Revelador Documentário sobre Chico Buarque: cinco razões para ficar ansioso pela estreia Saiba os motivos pelos quais o filme sobre um dos principais artistas brasileiros da atualidade - com estreia prevista para 26 de novembro - é documentário imperdível

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/10/2015 18:20 Atualizado em: 03/10/2015 11:23

Sony Pictures/divulgação
Sony Pictures/divulgação


RIO DE JANEIRO -
A estreia de Chico Buarque - Artista brasileiro está prevista somente para 26 de novembro, mas muitos fãs estão ansiosos desde já para assistir ao novo documentário de Miguel Faria Jr (o mesmo de Vinícius, de 2005, sobre o poeta Vinícius de Moraes). A primeira exibição pública do filme, nesta quinta-feira (1º), em sessão de gala no Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro - Cine Odeon, inaugurou a 17ª edição do Festival do Rio. Na plateia, figuras como Caetano Veloso, Miucha, Antônio Pitanga, Paolla de Oliveira, Bárbara Paz, Betty Faria. A reportagem do Viver também acompanhou a pré-estreia e antecipa alguns detalhes sobre o longa-metragem. A respeito da ausência de Chico, é sabida a aversão dele a homenagens. Além disso, o cantor já havia visto o filme em primeira mão. “Disse ter gostado muito, mas ser suspeito pra falar”, contou o diretor, em entrevista nesta sexta-feira (2). 



1 - Os momentos stand-up comedy 

Descrever Chico Buarque como tímido é um lugar-comum. Nos depoimentos, ele nega com veemência tal timidez contando histórias engraçadíssimas, como quando descreve os piores shows da sua vida (possível explicação para certo “trauma" de plateias). Mas a faceta piadista não acaba por aí. Mesmo quando fala sério, sobre as minúcias da memória real e da memória inventada, Chico dá risada de si mesmo por ter acreditado por muito tempo ter visto o dirigível Zepelim voar nos céus. Mesmo quando não tem a intenção de fazer graça, ele se sai com frases impagáveis, como essa: “Na verdade, mesmo, quando eu comecei a carreira queria ser Tom e Vinícius e um pouco de João Gilberto". Ao falar de assuntos mais duros, como a censura na época da ditadura militar, relata casos cômicos. Quando reflete sobre a renovação do público, conta, aos risos, como um jovem o abordou e disse: “Deixa eu tirar uma selfie com você? Minha avó te adora”.

“Ele é exatamente assim. Uma pessoa reservada, mas não é triste e, sim, muito engraçado. Chico já foi muito escaldado, levou muita porrada, ao mesmo tempo em que foi bastante elogiado. Quando está à vontade, fala. Mas se você colocar 30 pessoas para entrevistá-lo, perguntando se ele comeu tal atriz, vai ser diferente”, testemunha Miguel.

Sony Pictures/divulgação
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2 - O filme acompanha os bastidores da caça ao “irmão alemão”

Miguel Faria Jr já estava trabalhando no documentário quando Chico resolveu escrever livro de ficção baseado em um segredo de sua própria família (o pai, Sérgio, havia morado em Berlim e tido um filho por lá, há muitas décadas). O assunto vem à tona a partir de um depoimento de Tom Jobim excessivamente elogioso, em que cita que Chico “tem até um irmão alemão!”, como se esta fosse uma grande qualidade. Perto de terminar a obra literária, com o falecimento da mãe de Chico, começaram a surgir evidências a respeito do irmão e o cantor decidiu sair à procura dele na Alemanha. 

“Acompanhamos ele a cada nova revelação, até descobrir que o irmão trabalhava na televisão, era uma espécie de Jô Soares de lá, e também cantava. Isso culmina na cena em que ele identifica o irmão no monitor de uma emissora de tevê. Somente essa história já dava um filme”, comenta o diretor. O irmão, Sérgio Gunther, morreu aos 51 anos.

3 - É uma chance única de conhecer a intimidade do "vovô Chico" 

Por serem amigos e parceiros profissionais há décadas, o músico abre as portas de casa e o coração para o cineasta. Na tela, vê-se o suprassumo de 20 horas de conversa, gravadas em oito dias. Tudo parece muito real nos depoimentos concedidos pelo cantor, quase todos na própria casa. As descobertas são inúmeras. Vemos o escritor Chico Buarque trabalhando no teclado do seu computador Mac, o compositor Chico Buarque tentando lembrar como se toca Dueto no violão para, mais tarde, interpretá-la com três de seus sete netos. Aparentemente, todos herdaram(ou foram influenciados pela) intimidade com a música. Em um minuto, o vovô Chico ouve de uma das netas se tem sorvete em casa. No outro, os reúne em uma sala repleta de instrumentos para uma “jam session" em família. 

Carminho: ponto alto das apresentações. Reprodução da internet/imgkid.com
Carminho: ponto alto das apresentações. Reprodução da internet/imgkid.com


4 - Além de ser documentário, é uma coleção de apresentações musicais inéditas. 

Além de apresentações do próprio Chico (Sinhá e Paratodos), interpretam canções compostas por ele a portuguesa Carminho (Sabiá), Ney Matogrosso (As vitrines), Moyses Marques (Mambembe), Laila Garin (Uma canção desnaturada), Mônica Salmaso (Mar e lua), Péricles (Estação derradeira), Mart’nália em dueto com Adriana Calcanhotto (Biscate) e, por fim, Carminho em dueto com Milton Nascimento (Sobre todas as coisas). As performances têm ar teatral e dramático, em cenário de quadrados e retângulos coloridos, capazes de compor uma nova cena para cada número do espetáculo. Há, inclusive, referências às artes plásticas, como a quadros de Mondrian. 

Os arranjos foram feitos pelo diretor musical de Chico Buarque há 20 anos, Luiz Cláudio Ramos. Para o diretor do documentário, a escolha do repertório e dos intérpretes foi a parte mais difícil de todo o processo. Segundo ele, os números musicais foram pensados para acompanhar a cronologia do filme, sem interrompê-lo. Cada canção ajuda a contar a história. “[Na música], Chico atuou em diversas ‘praias' diferentes, e eu queria contemplar tudo isso. Escolhi os cantores que achei que melhor pudessem fazer”, justifica. Um dos poucos comentários feitos por Caetano Veloso após a exibição do filme, na segunda-feira, foi dizer que “a parte preferida” havia sido a participação de Péricles. Com todo o respeito às preferências de Caê, a reportagem elege Carminho o ponto alto - absoluto - das apresentações.

Crédito: Daryan Dornelles/Retratos Sonoro
Crédito: Daryan Dornelles/Retratos Sonoro


5 - Chico é meio filósofo, meio psicólogo 

Os temas mais duros são encarados sem medo na fala de Chico. Ele analisa, por exemplo, como a relação era difícil com o pai, um grande intelectual, e como a literatura serviu de artifício para se aproximar do chefe da família. Consegue fazer ligações extremamente claras a respeito do fato de ter se tornado cantor com memórias de sua mãe viver cantarolando Noel Rosa dentro de casa. Também fala com serenidade à respeito da solidão. Depois do fim do casamento de 30 anos com a atriz Marieta Severo, há 20 anos, ele imaginava que se casaria novamente dentro de pouco tempo. Hoje, prefere seu “espaço solitário”, ideal para trabalhar. 

Sobre o conjunto da obra, faz análise coerente sobre as composições surgidas a partir do combate à ditadura militar. “Criei muita coisa por raiva, sob pressão. Depois que o motivo passa, a canção fica solta, perde o chão”.  Por outro lado, demonstra grande compreensão de seu papel na luta pela democracia. Sobre o processo criativo aos 71 anos, filosofa: “Quanto mais você sabe, mais difícil fica. Quero fazer justamente o que não sei (…) A memória vai se alargando e falhando"

* O repórter viajou a convite da Sony Pictures 


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