Literatura Percussionista do Monobloco lança, no Recife, livro sobre história do grupo. Confira entrevista O músico e jornalista Leo Morel assina Monobloco: uma biografia, lançado nesta quarta (26) no Recife

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/08/2015 09:01 Atualizado em: 26/08/2015 09:02

Monobloco completa 15 anos e mescla batidas do samba a músicas da MPB. Foto: Roberto RamosDP/D.A Press
Monobloco completa 15 anos e mescla batidas do samba a músicas da MPB. Foto: Roberto RamosDP/D.A Press

Filho de pernambucano, o jornalista e músico Leo Morel lança hoje, na Livraria Cultura do Shopping RioMar, o livro Monobloco: uma biografia (Editora Azougue, 208 páginas, R$ 50), em comemoração aos 15 anos do grupo. A obra reúne mais de 50 depoimentos de artistas e pessoas ligadas aos bastidores do Monobloco, incluindo Fernanda Abreu, Hebert Viana, Elza Soares e o pernambucano Lenine. Os integrantes da banda Pedro Luís e a Parede, que criaram o Monobloco no início dos anos 2000, são peças-chave da obra - Pedro Luís, inclusive, assina o prefácio.

“O livro fala sobre a trajetória do bloco, que inovou ao misturar batidas do samba às músicas populares de Tim Maia, Jorge Ben, Luiz Gonzaga e Paralamas do Sucesso, além dos samba-enredo clássicos da Portela, criados nos anos 1960, que estão sempre no repertório”, explica o autor. O primeiro evento de lançamento ocorreu em fevereiro, durante ensaios pré-carnavalescos no Rio de Janeiro. Após o Recife, Morel deve levar Monobloco: uma biografia a outras capitais, como São Paulo e, possivelmente, Fortaleza.

Em entrevista ao Viver, Leo Morel - que, em 2010, estreou na literatura com Música e Tecnologia – um novo tempo, apesar dos perigos - resgatou as origens do grupo percussivo, falou sobre as razões que considera fundamentais à fama conquistada pelo Monobloco e destrinchou as participações especiais do livro. Confira:

>> ENTREVISTA: Leo Morel, jornalista e músico
“O Monobloco acabou se tornando um fenômeno cultural que faz sucesso no país inteiro”

Leo Morel é percussionista, jornalista e pesquisador. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
Leo Morel é percussionista, jornalista e pesquisador. Foto: Arquivo pessoal/Reprodução
O que está no livro? O que podemos esperar de diferente nessa biografia?

Esse livro é em comemoração aos 15 anos do Monobloco. Lançamos no carnaval, no Rio de Janeiro, num dos ensaios. Ainda será lançado em São Paulo e, possivelmente, em Fortaleza. O livro é resultado de um trabalho de quatro anos. Durante esse tempo, pesquisei bastante sobre a história do Monobloco. Entrevistei mais de 50 pessoas, recolhi depoimentos, informações. Lenine, Elza Soares, Fernanda Abreu e Hebert Viana estão nessa lista. Observei os bastidores, a organização do grupo.

Qual a grande contribuição do Monobloco para o carnaval, em linhas gerais?
Desde o início dos anos 2000, o carnaval de rua do Rio de Janeiro vem ganhando contornos semelhantes aos do carnaval de Olinda, que é maravilhoso, democrático, divertido. O Monobloco é um dos principais responsáveis pelo crescimento desse carnaval, visto que agregou novas pessoas à festa. Gente que antes não se interessava, mas foi atraída pela mistura entre as batidas do samba e as músicas mais populares de artistas como Tim Maia e Jorge Ben. Isso trouxe muita gente nova, muitos jovens. E acabou fazendo sucesso no Brasil todo. Hoje, o Monobloco tem carreira internacional, com oficinas ministradas em países como Dinamarca, Inglaterra e Japão.

As capitais que têm recebido eventos de lançamento são escolhidas em função do público, do grande número de fãs nesses locais?
Sim, mas não somente. O Recife, além dos fãs, tem uma ligação especial comigo. Meu pai, Carlos Morel, é recifense. Eu nasci em Brasília e, com dois anos, me mudei para o Rio de Janeiro, onde vivo atualmente. Mas a minha família paterna é toda pernambucana. Tenho um laço afetivo forte com o estado. Tenho grandes amigos no Recife, boas lembranças. Volto sempre que posso.

O que costuma fazer quando está no Recife?
Eu adoro a cidade, venho aqui, inclusive, para recompor as energias. Me sinto bem com o clima daqui, as pessoas daqui. Passo bons momentos. Adoro Olinda, que tem a “vibe” do monobloco. Ontem mesmo fui a um chorinho em Olinda. Aqui tem músicos talentosos, adoro observar a atividade musical pernambucana. Fui também ao Museu Luiz Gonzaga, passei a tarde inteira lá. Gosto de pegar uma praia, mas também de conhecer aparelhos culturais.

Se pudesse resumir, como descreveria o surgimento do Monobloco?

O primeiro desfile do Monobloco foi no carnaval de 2001. Eu entrei na equipe no fim daquele ano. A mistura das batidas com o pop foram surgindo, aos poucos. Esse foi o grande trunfo do Monobloco, a inovação. O sucesso foi espontâneo. Ninguém imaginava que fosse virar o sucesso que virou. A ideia partiu do pessoal da banda Pedro Luís e a Parede, eles são os fundadores. A banda [Pedro Luís e a Parede] ia fazer um show em São Paulo, no Sesc e, paralelo ao show, pensaram em fazer uma oficina de percussão. A ideia era atrair pessoas, não necessariamente músicos profissionais, para aprender a tocar instrumentos de escola de samba, mas em cima das musicas de Pedro Luís e a Parede. Deu super certo. Pensaram, então, em fazer isso no Rio de Janeiro. A procura foi muito grande, pessoas querendo tocar aqueles instrumentos.

A história do Monobloco se confunde com a própria história do carnaval do Rio de Janeiro. O grupo participou da revitalização do bairro da Lapa, quando o bairro estava ganhando nova vida, em 2003. Hoje, o bairro é referência da boemia carioca. O Monobloco acabou virando um fenômeno cultural que faz sucesso no Brasil inteiro. Foi escolhido até pela Coca Cola para gravar a trilha sonora oficial da Copa do Mundo do Brasil.

Monobloco se apresenta frequentemente no Recife. Na foto, show no réveillon. Foto: Roberto RamosDP/D.A Press
Monobloco se apresenta frequentemente no Recife. Na foto, show no réveillon. Foto: Roberto RamosDP/D.A Press

Como escolheu os nomes que teriam depoimentos publicados no livro?
Procurei artistas que desenvolveram relação com o bloco, como Hebert Viana, Fernanda Abreu, Lenine. A sugestão partiu da minha observação e também de sugestões dos fundadores. Teve até gente que assistiu ao show do Monobloco no Japão, tem gente da Europa que veio ao Brasil participar das oficinas do Monobloco. Essas pessoas estão no livro. Tive que parar de recolher depoimentos, num dado momento, ou não caberiam todos no livro. É um livro comemorativo, que busca contar o que está por trás desse bloco que fez e faz tanto sucesso no Brasil e no mundo.

Qual a fórmula desse sucesso?
Algumas coisas contribuem para o sucesso. A primeira delas é a organização. São cinco fundadores, mas o monobloco tem uma casa no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro, que é o “QG” do bloco. É uma coisa bastante profissional. Tem bastante planejamento. E, claro, há o talento. Eles são muito talentosos, como músicos e também como instrutores, ensinando a tocar aqueles instrumentos, em aulas, oficinas. Organização e talento são as bases do sucesso do Monobloco.

Quantas pessoas compõem o grupo?

Durante o carnaval, que é quando a bateria fica mais cheia e, inclusive, os alunos da oficina participam dos shows, o grupo fica entre 120 e 140 pessoas. Mas no geral, o grupo viaja pelo Brasil com formação mais enxuta. No palco, são em média 25 pessoas.

E quantos shows são feitos por mês?
Entre oito e dez shows por mês, em média.

Além do trabalho como percussionistas, os músicos mantêm atividades profissionais paralelas?

O Monobloco, para se profissionalizar e cumprir os shows, chamou profissionais que vivessem exclusivamente disso. Muitos vivem só daquilo, muitos tem trabalhos paralelos em áreas variadas, mas geralmente ligadas à música. Alguns tem suas próprias bandas. Os fundadores participam sempre, se dedicam exclusivamente ao bloco. No geral, todos se dedicam principalmente a isso.

E você?
Além de músico e instrumentista, sou jornalista por formação e dou aula na Fundação Getúlio Vargas, no MBA, no Rio. Faço pesquisas na área da música. Esse é meu segundo livro, o primeiro foi Música e tecnologia, lançado em 2010 pela mesma editora, a Azougue.

SERVIÇO

Lançamento de Monobloco: uma biografia
Editora Azougue, 208 páginas

R$ 50
Quando: 26 de agosto, às 17h
Onde: Livraria Cultura do Shopping RioMar (Av. República do Líbano, 251 - Pina)
Informações: 3256 7500



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