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Tapa na cara O essencial da animação "O Pequeno Príncipe" é invisível aos olhos do público infantil Longa-metragem não somente se preocupa em inspirar o espectador com as mensagens contidas na essência do clássico literário, mas avança para uma crítica social contemporânea

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/08/2015 08:30 Atualizado em: 20/08/2015 09:56

Crédito: Paris Filmes
Crédito: Paris Filmes
Crédito: Paris Filmes
Crédito: Paris Filmes
Considerado o livro mais traduzido do mundo depois da Bíblia e do Alcorão, O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, ganhou ainda mais fôlego depois de a obra ter entrado em domínio público, neste ano. Entre e-books e livros físicos, estão disponíveis no mercado editorial mais de 100 variações da história, seja na tradução, na reinvenção do enredo, nos traços das ilustrações. No universo audiovisual, há pelo menos outras dez adaptações, mas nenhuma do porte da animação francesa homônima, dirigida por Mark Osborne (Kung fu panda) e exibida a partir de hoje, nos cinemas brasileiros.

Embora recupere a conhecida obra de Exupéry, o longa vai além, com a criação de narrativa paralela, passada nos dias atuais. Não somente se preocupa em inspirar o espectador com as mensagens contidas na essência do clássico literário, mas avança para uma crítica social contemporânea. Talvez passe despercebido ao público infantil, mas a animação não se preocupa em ser sutil na hora de condenar a maneira como alguns pais projetam nos filhos as próprias aspirações e, assim, passam a planejar e controlar suas vidas, sem deixar margem para o desenvolvimento da personalidade, dos gostos e aptidões. Esse é o caso da menina protagonista, cujo nome não é revelado (mais um sintoma da falta de identidade).

Ao lado da mãe, ela vive em uma sociedade burocrática, cinza e mecanizada. Há uma busca excessiva por produtividade, excelência e produtividade. “Ser adulto” chega a ser tratado como sinônimo de ser “anestesiado” para se tornar parte de uma engrenagem da sociedade. Em determinado momento, o rádio anuncia o resultado de uma chuva inesperada – 32 pessoas chegaram atrasadas ao trabalho e o rendimento da cidade caiu 0,4% no dia. Só depois de um acidente doméstico, a garota conhece o vizinho, um velho aviador bastante excêntrico. Cabe a ele narrar o encontro com o Pequeno Príncipe – contada em flashbacks, em formato de animação stop-motion, enquanto o núcleo principal é todo em 3D.

Quando as duas narrativas se encontram, as reflexões críticas sobre o cotidiano se acirram. A frase “seja essencial” é repetida como um mantra motivacional por quem só pensa em trabalho. Vemos, então, o Senhor Príncipe (agora “apenas mais um adulto”) esfregar o telhado de uma grande empresa, após de ter sido demitido de vários subempregos. Nesse submundo, qualquer objeto “não essencial”, como uma bicicleta, é triturada e transformada em úteis clipes de papel. As estrelas tão admiradas pelo Pequeno Príncipe são armazenadas em uma redoma pelo Homem de Negócios para geração de energia elétrica.

A sátira da vida contemporânea é um perfeito contraponto às lições de Antoine de Saint-Exupéry. É um ambiente dominado pelo caos criado para nós, adultos, rirmos constrangidos das verdades inconvenientes escancaradas na animação e, com sorte, relembrar lições essenciais do clássico infantojuvenil, como a sempre citada: “O essencial é invisível aos olhos”. 


Crédito: Editora Agir
Crédito: Editora Agir
outras adaptações:
O PEQUENO DESENHADO
O Pequeno Príncipe em quadrinhos  (Agir, R,90), de Joann Sfar - O famoso quadrinista Joann Sfar assinou a adaptação da obra, que foi considerada, na França, a melhor história em quadrinhos do seu ano de lançamento. O artista optou por não recriar os traços de Exupery (ilustrações de aquarela), mas dar olhos de mangá e um novo corte de cabelo ao príncipe. 

O PEQUENO JUNG
Pequeno Príncipe para gente grande (Editora Bestseller, R$ 25), de Roberto Lima Netto - Mistura entre o clássico e os ensinamentos do psicanalista suíço Carl Gustav Jung. Conta a jornada do ser humano que deixa de ser um bebê para se transformar em menino e depois em adulto.

O PEQUENO PORNÔ
O clube das mulheres do Pequeno Príncipe (E-book do autor, R$ 5,99), de Chris Sevla - As três protagonistas do romance – uma psicóloga, uma professora de dança e uma escritora – descobrem que o livro de Exupery contém a solução para todos os problemas amorosos. Uma delas vive na cidade conhecida como capital do filme pornô.

O PEQUENO CEBOLINHA
Turma da Mônica – O Pequeno Príncipe (Girassol, R$ 74), de Mauricio de Souza - Os personagens dos gibis tomam os lugares dos personagens do clássico da literatura. Cebolinha ganha cabelos loiros para representar o Pequeno Príncipe. O próprio Mauricio “interpreta” Exupéry, o piloto. Mônica é a rosa. Também estão na obra os personagens o Louco, Astronauta, Jotalhão e Rolo.

O Pequeno Príncipe em nós - Uma jornada de descobertas com Saint-Exupéry (R$ 30, Verus Editora), de Mathias Jung - Análise da parábola sobre infância e vida adulta, humano e inumano, amizade e amor, crise, morte e esperança. O psicoterapeuta alemão Mathias Jung diz demonstra que o personagem fascina porque em cada um de nós se oculta uma parte dele.

O PEQUENO GESTOR
O Pequeno Príncipe põe a gravata (Editora Bestseller, R$ 30), de Borja Vilaseca - O jornalista Borja Vilaseca escreveu matéria sobre empresa de consultoria que multiplicara o faturamento em 110 vezes. A partir dessa pesquisa surgiu o livro. Ele mostra como um diretor trabalhou para uma mudança de atitude por parte dos líderes e funcionários da empresa.

O PEQUENO PRETO E BRANCO
O Pequeno Príncipe para colorir (Universo dos Livros, R$ 29,90), de Maxx Figueiredo - O conhecido personagem de Exupery embarcou na onda dos livros de colorir que invadiram o mercado editorial desde o começo do ano. Inspirado no clássico, a publicação traz ilustrações em preto e branco, acompanhadas de frases inspiradoras pinçadas do livro original.




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