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Arte Pernambucana de nove anos cria e leiloa quadros para ajudar refugiados Sophia Maia expõe 45 desenhos na Galeria Suassuna, no Recife, em dezembro

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 25/11/2015 10:50 Atualizado em: 25/11/2015 12:43

Sophia se sensibilizou com o drama das crianças refugiadas. Fotos: Rafael Martins/DP/DA Press
Sophia se sensibilizou com o drama das crianças refugiadas. Fotos: Rafael Martins/DP/DA Press


Quando a pernambucana Sophia Maia nasceu, o Movimento Armorial existia há mais de trinta anos. Apesar da distância no tempo, traços assinados por ela, hoje, fazem lembrar as xilogravuras dos cordéis, com títulos que remetem a versos do cancioneiro popular nordestino. Se questionada sobre as próprias referências, porém, a garota cita clássicos como Vincent van Gogh e Frida Kahlo, além do emblemático artista de rua britânico Banksy. À exceção deste, Sophia não tem contemporâneos na lista de inspirações. Também, pudera: tem apenas nove anos de idade. Mas se associa - sem saber - ao ídolo Banksy, ao endossar corrente de artistas cuja renda tem sido destinada aos refugiados sírios em todo o mundo.

Enquanto o britânico doa objetos do sombrio parque Dismaland (sátira à Disneyland norte-americana, instalado por Banksy no Reino Unido) a 4 mil refugiados que vivem no Norte da França, a pernambucana planeja reverter os lucros de sua primeira exposição aos refugiados no Brasil. Sophia reúne 45 desenhos na Galeria Suassuna, na Zona Norte do Recife, nos dias 12 e 13 de dezembro, com o tema Imaginário. Senhora Aysha de coração partido, Calid é dono de circo e Youseff é barbeiro estão entre as obras com clara referência ao drama sírio, unidas na mostra a elementos do universo pop, como All you need is love (homenagem aos Beatles) e A vida é como uma caixa de bombons (referência ao filme Forrest Gump: o contador de histórias). Alguns têm dedicatória afetiva - como “Para meu amigo Seu Antônio, lá da venda” - e outros, versões de obras primas, como O rinoceronte de Dürer.

A ideia, executada em papéis Kraft com canetas de tinta acrílica, surgiu no tempo livre da garota, que cursa o 4º ano do Ensino Fundamental. “Vi cenas terríveis de refugiados chegando à Grécia. Aquilo me deixou triste, com raiva, mas também motivada. Comecei a pensar no que poderia fazer para ajudá-los”, conta Sophia, que logo se lembrou da habilidade com os desenhos, cultivada desde os três anos de idade. Decidiu, então, vendê-los. Cada quadro exposto vai custar entre R$ 150 e R$ 200, e a soma será entregue por Sophia à ONG Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado - Brasil), com sede em São Paulo.

“Mal posso esperar para entregar a doação e, quem sabe, conhecer crianças sírias como as que me inspiraram”, diz Fifi, como é chamada. Sensível às questões humanitárias, a menina planeja, ainda, ministrar cursos de desenho para crianças carentes do Recife - “Minha mãe nem sabia dessa, viu?”, brinca. Títulos como O diário de Anne Frank, O menino do pijama listrado e A mala de Hana estão entre os livros preferidos dela, todos lidos neste ano. E, segundo a mãe, a designer Lu Maia, embasaram a consciência política e social aparentemente precoce de Sophia, fã de arte, livrarias, sorvete e Amélie Poulain. 

>> SÍRIA

Em guerra civil desde 2011, a Síria é uma república árabe localizada na Ásia Ocidental. Com a invasão do Estado Islâmico em algumas cidades do país, milhares de sírios deixam a região todos os dias, migrando em direção a diferentes países do mundo, especialmente na Europa. É um dos dramas humanos que mobiliza artistas atualmente, além de crises ambientais como o desastre brasileiro de Mariana, em Minas Gerais, para o qual Pearl Jam reverteu cachê de show realizado em Belo Horizonte.

>> OUTROS ARTISTAS

Newsha Tavakolian

A fotógrafa iraniana doou parte de prêmio oferecido pela Prince Claus Laureate a instituições de caridade dedicadas aos refugiados sírios e iraquianos. Na ocasião, declarou que era uma retribuição à acolhida das pessoas na Síria e no Iraque, que a receberam enquanto vivia sob circunstâncias difíceis, em anos anteriores à premiação.

Ai Weiwei
O artista chinês enviou membros de seu estúdio para visitar campos de refugiados no Iraque, onde pretende criar, com apoio da Fundação Ruya, uma oficina permanente para mais de 20 mil refugiados. Ai Weiwei também se uniu ao artista Anish Kapoor para caminhada em Londres, em setembro, em marcha de solidariedade aos refugiados. Eles pretendem repetir a ação em mais de 100 cidades do mundo.

Olafur Eliasson

Em Berlim, propôs que o mercado de arte absorvesse refugiados necessitados de emprego e declarou que planeja a criação de vagas em seu estúdio. “Conexões no mundo da arte, que colocam os artistas em contato com pessoas influentes”, mencionou em entrevistas.

Benedict Cumberbatch

O ator gravou vídeo, sem cobrança de cachê, para levantar fundos para os refugiados da Síria. A música Help is coming, do Crowded House, foi usada como trilha sonora da ação, idealizada por casal de jornalistas. A  verba arrecadada foi destinada à ONG Save the Children, dedicada a refugiados.

Concerto
Jorge Palma, Camané e Dead Como estavam entre os artistas reunidos, em setembro, em concerto realizado em Lisboa, Portugal, cuja renda foi revertida para os refugiados. O evento foi batizado de Lisboa Acolhe.

>> APLICATIVO
Através do Programa Mundial de Alimentos, a Organização das Nações Unidas lançou o aplicativo Share the meal (compartilhe a refeição). A ideia é receber doações para a compra de comida para crianças refugiadas da Síria. Segundo a ONU, o custo para alimentar uma criança por dia é equivalente a R$ 2. As contribuições são coletadas em smartphones com sistemas iOS e Android e o processo dura cerca de meio minuto.

Além dos refugiados sírios, Sophia se inspira no próprio repertório de filmes e músicas, dos Beatles a Forrest Gump. Foto: Rafael Martins/DP/DA Press
Além dos refugiados sírios, Sophia se inspira no próprio repertório de filmes e músicas, dos Beatles a Forrest Gump. Foto: Rafael Martins/DP/DA Press


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