me chegam pelo dia a dia, pelas músicas, pelos filmes, pelos diálogos, pelas relações. Não têm mistério: eles me chegam pela vida e pela certeza de que tudo pode ficar mais bonito. Basta a gente querer.

Quais inspirações/diálogos/referências estão presentes na obra? Você se sente próximo do que é feito por instagrammers de perfil semelhante?
Eu me sinto bem com tudo o que me aproxima das coisas bonitas do sentir. As referências são muitas e fico feliz ao perceber que elas são capazes de tocar o meu coração. Fico muito feliz em poder estar junto de tanta gente boa. É uma galera do bem que resolveu espalhar isso nas redes sociais. É um movimento forte.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL