Show "Pernambuco conseguiu uma linhagem nobre com Chico Science", diz Guilherme Arantes O cantor e compositor se apresentra no Teatro Guararapes, nesta sexta-feira (18), a partir das 21h

Por: Marcela Assis - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/09/2015 20:20 Atualizado em: 18/09/2015 16:12

 

Último disco de estúdio de Arantes, "Condição Humana", foi lançado em 2013. Foto: Divulgação
Último disco de estúdio de Arantes, "Condição Humana", foi lançado em 2013. Foto: Divulgação

Guilherme Arantes ainda não tinha nem chegado à pré-adolescência quando começou a se interessar por música. Aos seis anos, ganhou de Natal um cavaquinho, que logo foi trocado por um bandolim. A influência veio do pai, o Dr. Gelson. "Desde criança, via muito o meu pai tocando violão, e ele tocava muito bem", relembra o cantor e compositor. Depois de se aventurar nos intrumentos de corda, o paulista foi apresentado ao piano, através do qual compôs grandes sucessos. O primeiro, Meu mundo e nada mais, foi lançado no início da década de 1970, como parte da trilha sonora de Anjo mau, novela exibida pela Rede Globo.

Depois de quatro décadas de carreira, o artista reúne essa e outras composições marcantes no palco do Teatro Guararapes, nesta sexta-feira (18), a partir das 21h. Acompanhado por banda, ele fará um resgate dos principais momentos da trajetória. No repertório Amanhã, Êxtase, e Deixa chover, entre outros clássicos.

Além dos conhecidos temas de novelas, Arantes também se destacou por parcerias com nomes do então iniciante rock nacional dos anos 1980, em músicas como Perdidos na Selva, composta em parceria com Júlio Barroso, da Gang 90. Em 1981, as águas da Foz do Iguaçu, localizada no Paraná, inspiraram a letra de Planeta Água. A canção fez a grande vencedora do Festival MPB Shell,  Lucinha Lins, receber uma vaia de cerca de dez minutos. O público que lotava o maracanãzinho preferia a obra do paulista, que ficou na segunda colocação. "Tive a sorte de a minha música estar tocando nas rádios antes mesmo do festival. As pessoas conheciam a letra, acho que daí surgiu a certeza de que ela fosse ganhar", comenta Guilherme Arantes.



Em entrevista ao Viver, o cantor e compositor falou sobre a carreira, a música pernambucana e contexto no qual surgiram seus maiores sucessos.

SERVIÇO
Guilherme Arantes
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções)
Quando: 18 de setembro (sexta-feira), às 21h
Ingressos: R$ 140 (plateia, com meia), R$ 100 (balcão, com meia)
Informações: 3182-8020

Entrevista >> Guilherme Arantes

"Pernambuco conseguiu uma linhagem nobre com o Chico Science, a Mundo Livre S/A, o movimento Manguebeat em geral"

Nesses 40 anos de trajetória, que fase mais te marcou?
Dei muita sorte no início da minha carreira. Tivemos uma era favorável na década de 1970, e na de 1980 foi ainda mais. Mais tarde teve o desenvolvimento do show bizz, as apresentações ao vivo, e isso foi mais na metade da década de 1980. Sem falar que tiveram as músicas em novelas, isso me ajudou a solidificar minha carreira. Tive muita sorte e tenho gratidão por isso.

Qual a importância de ter músicas em novelas?

Consegui uma maior presença, principalmente em novelas, nos anos 1970 e 1980. Depois houve uma mudança de perfil do público, com maior inclusão social e de culturas. Teve muita agitação e novas linguagens, não deu para manter a mesma produção. Acho que o papel das novelas continua importante.

Entre os momentos mais marcantes de sua carreira também está sua participação no Festival MPB Shell, realizado em 1981. O público vaiou a vencedora, Lucinha Lins, quando percebeu que Planeta água ficaria na segunda colocação. Você esperava essa reação?
Na verdade, não. Tive a sorte de a minha música estar tocando nas rádios antes mesmo do festival. As pessoas conheciam a letra, acho que daí surgiu a certeza de que ela fosse ganhar.

Você já falou em entrevistas que essa música foi feita em 15 minutos. O que contribuiu para que essa composição nascesse de forma tão espontânea?
Essa música foi uma encomenda para o Ney Matogrosso, que ia fazer um projeto sobre a Amazônia. Eu falei que ia fazer uma música sobre a água, e ela saiu naturalmente. Decidi usar uma linguagem sem fronteiras, algo próximo dos guaranis, já que me identifico muito com a Foz do Iguaçu. Foi a Foz que me fez perceber a importância da água e, inclusive, da cultura do índio. Na verdade, a música não tem teor ecológico, é uma canção sobre a água.

Quando você percebeu que tinha dom para a música?

Desde criança, via muito o meu pai tocando violão, e ele tocava muito bem. A partir daí, cresci ouvindo muita gente boa. Minha geração pegou a Bossa Nova, a Jovem Guarda...Fui muito beneficiado por esse ambiente favorável.

Então seu lado cantor surgiu depois?
Com certeza. Cantar era algo esporádico para mim.

Quais foram suas maiores influências?
Ray Charles e Tom Jobim, desde o começo.



Você se tornou conhecido como compositor de grandes sucessos nacionais. Músicas como Meu mundo e nada mais agradaram os brasileiros e se tornaram grandes clássicos da música brasileira. Hoje, as composições que conquistam o gosto popular têm um perfil diferente, são baseadas em letras mais simples. O que pode ter causado essa transição?
Acho que a música popular está mais voltada para utilitário, que é animar festas. Hoje se faz música mais para ganhar dinheiro.

Você acha que a televisão tem dado mais espaço para esse tipo de trabalho?
A própria mídia abriu espaço para vários tipos de música. Para quê ela vai se manter culta, se não teria grandes audiências? A mídia é refém da preferência. Mas ela não é a única responsável, é uma realimentação. A festa é a grande motivação da mídia.

A música pernambucana tem se encaixado nesse cenário?

A música pernambucana é uma excessão nesse quadro. Embora também seja ligada a festas, é uma música culta. Pernambuco conseguiu uma linhagem nobre com Chico Science, Mundo Livre S/A, movimento Manguebeat em geral. Muitos artistas pernambucanos nasceram de tradições, como Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Sem falar que também tem a nova geração, com nomes como Karina Buhr. Recife foi um caso peculiar.

O que o público pode esperar do seu show?
Vai ser um reencontro muito legal. Vamos estar com banda em um palco sagrado e show completo. Vai ser um showzaço com todos os sucessos. Espero que o público goste.



TAGS:
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL