Televisão Série de TV pernambucana investiga impactos econômicos e sociais no estado Projeto Vulneráveis, exibido na TV Câmara, também conta com livro e ensaio fotográfico

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/09/2015 20:30 Atualizado em: 09/09/2015 16:07

Série de documentários lança um olhar sobre a relação entre os novos emprendimentos e a cultura ligada a modos de vida das regiões pernambucanas - Foto: Tom Cabral/Divulgação (Foto: Tom Cabral/Divulgação)
Série de documentários lança um olhar sobre a relação entre os novos emprendimentos e a cultura ligada a modos de vida das regiões pernambucanas - Foto: Tom Cabral/Divulgação


O índice de vulnerabilidade social caiu 27% entre 2000 e 2010, diz Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em Pernambuco, a redução foi de 26,5%. As regiões Norte e Nordeste, ainda de acordo com os dados, possuem maior concentração de população em situação de fragilidade. No estado, trabalhadores rurais substituíram a cana-de-açúcar por atividades industriais. A transição se deve, em parte, a obras como o Complexo Industrial Portuário de Suape, ponto de partida de uma série de documentários com quatro episódios produzido no estado e transmitido aos sábados, às 22h, pela TV Câmara.

Vulneráveis, da Ateliê Produções e Alumia Produções e Conteúdo, propõe um olhar crítico sobre o impacto gerado pelo boom econômico na população. A produção foca em debater o desenvolvimento e a vulnerabilidade social. "A gente vinha conversando há tempo sobre as mudanças do processo de industrialização na área de Suape. Em 500 anos, uma massa muito grande de trabalhadores colheu cana e, agora, migrou para indústria. Então, surgiu o argumento para o primeiro roteiro", explica o jornalista César Rocha, um dos idealizadores do projeto, com Laércio Portela.

O pontapé foi dado por Canavieiro, dirigido por Déa Ferraz. O roteiro venceu o concurso da Fundação Joaquim Nabuco, o Rucker Vieira. "O tema em Suape é muito complexo. É um momento de transição. A gente sai de um sistema embasado na cana-de-açúcar para o industrial. Os depoimentos dos trabalhadores trazem a realidade do momento", explica Déa. O episódio ganhará versão em longa-metragem. A série teve incentivo do Funcultura.

Cada capítulo tem direção de cineastas diferentes. A atração optou por ignorar o padrão repetitivo de séries de TV. "Há uma linguagem documental autoral e peculiar de cada diretor. A gente preferiu deixar diretores e roteiristas livres para criar de acordo com cada realidade", pontua Carolina Vergolino, produtora do projeto e diretora do episódio Caldeirão, ao lado de Getsemane Silva e Nath Gomes.

A narrativa traz como ponto em comum as obras e a vulnerabilidade. Confronta os benefícios e malefícios gerados pelas obras da Fábrica da Fiat (Goiana), o Complexo Industrial Portuário de Suape (Ipojuca), a transposição do rio São Francisco (Sertânia) e a Ferrovia Transnordestina (Flores). "A série traz uma ideia ambígua sobre o tema. As obras são temporárias. Depois que vão embora, as pessoas ficam sem saber o que fazer", ressalta a jornalista Fabiana Moraes, que estreia como diretora.

O projeto se estende em livro assinado por César Rocha e Laércio Portela e ensaio fotográfico de Tom Cabral. No dia 14, a equipe faz um lançamento oficial com exibição da produção, exposição fotográfica e debate com Fátima Brayner, José Raimundo Vergolino e Tânia Bacelar, às 19h, no Cinema do Museu (em Casa Forte). A produção está em negociação com outros canais da TV para exibir o documentário. "A série é corajosa. Toca no tema de desenvolvimento de maneira crítica. Abordamos as expectativas de moradores locais diante do processo industrial", diz Tuca Siqueira, diretora de Mata Norte

Os episódios

Foto: Tom Cabral/Divulgação (Foto: Tom Cabral/Divulgação)
Foto: Tom Cabral/Divulgação
Caldeirão
Obra: Ferrovia Transnordestina
Direção: Carol Vergolino, Getsemane Silva e Nath Gomes
O episódio se situa numa comunidade com 70 casas no município de Flores, no Sertão do Pajeú. Os trilhos da ferrovia passam por ela. O objetivo foi entender o que os moradores pensam sobre a obra, que dividiu opiniões. Foi ao ar no último sábado, às 22h.

Foto: Tom Cabral/Divulgação (Foto: Tom Cabral/Divulgação)
Foto: Tom Cabral/Divulgação
Mata Norte
Obra: Fábrica da Fiat
Direção: Tuca Siqueira
A abordagem questiona a expectativa dos moradores da região de se inserir no mercado de trabalho, com emprego e carteira assinada. Uma família com um pai, mestre de caboclinho, e dois filhos é o fio condutor. Também faz um contraponto entre o processo industrial e a tradição cultural. Vai ao ar no dia 12, às 22h.

Foto: Tom Cabral/Divulgação (Foto: Tom Cabral/Divulgação)
Foto: Tom Cabral/Divulgação
 Canavieiros
Obra: Suape
Direção: Dea Ferraz
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipojuca é a base do episódio. O espaço tem um funcionamento ativo, com uma rotatividade considerável de trabalhadores que descobrem e vão em busca de direitos no universo burocrático. Vai ao ar no dia 19, às 22h.

Foto: Tom Cabral/Divulgação (Foto: Tom Cabral/Divulgação)
Foto: Tom Cabral/Divulgação
Dia de pagamento
Obra: Transposição do
Rio São Francisco
Direção: Fabiana Moraes
O episódio foi gravado no povoado do Rio da Barra, em Sertânia, onde uma parte é cortada pelo canal da Transposição. Com depoimentos de trabalhadores locais, fala sobre geração de emprego, poder de consumo e temas delicados, como exploração sexual de adolescentes e produção de lixo.

Serviço


Vulneráveis, de César Rocha e Laércio Portela
Editora Bagaço, 130 páginas, R$ 40



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