Literatura Lado jornalista de Gilberto Freyre é explorado em debate no Centro de Convenções Evento comemora também os 90 anos de lançamento do Livro do Nordeste, volume fundamental do movimento regionalista

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/09/2015 09:00 Atualizado em: 01/09/2015 09:09


Sociólogo organização compilação de textos do Diario oito anos antes de Casa-Grande & Senzala. Foto: Arquivo/DP
Sociólogo organização compilação de textos do Diario oito anos antes de Casa-Grande & Senzala. Foto: Arquivo/DP

Ao participar de certo seminário sobre jornalismo e produção de memória, o escritor Ruy Castro resumiu, em tom de brincadeira, a relevância de registros históricos por parte da mídia impressa: “Parece que as viúvas têm um grande prazer em jogar fora toda a papelada”. Biógrafo de Nelson Rodrigues, Carmen Miranda e Garrincha, ele ressaltou o quanto o acervo de jornais preenchem vazios importantes na história nacional. Cerca de 90 anos antes da declaração, um jovem de 25 anos compartilhava da mesma noção de importância do veículo de comunicação. À época, Gilberto de Mello Freyre, oito anos antes da publicação de Casa-Grande & senzala, organizou o Livro do Nordeste (Cepe, esgotado), compilação de artigos comemorativa do centenário do Diario. Nesta quarta-feira (02), às 15h, na Feira Nordestina do Livro, o jornalista Mário Hélio faz palestra sobre a publicação de 1925.

Nas centenas de páginas, são reconstituídos, a partir da imprensa, retratos de um século da vida econômica, cultural, de forma mais ampla, jornalística. Como o próprio Gilberto Freyre declarou em 1975, por ocasião do lançamento da segunda edição, a obra “cumpriu aquela missão (...) indispensável a todo esforço intelectual ou artístico, quer individual, quer coletivo: constituir-se numa mensagem. E é como mensagem, não apenas como conjunto de colaborações intelectual e artisticamente valiosas, que sobrevive”.

Agora, acrescenta o representante do conselho editorial do Diario, Gladstone Vieira Belo: “Foi uma contribuição de tamanha importância não apenas para a instituição, mas para os estudos sociais, a partir da abordagem pioneira e interdisciplinar estabelecida no estudo da realidade brasileira”. Gladstone classifica a publicação como o primeiro grande enunciado público a referenciar, de forma visível, algumas das questões que seriam alvo do Movimento Regionalista de 1926.

Por causa das muitas áreas de atuação pelas quais passou Gilberto Freyre ao longo da vida, o estudioso pernambucano pode ser considerado um “polímata” (vasto conhecedor de diversos campos do conhecimento), assim como Rui Barbosa e, guardadas as devidas proporções, Leonardo Da Vinci. Mas também cabe, no caso de Freyre, classificação menos abrangente (embora não menos importante), a dos “jornalistas-intelectuais”, explorada pelo doutor em comunicação pela Universidade de Brasília Fábio Henrique Pereira no livro Jornalistas-Intelectuais no Brasil (Summus, R$ 59,90).

Na palestra desta quarts (03), o pesquisador e escritor Mário Hélio vai ressaltar como o Livro do Nordeste constitui um dos exemplos de bom jornalismo e edição, do Gilberto jornalista e editor, um aspecto de sua atividade intelectual pouco abordada. Uma contribuição recente a esse viés é o recém-lançado O jornalista Gilberto Freyre: a fusão entre literatura e a imprensa (Luminária Academia, R$ 38), da ensaísta Sullen Napoleão. Nele, a autora mostra como Freyre marcou um estilo responsável inclusive por moldar o pioneiro manual de jornalismo adotado pela imprensa brasileira. Os textos do Mestre de Apipucos são analisados pela autora, que frisa características marcantes, como a polêmica, a sedução, a sagacidade e até mesmo ironia.

Serviço

Livro do Nordeste, pedra fundamental do regionalismo nordestino, com Zuleide Duarte, Mário Hélio
Quando: Quarta-feira (02), às 15h
Onde: Sala Ariano Suassuna (Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda)
Quanto: gratuito

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