Fórum O "fogo encantado" do cordel toma conta do Museu Cais do Sertão Fórum Pernambucano de Literatura de Cordel é realizado desta terça-feira (15) a domingo(20), com programação gratuita

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/09/2015 12:13 Atualizado em: 15/09/2015 12:35

Crédito: Arquivo/DP
Crédito: Arquivo/DP

No Recife do início do século 20, uma pequena gráfica criada pelo paraibano Leandro Gomes de Barros imprimia os primeiros folhetos de cordel do Brasil. Poeta de talento reconhecido, aproveitava a literatura artesanal para fazer crônicas a respeito dos costumes da sociedade, da política, sem esquecer as narrativas ficcionais. O pesquisador Câmara Cascudo o classificou como o mais lido dos escritores populares. Carlos Drummond de Andrade, como “o Rei da Poesia do Sertão e do Brasil”. A despeito do pioneirismo, o Recife dedica pouca atenção à arte de origem árabe, a julgar pela falta de incentivo do poder público e pela ausência de um espaço dedicado aos folhetos. Bandeiras como essa são levantadas pela pesquisadora Shirley Rodrigues, idealizadora do Fórum Pernambucano de Literatura de Cordel, realizado desta terça-feira (15) a domingo(20) no Museu Cais do Sertão. A programação gratuita (veja aqui) traz debates, workshops e apresentações. Um dos pontos cruciais do fórum é a valorização das mulheres em um universo predominantemente masculino, por vezes machista. 

A literatura de cordel é não somente apropriada com frequência, mas irmanada a outras formas de arte, como o mamulengo, a embolada, o coco, a cantoria de viola, o cavalo-marinho, o maracatu rural e o aboio. “Todos têm a mesma matriz poética, a origem a partir da península ibérica onde se amalgamaram várias influências, sobretudo árabes, e foram trazidas para Pernambuco e para o Brasil pelos portugueses, judeus e árabes”, explica o pesquisador e cordelista Meca Moreno.

Para ele, o cordel deixa traços marcantes na obra de vários cantores, como Alceu Valença, Zé Ramalho (“parte das canções são verdadeiras peças da poesia popular”), Siba (cuja influência é não somente temática, mas refere à métrica e rima utilizada), Lenine, Antúlio Madureira (“com várias músicas inspiradas em cordéis, declamados com uso de instrumentos medievais”). Na literatura, Meca Moreno menciona proximidade do cordel com a obra de Graciliano Ramos (temáticas ligadas ao Sertão e à religiosidade), Cyl Galindo, Alberto da Cunha Melo, Gilvan Lemos e José Lins do Rego.

Fotos: Divulgação/Arquivo DP/Raiz Distribuidora
Fotos: Divulgação/Arquivo DP/Raiz Distribuidora
Serviço

1º Fórum Pernambucano de Literatura de Cordel
Quando: de terça-feira a domingo, sempre a partir das 11h
Onde: Museu Cais do Sertão (Avenida Alfredo Lisboa, S/N, Bairro do Recife)
Quanto: Gratuito. Inscrições em artcordel.blogspot.com.br

Tentáculos do cordel 

No repente
Patativa do Assaré – Considerado uma das principais figuras da música popular nordestina do século 20, poeta e repentista com grande influência da literatura de cordel. “Sujeito de sapiência cujos versos possuíam grandes críticas sociais, como aquelas ligadas à necessidade da reforma agrária”, diz Meca Moreno.

Na música
Nordeste independente, famosa na voz de Elba Ramalho e composta por Ivanildo Vilanova e Bráulio Tavares, é um bom exemplo de como a própria poesia dos folhetos é com facilidade transformada em canções de sucesso. (O folheto era o símbolo oficial/ A moeda, o tostão de antigamente/ Conselheiro seria o inconfidente/ Lampião, o herói inesquecido/ Imagine o Brasil ser dividido/ E o nordeste ficar independente)

Na literatura
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna se inspirou em pelo menos três folhetos de cordéis para escrever cenas da obra mais famosa, Auto da Compadecida. Entre eles, O cordel que defecava dinheiro, de Leandro Gomes de Barros, que na obra de Suassuna se transformou na história do gato que “descomia” dinheiro.

No cinema
O homem que virou suco (1981), de João Batista de Andrade, se apropria do cordel de maneira emblemática. Na trama, um poeta popular nordestino vai para São Paulo, onde tenta sobreviver comercializando folhetos. 


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