Música Nação Zumbi volta ao Português e se reencontra com o palco do último show de Chico Science no Recife Banda afasta clima de nostalgia pelo show de 1996, mas fãs deliram com a simbologia do local onde o grupo se apresentou com Chico Science no Recife pela última vez

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 15/08/2015 11:00 Atualizado em: 15/08/2015 11:09

Nação Zumbi em 1996 e em 2015. Fotos: Arquivo DP e Nação Zumbi/Divulgação oficial
Nação Zumbi em 1996 e em 2015. Fotos: Arquivo DP e Nação Zumbi/Divulgação oficial

Era 1996, e o grupo Chico Science & Nação Zumbi retomava os shows nacionais após turnê na Europa e nos Estados Unidos. Começava a divulgar Afrociberdelia (1996) - o segundo e, possivelmente, mais simbólico álbum da carreira. A apresentação no festival norte-americano SummerStage de 1995 acabara de marcar a trajetória da banda, agora vista pelos olhos do mundo.

Em setembro daquele ano, no Clube Português, Chico e Nação se reuniriam pela última vez em palco recifense - o vocalista morreria em fevereiro de 1997 - e fariam, sem saber, show histórico para aproximadamente dois mil pagantes. Quase duas décadas depois, Nação Zumbi espelha o passado e - após celebrar 20 anos do SummerStage com novo show no Central Park, no dia 2 - retorna hoje à noite ao Clube Português, onde divulga o disco Nação Zumbi (2014).

Lúcio Maia, guitarrista do grupo, garante que o momento é de leveza, não de carga dramática pela simbologia em torno do evento. “Não temos relação nostálgica com nosso trabalho. Não significa que evitamos o passado, mas preferimos olhar para a frente”, declara. A ausência de Chico no último palco no Recife é a mesma, para ele e a banda, sentida em qualquer outro show: “Não há um peso diferente. Chico está inserido em tudo o que fazemos e, para nós, é um show como os outros.”

O repertório será o mesmo do Central Park, com Um sonho, Defeito perfeito, Foi de amor e Cicatriz entre os destaques. Para Lúcio, as faixas refletem uma das melhores fases da banda. “Quanto mais velhos ficamos, melhor o resultado nos palcos, no estúdio. As nossas relações foram amadurecendo, o que faz parte do nosso crescimento. É um grande momento nosso.”
Para os fãs, porém, é um show que já nasce lendário.

O ingresso do show histórico em 1996, o último com Chico no Recife. Foto: Reprodução da internet
O ingresso do show histórico em 1996, o último com Chico no Recife. Foto: Reprodução da internet


Embora Nação tenha se apresentado no Clube Português em 2005, há novos pontos em consideração dessa vez: o marco temporal (quase duas décadas do show de 1996) e a proximidade com o aniversário de 50 anos de nascimento de Science, em março de 2016 - ano em que o artista será homenageado no Galo da Madrugada e quando será lançado o documentário Chico Science, um caranguejo elétrico, dirigido por José Eduardo Miglioli. “Há uma mística diferente, uma energia que é sentida pelo público. A simbologia de estar no último palco de Chico no Recife é inevitável”, diz o estudante de jornalismo Almir Cunha, um dos líderes do grupo Raízes do Mangue, coletivo cultural dedicado ao manguebeat.

Paulo André, que produzia o grupo em 1996, acredita que o show desta noite encerra um ciclo. “Ninguém imaginava, naquela noite, o que viria a seguir, nem que Chico se tornaria mito. Ali, o manguebeat ainda era underground e o axé, a nova moda no Recife. Agora, o contexto é outro”, conta. A sensação de retrospecto é reforçada, ainda, pela participação do rapper Black Alien na abertura do show, ex-integrante da banda Planet Hemp, famosa nos anos 1990 - a década do movimento mangue.



Serviço
Show de Nação Zumbi

Quando: hoje, às 22h
Onde: Clube Português (Av. Conselheiro Rosa e Silva, 172, Graças)
Ingressos: R$ 80, R$ 40 (meia), R$ 90 (camarote) e R$ 50 (social + 1kg de alimento não perecível)

>> Eles foram

“O disco [Afrociberdelia] era um passo bem à frente. Os caras, além de bagagem de todas as turnês, tinham Pupillo somando na batera. Era o coroamento de toda a experiência adquirida. Maturidade em estúdio e estrada. Era o auge. Um sentimento forte de ter representantes de verdade na música internacional. Os caras estavam nitidamente muito felizes e plenos. Isso criou um gosto maior de estar participando desse momento.” (Catarina Dee Jah, sobre show no Português em 1996)

“Fui àquele show comemorar o nascimento do meu filho. Pensei 'que incrível', show de Chico Science & Nação Zumbi logo hoje!'. Volto lá neste sábado, agora com meu filho, que tem 19 anos.” (Roger de Renor, sobre show no Português em 1996)

Nação se apresenta após Black Alien, ex-Planet Hemp. Foto: Divulgação oficial
Nação se apresenta após Black Alien, ex-Planet Hemp. Foto: Divulgação oficial


>> DUAS PERGUNTAS: Lúcio Maia, guitarrista
Qual o principal desafio de manter a banda atuante há quase 25 anos? Reinventar-se? Ou manter-se coerente com as ideologias do início?

As duas coisas estão interligadas. Se manter e se renovar. Vamos fazer 25 anos de estrada no ano que vem. Sempre falo a quem está começando que a parte mais difícil não é atingir o sucesso momentâneo. O desafio não é criar uma musica que estoure, mas conseguir se manter atuante, ativo, interagindo com os fãs. Uma banda consegue sobreviver na medida em que encontra seu nicho, seu público. Uma banda vive bem durante décadas, se encontrar sua identidade.

Em matéria no The New York Times, a palavra nostalgia foi mencionada como um sentimento que não tem tanta relação com o trabalho, a energia da banda. Como fugir à nostalgia?
Porque isso é uma questão de filosofia de vida. Nós não temos relação nostálgica com o nosso trabalho. Não é que a gente evite o passado. É que o que está feito, está feito. Olhamos pra frente. Não é algo consciente. É uma questão filosófica. Não nos interessamos em repetir o que já foi feito.



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