Música Lado "armorial" dos Beatles é explorado em aula-espetáculo de artista plástico pernambucano Projeto de Romero de Andrade Lima partiu de tradução e ilustração de 50 canções da banda de Liverpool

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/09/2015 09:35 Atualizado em: 29/09/2015 11:48

"Está vendo? Até para eles deu certo ir em busca das raízes", citou Ariano, ao falar sobre Norwegian Wood. Foto: Divulgação
"Está vendo? Até para eles deu certo ir em busca das raízes", citou Ariano, ao falar sobre Norwegian Wood. Foto: Divulgação


Em meados da década de 1970, o artista plástico Romero de Andrade Lima entrou no quarto do tio Ariano Suassuna, xenófobo cultural assumido, e o flagrou ouvindo Norwegian Wood, dos Beatles. Questionado pelo sobrinho, o escritor respondeu de pronto: “Está vendo? Até para eles deu certo ir em busca das raízes”. Ariano se referia às influências indianas na música, como o uso do instrumento musical sitar (símbolo da música da Índia), tocado por George Harrison. Anos mais tarde, nas comemorações de 50 anos das primeiras gravações da banda, Romero teve a ideia de criar um projeto baseado nesse viés “armorial” do Fab Four, no sentido de se apropriar do popular e associar ao erudito. Após traduzir com bastante rigor 50 canções e ilustrá-las, o material inspirou a aula-espetáculo ReBeatles - 50 recordações, apresentada (à moda de Ariano) nesta quarta-feira (30), às 21h, na Galeria Suassuna (Praça de Casa Forte, 454).

O formato é o mesmo com o qual Romero tem circulado para falar sobre poetas clássicos, como Garcia Lorca e Dante. A admiração pela “produção poética” de Lennon-McCartney o fez verter ao português as composições, com respeito pela métrica e pelo sentido das letras. “Foi o trabalho de tradutor, mesmo, e não de compositor ou poeta, que têm liberdade para fazer versões. Resolvi fazer porque isso simplesmente não existe, e eu tinha o desejo de comungar a poesia deles com as pessoas. A própria Rita Lee chegou a gravar músicas, mas não traduziu, fez versões. O que me seduz é a ideia de trabalhar até conseguir a real tradução”, pontua.

Após o longo processo com as letras das canções, Romero fez uma ilustração para cada uma delas. Das 50 músicas, ele aproveita 18 nas aulas por causa da limitação de tempo, mas usa intervalos para mostrar mais desenhos fora do roteiro. Cada música tem a tradução correspondente cantada-recitada em coro, sem acompanhamentos. Depois disso, o artista plástico aproveita para contar a origem de cada composição, associar a fatos da época e até desfazer alguns mitos em torno de canções. “Há algumas lendas a partir de letras como Hey Jude. Um trecho fala em ‘entrar sob sua pele’ e, por isso, é associada ao uso de drogas. Não tem nada a ver”. McCartney escreveu essa música em 1968 para o filho de John Lennon, Julian, na época em que os pais estavam em processo de separação, após John se interessar por Yoko Ono.

Em tom de brincadeira, Romero de Andrade Lima crava – os Beatles, são, sim, armoriais. “Eles fizeram um mergulho nas raízes da música inglesa, da música negra norte-americana, como o gospel, o soul, a musicalidade indiana... Deu certo para eles sair daquele rock simples e pegar raízes da música europeia, como melodias antigas irlandesas, cantigas de ninar renascentistas. Grande parte do êxito deles foi o que, depois, Ariano chamou de armorial”, analisa.

Serviço
Aula-espetáculo Re-Beatles – 50 recordações, com Romero de Andrade Lima
Quando: Quarta-feira (30), às 21h
Onde: Galeria Suassuna (Praça de Casa Forte, 454, Bairro de Casa Forte
Entrada gratuita




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