Carnaval 2016 Carnaval 2016: homenageado do carnaval de 2015 ainda sofre sem sede própria Clube Bola de Ouro continua sem sede, enquanto isso, são anunciados os três homenageados do carnaval 2016: Maestro Forró, Clube Pão Duro e Maracatu Nação Porto Rico

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/11/2015 11:25 Atualizado em: 05/11/2015 17:07

Luiza Ramalho faleceu em agosto passado, sem sede para o Bola. Foto: Bernardo Dantas/DP/DA Press
Luiza Ramalho faleceu em agosto passado, sem sede para o Bola. Foto: Bernardo Dantas/DP/DA Press


Enquanto são anunciados os três homenageados do carnaval do Recife do próximo ano, os contemplados com o tributo em edições anteriores da festa ainda não tiveram pleitos atendidos. O Clube Carnavalesco Misto Bola de Ouro, homenageado em fevereiro passado, continua sem sede própria: esse era o principal pedido da dirigente da agremiação, Luiza Ramalho, que faleceu em agosto passado sem atingir o objetivo.

As fantasias e os estandartes do Bola seguem armazenados nas residências dos carnavalescos do grupo, agora coordenado por Roberval Ramalho, filho de Dona Luiza. “Foi prometida a construção de um espaço, desde o anúncio da homenagem, mas nada foi feito até então”, declarou Rosaly Ramalho, irmã de Roberval.

Enquanto isso, a previsão é de que, no próximo ano, os óculos escuros em formato arredondado, acessórios característicos do Maestro Forró, devem inspirar elementos da cenografia do próximo carnaval recifense, assinada pelo arquiteto Carlos Augusto Lira nos últimos 15 anos - período em que o chapéu do Maestro Spok, as câmeras de Alcir Lacerda, os tambores do percussionista Naná Vasconcelos e as pinturas de José Cláudio enfeitaram os polos da folia no Recife. Isso porque Francisco Amâncio da Silva, o Forró, será um dos homenageados da edição de 2016, junto com o Clube Carnavalesco Misto Pão Duro e o Maracatu Nação Porto Rico, ambos centenários no próximo ano.

“Me acho muito jovem”, declarou o Maestro, cuja carreira, iniciada no fim da década de 1980, corresponde, em tempo, a menos da metade da trajetória dos dois outros homenageados. Para ele, as pesquisas acadêmicas em torno da cultura local, a popularização de elementos eruditos da música e o trabalho junto à Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (de 2002), seriam os principais motivos da homenagem. Desde os anos 1990, ele estima que percorreu 30 países com nomes da música pernambucana, como a banda Mundo Livre S/A, DJ Dolores e o Maracatu Nação Pernambuco. “Tenho trabalhado na formação, profissionalização e divulgação da nossa cultura popular, no estado e fora dele. É a minha contribuição”, define.

Não é a primeira vez que a prefeitura adota como estratégia o intercâmbio de gerações entre os homenageados, já que, em fevereiro, o centenário Clube Carnavalesco Misto Bola de Ouro e o Maestro Spok, com duas décadas de carreira, foram os escolhidos. O Pão Duro e o Nação Porto Rico - o primeiro criado a partir de brincadeira de amigos com um pão velho, e o segundo, de festejos a Ogum - devem desfilar as cores verde e vermelha, símbolos dos dois, e pleitear mais reconhecimento. “Nunca recebi uma homenagem assim”, disparou José Levino Xavier, presidente do Pão Duro.

Os três homenageados do carnaval 2016 foram anunciados nesta quarta-feira (04). Foto: Andrea Reg Barros/Divulgação
Os três homenageados do carnaval 2016 foram anunciados nesta quarta-feira (04). Foto: Andrea Reg Barros/Divulgação

“Devemos tudo à nossa resistência. Minha mãe acreditou muito no trabalho e na família que é o maracatu”, disse Chacon Viana, mestre e presidente do Nação Porto Rico. A história da mãe, a Ialorixá Elda Viana, a Mãe Elda, lembra a de Luiza Ramalho, ex-presidente do Clube Carnavalesco Bola de Ouro, homenageado de 2015. Dona Luiza, que desde o anúncio do tributo pleiteava a construção de uma sede para o clube, faleceu em agosto passado sem ver o sonho realizado.

>> HOMENAGEADOS RECENTES

2015

Clube Carnavalesco Misto Bola de Ouro e Maestro Spok
Spok continua a fazer shows nas festas pernambucanas e, em outubro, liberou na internet o disco Frevo sanfonado, dando sequência às experimentações com o ritmo pernambucano. O Bola de Ouro continua sem sede fixa e, após a morte da presidente Luiza Ramalho, é coordenado por Roberval Ramalho.

2014
Frevo, personificado na figura de Antônio Nóbrega
Após três anos sem se apresentar na folia pernambucana, Nóbrega voltou à cena em 2014, como homenageado. O frevo, patrimônio imaterial da humanidade, foi tema da festa. Um dos pleitos mais populares, à época, era a inclusão do ritmo na programação fixa das rádios e festas locais. Nada foi feito a respeito.

2013
O fotógrafo Alcir Lacerda e o músico Naná Vasconcelos foram homenageados. Alcir, falecido em 2012, era especialista em fotografia publicitária, imagens aéreas e fotografias experimentais, especialmente com lente olho de peixe. Naná segue como figura tradicional no cortejo de maracatus que abre o carnaval recifense no Marco Zero.

Maestro Forró considera breve a trajetória, se comparada à dos outros homenageados. Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação
Maestro Forró considera breve a trajetória, se comparada à dos outros homenageados. Foto: Andrea Rego Barros/Divulgação


>> TRÊS PERGUNTAS: Maestro Forró
Qual a reação ao anúncio da homenagem?

Foi uma surpresa boa, é um sentimento de agradecimento pelo reconhecimento ao nosso trabalho e também de responsabilidade, de representar a cultura do Recife, uma cidade tão rica em folclore. Estou muito feliz. Fiquei emocionado de estar ao lado do Clube e do Maracatu, duas agremiações centenárias.

A que credita o tributo?
Acredito que se deva à pesquisa, manutenção, releitura e interação da cultura das nossas expressões culturais, não somente do frevo. A melhor parte é a interação. Abordamos o frevo e todas as expressões musicais, misturamos as referências. Queremos nos comunicar com qualquer faixa etária. Deve-se, em grande parte, ao trabalho com a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, mas também a outros fatores como a perserverança, superação.

Como vê as homenagens do carnaval em relação à visibilidade na carreira?

É uma interação de gerações. São dois grupos centenários ao meu lado. A homenagem incentiva a continuação da nossa batalha, das nossas pesquisas. A homenagem é uma oportunidade de ampliar e aprofundar as pautas. Mas, no momento, meus principais sentimentos são agradecimento e responsabilidade. É uma grande responsa.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL