J-horror Jornalista pernambucano lança livro sobre remakes de filmes de terror japoneses Adaptações de filmes japoneses pela indústria cinematográfica norte-americana é esmiuçada pelo pesquisador pernambucano Filipe Falcão

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/08/2015 08:30 Atualizado em: 18/08/2015 09:50


Imagem: Dreamworks/divulgação
Imagem: Dreamworks/divulgação

O constante diálogo com as tradições é uma das marcas da cultura japonesa. A produção cinematográfica do subgênero J-horror, por exemplo, estão povoadas de referências a religiões como o xintoísmo e o budismo, além de características de antigas peças teatrais. Filmes contemporâneos como Ringu (1998), de Hideo Nakata, reproduzem elementos de espetáculos do século 14, quando eram recorrentes temáticas de fantasmas (shura-mono) e vingança (shunen), e do século 17, com suas narrativas sobrenaturais (kaidan). Parte desse vínculo com o passado se perdeu quando o longa-metragem oriental foi refilmado pela indústria norte-americana, dando origem ao blockbuster O chamado (2002). A partir de então, foi inaugurada uma nova fórmula de Hollywood para abastecer o mercado de filmes de horror, cujos vilões ganharam cada vez mais a estética de mulheres asiáticas de cabelo comprido.

A relação entre os remakes dos estúdios ocidentais e os longas produzidos originalmente no Japão e em países vizinhos é analisada pelo jornalista e pesquisador Filipe Falcão em Fronteiras do medo – Quando Hollywood refilma o horror japonês (Estronho, R$ 45). Para marcar o lançamento do livro, nesta terça-feira, às 19h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega (Rua Madre de Deus, s/n, Bairro do Recife), o autor bate-papo com Rodrigo Carreiro, professor do curso de cinema da UFPE. Em seguida, haverá sessão de autógrafos.

Para Filipe Falcão, o boom de refilmagens de filmes japoneses por parte de Hollywood foi importante para trazer luz para a produção asiática. “Tive o cuidado de não classificar os remakes em bons ou ruins em relação aos originais, porque cada produção tem suas características, seu público. Mas existe esse papel de atrair a atenção das pessoas para o cinema contemporâneo japonês, a ponto de algumas produtoras lançarem esses longas-metragens em DVD”, pontua.

Segundo avaliação do pesquisador, não se deve “amaldiçoar” os remakes, embora sejam notórias as perdas nas “traduções” norte-americanas, principalmente em relação à estética fílmica. Como exemplo, ele cita a quantidade de planos utilizados no original e na refilmagem de O chamado (500 contra 1700, o que gera um filme fragmentado) e a intervenção da trilha sonora na versão estadunidense, responsável por vários “sustos”, enquanto a versão japonesa preza pelo silêncio e pelo clímax no final do longa.  



“É preciso considerar, contudo, o costume do público norte-americano e internacional à linguagem de Hollywood. Por isso, as adaptações são necessárias do ponto de vista comercial. Talvez a recepção não fosse tão positiva se o remake não tivesse um apelo ‘mainstream’, se guardasse mais semelhanças com a versão japonesa, considerada exótica para o espectador ocidental”, analisa Filipe Falcão.

Terror adaptado

Ringu (1998) – O chamado (2002)
Jornalista investiga a misteriosa morte da sobrinha, que tem relação com um estranho vídeo, que faz com que todas as pessoas que o assistam morram exatamente sete dias depois.



Ju-on: O grito (2002) – O grito (2004)
Garota é chamada para cuidar de uma idosa que demonstra sinais de deficiência mental. Atividades estranhas na casa a fazem descobrir que espíritos de mãe e filho mortos ali despertam uma onda de fúria



Honogurai mizu no soko kara (2002) – Água negra (2005)
Separada recentemente, mulher muda de casa e de emprego. Para sua surpresa, o novo apartamento possui barulhos misteriosos, vazamentos constantes de uma água negra.



Chakushin ari (2003) --- Uma chamada perdida (2008)
Diversas pessoas recebem mensagens via celular sobre seus últimos momentos de vida. Embora as mensagens possam ser deletadas, seus números crescem cada vez mais. Muitas mortes se confirmam.



Fantasma japonês

TRADIÇÃO – figuras reproduzem elementos de peças teatrais japonesas dos séculos 14 e 17, que já investiam em temáticas sobrenaturais, de fantasmas e vinganças após a morte.

TEU CABELO NÃO NEGA – vilões são geralmente figuras femininas asiáticas de cabelos compridos que foram assassinadas e tiveram os corpos despejados em local inapropriado. Essa é uma das “justificativas” para o comportamento errático.

ANEMIA – nas produções japonesas do subgênero J-horror, vê-se pouco sangue. A estética é mais ligada à água e ao medo de rostos esbranquiçados, como de cadáveres.

TECNOLOGIA – a maioria das produções associa a aparição dos fantasmas com elementos tecnológicos, como televisão, máquinas fotográficas, telefones.

SERVIÇO 
Palestra e lançamento de livro Fronteiras do medo, de Filipe Falcão
Quando: nesta terça-feira, às 19h
Onde: Livraria Cultura do Paço Alfândega (Rua Madre de Deus, s/n, Bairro do Recife).
Quanto: entrada gratuita.


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