Medo é construído aos poucos na história ambientada em uma casa. Foto: Universal/ Divulgação

 
Entre 1999 e 2014, M. Night Shyamalan demonstrou que poderia vir a ser um novo mestre do suspense graças ao impacto provocado pelos filmes O sexto sentido, Sinais e A vila. Eram obras que ofereciam novas formas de abordar temas clássicos do horror (fantasmas, alienígenas e monstros da floresta), dirigidas com um ritmo cirúrgico que fazia as plateias prenderem a respiração enquanto esperavam levar grandes sustos no momento perfeito. Nos anos seguintes, entretanto, o interesse pelo diretor só fez decair à medida em que ele distanciava-se cada vez mais dos recursos que o consagraram. Com A visita, em cartaz nos cinemas, ele finalmente parece querer recuperar o prestígio perdido.

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O cineasta não chega a surpreender, mas volta ao suspense com a precisão que o consagrou. Ao explorar a questão da psicose, também retoma a ideia de retrabalhar temáticas consagradas do gênero com novas abordagens. Assim como O sexto sentido e A vila, o novo filme tem também aquele tipo de desfecho com uma reviravolta que faz o público repensar tudo o que viu até então.

Ele também aproveita para dar uma contribuição ao estilo found footage, que está em alta atualmente, ao narrar a trama com imagens filmadas por câmeras teoricamente operadas pelos próprios personagens. Não por coincidência, A visita é produzido pelos estúdios Blumhouse Productions, que lançaram a série Atividade paranormal. Em comparação com diretores mais jovens que adotaram esse método, Shyamalan prova que está em forma e ainda possui talento para provocar medo a partir de recursos mínimos sem precisar de apelações ou efeitos especiais. O truque é mostrar pouco para assustar muito, com um uso esperto do silêncio.

O filme solta as informações intrigantes aos poucos. O ideal é assistir sem saber de nada para permitir que a imaginação torne tudo ainda mais assustador. No início, é possível sentir que há algo macabro no ar, mas não fica claro se são assombrações, possessões do Demônio, uma casa amaldiçoada ou simplesmente intenções criminosas. Tudo é contado sob o ponto de vista de um menino e uma menina que resolvem filmar um documentário sobre o primeiro encontro com o casal de avós que eles nunca conheceram por causa de um segredo guardado pela mãe.

ARQUÉTIPOS DO HORROR NA OBRA DE SHYAMALAN:

Fantasmas
Shyamalan conseguiu renovar o interese do público por filmes de fantasmas com O sexto sentido (1999), que tinha um final revelador, um surpreendente ator mirim e um domínio preciso sobre a construção do medo.

Extraterrestres
O diferencial de Sinais (2002) foi narrar uma história de invasão alienígena sobre a Terra com a ação toda concentrada na casa e na fazenda de uma família, a partir de um ponto de vista íntimo, sem cenas grandiosas de destruições de cidades.

Intraterrestres
No filme A dama da água (2006), o cineasta resgatou o mito de que criaturas inteligentes e evoluídas podem existir não fora da Terra, mas dentro do próprio planeta, nas profundezas subterrâneas.

Monstros da floresta
Lendas sobre misteriosas criaturas assassinas que vivem escondidas em florestas povoam o imagenário de diversas culturas do mundo. A vila (2004) conta esse tipo de história com uma reviravolta final que muda tudo.

Apocalipse
A ideia de que a humanidade pode ser exterminada (ou chegar perto disso) foi desenvolvida no filme Fim dos tempos (2008), em que uma espécie de epidemia global faz as pessoas cometerem suicídios em massa.

Psicose
No novo filme, A visita, um menino e uma menina passam uma semana na fazenda onde vivem os avós. Os casal de idosos, no entanto, demonstra um comportamento estranho e desequilibrado, como se tivesse distúrbios psicológicos.