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Abertura FESTBRASÍLIA: Os Lumiére não inventaram o cinema, segundo Walter Carvalho Cineasta e diretor de fotografia apresentou documentário no Festival de Brasília e afirmou que o criador do cinema foi o inglês Eadweard Muybridge e não os irmãos franceses

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/09/2015 16:18 Atualizado em: 16/09/2015 16:44

Walter Carvalho, o produtor Marcelo Maia e o cineasta Cláudio Assis. Foto: Junior Aragão/ Divulgação
Walter Carvalho, o produtor Marcelo Maia e o cineasta Cláudio Assis. Foto: Junior Aragão/ Divulgação
 
Já no início do Festival de Brasília, Walter Carvalho foi responsável por três momentos de reflexão pública sobre o significado da arte cinematográfica. Na cerimônia de abertura, terça à noite, foi projetado o novo longa-metragem dirigido pelo cineasta e fotógrafo, chamado Filme de cinema. Na manhã de quarta, ele participou de um debate sobre o documentário. Depois do almoço, conduziu uma aula sobre fotografia (uma master class). Nas três ocasiões, no lugar de ensinar algo ou ser didático, preferiu compartilhar dúvidas.

Filme de cinema reúne entrevistas com os cineastas Bela Tárr, Lucrécia Martel, Ken Loach, Gus Van Sant, Karim Aïnouz, Ashgar Farhadi, Andrzej Wajda, Ruy Guerra, Benedek Fliegauf, José Padilha, Jia Zhangke e Hector Babenco, o escritor Ariano Suassuna e o ator Salvatore Cascio (o menino de Cinema Paradiso). Os depoimentos são intercalados por cenas de filmes e imagens das ruínas de um cinema no interior da Paraíba. O diretor Cláudio Assis também participa, mas não fala nada. Ele aparece como ator, no papel de um projecionista que, segundo Walter, representa Platão.

A referência a Platão vem do Mito da Caverna, baseado em situações pré-históricas que anteciparam o princípio da projeção cinematográfica. O cinema em si, segundo Walter, foi criado pelo inglês Eadweard Muybridge em 1877 por meio do sequenciamento de fotos de um cavalo em movimento (imagens usadas no documentário). "Na minha opinião, o cinema não foi inventado pelos irmãos Lumiére", defende o diretor.

As entrevistas ainda fazem jus ao título do documentário ao serem filmados de uma maneira realmente cinematográfica. Tárr, por exemplo, é registrado em preto e branco, com detalhes do cigarro que ele fuma. Aïnouz está em pé em cima de um trilho de um trem (uma situação de tensão irresistível, mesmo se a ferrovia estiver desativada). Zhangke está sempre ao lado de um espelho. Lucrécia é filmada de cima. Guerra é fotografado com as mesmas luzes e efeitos usados no filme O veneno da madrugada. Van Sant fala ao som do violão que ele mesmo tocou em uma imagem imediatamente anterior.

Os depoimentos foram gravados em diversas épocas e países ao longo de 15 anos, mas os cineastas parecem conversar entre si ao discutirem, concordarem e discordarem sobre temas como a duração dos planos, a função da música, o ritmo e a noção de tempo no cinema. Eles também foram filmados com tipos de câmera e de formato de tela diferentes. Segundo Walter, "o filme perpassa as tecnologias do cinema. Filmei em VHS, em 16 milímetros, em 35 milímetros, em cinemascope, em DV Cam e em 5D. Só não usei Super 8. Apesar de ser fotógrafo, eu não jogo no time da tecnologia. Eu jogo no time da linguagem."

No debate, Walter Carvalho disse ainda que pretende lançar o livro com a íntegra dos depoimentos contidos no filme: "Eu não acho que uma imagem fala mais do que mil palavras. A palavra cubo define um objeto de seis lados, mas o olho humano só consegue enxergar três", exemplificou.


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