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Cinema Filme A Travessia valoriza mais o espetáculo do que a subversão Cineasta Robert Zemeckis adota um clima de fantasia para reconstituir a façanha do artista que andou sobre uma corda entre as torres do World Trade Center, já retratada em 2008 no documentário O Equilibrista

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/10/2015 07:49 Atualizado em: 05/10/2015 17:26

Joseph Gordon-Levitt em cena do filme que impressiona pela simulação tridimensional. Foto: Sony/ Divulgação
Joseph Gordon-Levitt em cena do filme que impressiona pela simulação tridimensional. Foto: Sony/ Divulgação
 
Com um clima de fantasia do início ao fim, A travessia praticamente transforma uma história real em uma fábula. Tudo o que é mostrado na tela ocorreu de verdade, mas os efeitos especiais e a linguagem lúdica jogam um sentimento de magia sobre os acontecimentos. O estilo adotado enfatiza que o equilibrista Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt com ares de palhaço) é, acima de tudo, um artista, um personagem ligado ao mundo do circo e do entretenimento. O filme deixa claro que o objetivo dele era encantar as pessoas e não o retrata como um alpinista ou um atleta interessado em quebrar algum recorde. Como o vínculo com a realidade já havia sido construído pelo documentário lançado em 2008, a versão com atores busca um outro tipo de emoção, mais ligada ao envolvimento afetivo e à sensorialidade. Os recursos digitais, associados à tecnologia 3D, levam a plateia a observar as cenas a partir de pontos de vista inimagináveis, de todos os ângulos, como se a câmera estivesse em um pássaro em pleno céu (a caracterização das paisagens de Nova York é deslumbrante). A tela do cinema vira um grande simulador de voo que pode até provocar vertigem em espectadores mais sensíveis.

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O significado transgressor da façanha, por outro lado, fica politicamente enfraquecido, já que tudo ganha um aspecto de curiosidade. A subversão é relativizada e o "abestalhamento" é priorizado. O que se sobressai é o espetáculo.


DOCUMENTÁRIOS QUE ANTECIPARAM RECONSTITUIÇÕES:

Os fatos reais retratados pelo filme A travessia já haviam sido narrados de forma eletrizante no cinema pelo documentário O equilibrista, vencedor do Oscar em 2009. A façanha do francês Philippe Petit, que em 1974 andou sobre uma corda amarrada entre as torres do World Trade Center, agora é contada com efeitos especiais digitais impressionantes, sob direção de Robert Zemeckis (De volta para o futuro, Forrest Gump), mas a versão anterior, com imagens de arquivo associadas a depoimentos, já era bastante impactante. Esta não é a primeira vez em que uma obra documental antecipa o conteúdo e as emoções de um filme de ficção. Há outros casos mais antigos que mostraram como a realidade em si pode ser tão cinematográfica quanto a reconstituição dramática. São documentários instigantes não só pelo conteúdo, mas também pela construção de um ritmo que garante momentos de adrenalina, horror, tensão e suspense.

- A trágica saga do assaltante Sandro Barbosa do Nascimento, retratada no filme Última parada 174 (lançado em 2008), dirigido por Bruno Barreto, já havia sido levada aos cinemas em 2002 no documentário Ônibus 174, que revelou o cineasta José Padilha (diretor de Tropa de Elite).

 (Paramount/ Divulgação)

- Alguns dos principais personagens dos filmes Tropa de Elite (2007) e Cidade de Deus (2002) são baseados em traficantes e policiais da vida real que aparecem nas entrevistas e imagens de arquivo do documentário Notícias de uma guerra particular (1999). A cineasta Kátia Lund assina a direção tanto de Cidade de Deus (ao lado de Fernando Meirelles) quanto de Notícias (junto com João Moreira Salles).

 (O2 Filmes/ Universal/ Divulgação)

- Vencedor do Oscar de Melhor Documentário no ano 2000, Um dia em setembro, dirigido por Kevin Macdonald, investigou o drama dos atletas israelenses sequestrados e assassinados por terroristas nas Olimpíadas de 1972. O cineasta Steven Spielberg reconstituiu o episódio com atores e o transformou no ponto de partida do filme Munique (2005), indicado a cinco Oscars.

 (Paramount/ Divulgação)

- A história dos adolescentes californianos que no final da década de 1970 transformaram o skate e um milionário esporte radical e em um símbolo internacional de comportamento foi contada primeiro no documentário Dogtown e Z-Boys (2011) e depois no filme Os reis de Dogtown (2005), que tem Heath Ledger e Emile Hirsch no elenco.

 (Sony/ Divulgação)




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