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Música "Foi importante fazer essa pausa", diz Arnaldo Antunes, com disco novo após período sabático Lançado neste mês, "Já é" reúne composições feitas em vários pontos do globo, da Índia a Nova York, e o lançamento coincide com o de outros nomes da MPB; confira lista

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/10/2015 11:20 Atualizado em: 18/10/2015 12:20

Confinado com a esposa em apartamento em Nova York, ou em meditação na Índia, Arnaldo Antunes compôs 25 faixas. Foto: Divulgação
Confinado com a esposa em apartamento em Nova York, ou em meditação na Índia, Arnaldo Antunes compôs 25 faixas. Foto: Divulgação

Como fontes de inspiração, a Índia e Nova York podem ser equivalentes, apesar das famas opostas - tranquilidade de um lado, ritmo frenético do outro. Após seis meses entre aeroportos internacionais, Arnaldo Antunes classifica esses dois pontos no globo como os mais marcantes do período sabático que lhe rendeu novo disco, Já é (Sony Music, R$ 24,90), lançado neste mês. No primeiro cenário, aderiu à meditação e apropriou-se dos mantras orientais para faixas como Aqui onde está. No segundo, aproveitou as temperaturas negativas para se confinar no apartamento alugado, ao lado da esposa, Márcia, com quem compõe há alguns anos - no álbum anterior, Disco, eles assinam juntos Azul vazio. Do litoral brasileiro aos sítios históricos europeus, o roteiro do casal tinha como único objetivo a composição de inéditas que fossem fruto do que Arnaldo chama “pausa para a contemplação.”

O “baú da hora fértil”, como o colega Carlinhos Brown o ensinou a chamar as composições arquivadas de reserva para futuros discos ou encomendas de colegas, estava apinhado - mas não atendia ao propósito. “Percebi que sempre componho muito em períodos de férias. É quando faço músicas por fazer, não por ter uma encomenda, um prazo. Quis viajar, mudar o meu olhar”, explica o intérprete, que estava em ritmo intenso de produção nos últimos anos: lançou quatro discos entre 2009 e 2013. “Precisava de uma pausa.” Voltou para casa com 25 novas canções - 15 estão no disco e as outras dez fomentaram o baú - além de poemas que reuniu em Agora aqui ninguém precisa de si (Companhia das Letras, R$ 34,90). A produção literária, como há anos, corre em paralelo à musical.

Produzido por Kassin - essa é a primeira vez que trabalham juntos - o álbum Já é resgata parcerias antigas e revela novas, da carioca Marisa Monte ao pernambucano Ortton. Vai do pop com influência do baião - em Põe fé que já é, a primeira faixa - aos mantras indianos, em Aqui onde está, último título do álbum. “Percebi que as canções tinham um diálogo entre si. É um disco que fala de uma certa serenidade, uma contemplação, uma atenção ao instante”, diz Arnaldo Antunes - que, após a passagem pela Índia, quer usar o disco para encorajar a todos uma pausa.

>> ENTREVISTA: Arnaldo Antunes

Como surgiu a decisão de tirar um período sabático? A ideia, desde o início, era se inspirar para produzir músicas e criar novo álbum? Ou pretendia descansar?
Eu nunca tinha feito isso, tirar cinco, seis meses de férias. Lancei vários discos seguidos nos últimos anos, então, vinha sentindo a necessidade de dar uma parada e me renovar. Ao mesmo tempo, percebi que sempre componho muito em períodos de férias. É quando faço músicas por fazer, não por ter uma encomenda, prazos. Quis viajar, mudar o meu olhar. Tinha um disco de inéditas para ser gravado, já estava programado. Então decidi aproveitar para compor. Reservei seis meses. Tirei férias em dezembro e voltei no fim de maio.

E após a volta, como o disco foi produzido e gravado?

Gravei o disco entre junho e julho. Voltei com umas 25 músicas. Entre elas, escolhi o setlist desse disco. Sempre tenho material que fica inédito. Meu “baú da hora fértil”, que é uma expressão usada pelo Carlinhos Brown. São melodias, letras. Não necessariamente se transformam num disco, mas posso ceder a outros músicos. Às vezes, me fazem encomendas, então procuro no meu repertório o que se adequa àquela pessoa. No caso do novo disco, eu teria repertório de arquivo, de reserva, suficiente para completar um álbum. Mas queria gravar um disco de inéditas novas, produções recentes.

O disco incentiva a contemplação, segundo o músico. Foto: Divulgação
O disco incentiva a contemplação, segundo o músico. Foto: Divulgação
Por quais lugares passou durante as viagens? Havia um roteiro planejado ou os destinos eram escolhidos ao longo do caminho?

O roteiro foi decidido aos poucos. Eu passava cerca de 20 dias em determinado lugar, depois voltava a São Paulo. Eu e Márcia, minha companheira, que acabou fazendo algumas músicas junto comigo, algumas inclusas no disco.

Pensa em, futuramente, passar em Pernambuco para recolher influências?
O Nordeste é sempre muito inspirador. Gosto muito de viajar para o Recife, para Salvador, para Fortaleza. É uma fonte de inspiração constante. Estreamos o show neste fim de semana em São Paulo, mas até o fim deste ano devemos passar pela capital pernambucana, sim.

Sobre esses primeiros shows, em São Paulo, como foi a recepção da plateia? E como foi, para você, vivenciar o resultado, o lançamento, a primeira consumação do projeto?
No repertório desses primeiros shows, toquei sete músicas do novo disco. Intercalei os lançamentos com canções mais antigas, como Ela é tarja preta e Invejoso. E também Porrada, dos Titãs. A reação do público foi ótima. Conseguimos um contraponto entre músicas novas e algumas mais antigas.

Esse repertório é fixo ou pode ser mudado?
É um repertório fixo da turnê, mas pode ser mudado eventualmente.

O livro de poemas Agora aqui ninguém precisa de si, que você assina, também é fruto dessa temporada. Seriam letras que não foram aproveitadas no disco? Ou são temas distintos?
Desde o início da carreira, tenho essa produção paralela. Trabalho também com artes visuais, mas que não deixam de ser, para mim, poesias visuais. Essas produções podem dialogar eventualmente. Uma letra de música pode se tornar um poema. Essas obras estão em trânsito constante. Elas mexem com a palavra, existe um território comum, que possibilita um diálogo entre as produções. Mas são produções paralelas, voltadas para públicos diferentes. O público da música popular ainda é muito maior do que o público leitor de poesia, por exemplo. São poemas de outras vias.

As parcerias, como foram escolhidas? São reflexos da sua trajetória musical?
A maioria já havia feito parceria comigo. Ortton, que assinava como Orttinho, foi meu parceiro em A casa é sua, entre outras. Orttinho deve gravar outras no disco dele. Parceiros antigos também entraram no novo disco, como Marisa [Monte]. Eu e Márcia, minha esposa, já estamos juntos há cerca de 12 anos, ela é artista plástica, mas começamos a compor juntos. No disco passado tem Azul vazio. Naturalmente e Partitura são anteriores ao periodo sabático.

A princípio, você planejava o lançamento de um EP. O que o fez mudar de ideia e investir no disco com mais faixas?
Pensei em fazer um EP para experimentar outro formato. Pensei em lançar as faixas isoladamente, inclusive, como os compactos de antigamente. Uma pessoa diferente produziria cada faixa. Mas isso foi antes de viajar. Depois, percebi que as canções tinham um diálogo entre si, tinham um corpo, rendiam um disco.

E qual seria esse diálogo, qual o corpo, a mensagem de Já é? Para você, particularmente, que mensagem passam, em conjunto? Contam alguma história?
É um disco que fala de uma certa serenidade, uma contemplação, uma atenção ao instante. Dialoga também com o titulo do livro de poemas [Agora aqui ninguém precisa de si]. Várias mensagens tem a ver com isso. As músicas passam essa mensagem. Tem a ver especialmente com a minha viagem à Índia. Tem a ver com esse outro olhar cultural, religioso, pessoal.

A Índia seria, então, o lugar mais marcante dessa fase sabática?
Foi o lugar que mais me marcou no roteiro, sim. Passei cerca de 20 dias lá. Foi renovador. A atmosfera espiritual, algumas palestras que vimos, a meditação, tudo isso trouxe um ar diferente. Tem relação direta com o mantra de Aqui onde está. Mas o período em Nova York também foi muito produttivo. Eu ficava dentro do apartamento, compondo. Estava muito frio. Eu passava bastante tempo isolado, confinado, compondo.

Como avalia, ao lançar o 16º disco, o atual momento da carreira?
Vou fazendo as coisas conforme a minha ansiedade de expressão me leva. Foi importante dar essa parada, fazer essa pausa. E depois gravar o disco de forma diferente, com produtor novo, músicos novos, gravar em novas cidades. No mais, é a própria experiência, vamos tentando nos renovar e fazer as coisas de modo cada vez mais maduro, cada vez melhor.

Quais os próximos planos? Há planos paralelos à divulgação do disco?

A excursão do show, que demos start nos últimos dias, nos shows em São Paulo. A turnê segue até o fim do ano que vem. Vou me dedicar a isso agora, a percorrer o Brasil nesse período.

Se pudesse escolher ou recomendar, quem você gostaria que ouvisse Já é? Algum estado de espírito, gosto ou perfil que você diria que mais combina com o disco, ou alguém que mais precisa dele?

Todo mundo precisa (risos). A gente vive num mundo muito atordoado. Essa contemplação pode ser útil para qualquer pessoa.

Arnaldo compôs inéditas durante seis meses sabáticos. Foto: Divulgação
Arnaldo compôs inéditas durante seis meses sabáticos. Foto: Divulgação


>> PRATELEIRA

Elza Soares

A carioca liberou na internet o disco de inéditas A mulher do fim do mundo, nos primeiros dias de outubro. As canções mesclam samba, rock, rap e eletrônico, e versam sobre temas como transsexualidade, violência doméstica, narcodependência e morte. O álbum está disponível no site do Natura Musical.

Malta
O segundo disco do grupo chega às lojas neste mês. Nova era (Som livre, R$ 13,10) reúne 11 faixas inéditas, compostas pelo vocalista Bruno Boncini. Algumas estavam guardadas há mais de dez anos e outras foram feitas na estrada, durante turnê de divulgação do disco de estreia, Supernova. Lá fora, Dona da voz, Sou eu e Nada se compara estão entre as faixas.

Letuce
Terceiro disco da banda que mescla MPB, pop e lounge music, Estilhaça une letras poéticas a um rock com ecos de fado, barulhos de risadas e gritos ao longe. Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos, que deram início à banda, têm a companhia de Arthur Braganti (teclados), Fabio Lima (baixo) e Thomas Harres (bateria). Entre as faixas, Animadinha, Aristóteles laughs e Muralha da China. O disco está disponível para download e audição na internet.

Roberta Campos
No quarto álbum da carreira, terceiro vinculado a uma gravadora, a mineira - voz conhecida em canções como De janeiro a janeiro, cantada com Nando Reis, e Felicidade - lança 12 faixas autorais inéditas, à exceção de Casinha branca. Assina a composição de Abrigo com Fernanda Takai.  E canta Amiúde com Marcelo Camelo, com Marcelo Jeneci no instrumental. Todo caminho é sorte (Deck, R$ 29,90) está disponível em lojas e no iTunes.

Roberta Sá
A cantora lançou no mercado o disco Delírio, sexto da carreira, pela Som Livre e MPB. Produzido por Rodrigo Campello, é fruto de um processo de dois anos. Em 11 fixas - oito sáo inéditas - reúne um repertório com Tom Veloso, Adriana Calcanhotto, Martinho da Vila, entre outros músicos. A ideia é justamente misturar gerações diferentes de artistas brasileiros. Disponível no site da cantora.



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