Cinema GRAMADO 2015: Daniel Filho diz que está apaixonado por Haneke, Ceylan, Farhadi e Béla Tarr Diretor e ator recebeu o Troféu Cidade de Gramado no festival e fez revelações surpreendentes em entrevista coletiva

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/08/2015 17:28 Atualizado em: 09/08/2015 17:46

Daniel recebeu troféu pelo conjunto da obra. Foto:Cleiton Thiele/Agência PressPhoto
Daniel recebeu troféu pelo conjunto da obra. Foto:Cleiton Thiele/Agência PressPhoto
 
Dos cineastas estrangeiros em atividade atualmente, Michael Haneke (A fita branca), Asghar Farhadi (A separação), Béla Tarr (Satantango) e Nuri Bilge Ceylan (Winter sleep) são os preferidos de Daniel Filho, como ele mesmo revelou em entrevista coletiva cedida em Gramado. A afirmação surpreendeu os jornalistas presentes, já que os filmes dirigidos por esses quatro autores são totalmente diferentes do tipo de cinema popular feito pelo ator, diretor e produtor brasileiro de 77 anos de idade, que é um dos homenageados do 43º Festival de Cinema de Gramado.

Daniel Filho, que dirigiu 15 filmes e atuou em 37, além de ter uma carreira mais vasta ainda na TV, subiu ao palco na noite de sábado para receber o Troféu Cidade de Gramado dedicado ao conjunto da obra do artista. Chico Xavier (2010), Se eu fosse você (2006 e 2008), O cangaceiro trapalhão (1983) e Pobre príncipe encantado (1969) estão entre os trabalhos dele como diretor de cinema. Como ator, participou de clássicos como Os cafajestes (1962), de Ruy Guerra, Boca de Ouro (1963), de Nelson Pereira dos Santos, Chuvas de verão (1978), de Cacá Diegues, e O beijo no asfalto (1981), de Bruno Barreto.


Leia alguns trechos da coletiva...

Ser ator:
"É raro as pessoas me convidarem pra trabalhar como ator em cinema. Não sei se é porque sou mau ator ou se é porque ficam achando que eu não vá aceitar. Eu gostaria de ser mais lembrado como ator, mas me escalam muito pouco"

Cinema compacto:
"Por que não fazemos um cinema menor? A nossa pulsão às vezes está ficando muito cara. Tem filmes menores que são ótimos filmes. Há alguns dias atrás vi o filme À procura de Eli, de Asghar Farhadi, que fez A separação. É um filme todo feito em apenas uma locação, com uma emoção, uma narrativa... A ideia, a história e o tema prevalecem sobre a produção."

Heróis brasileiros:
"O que é um herói hoje? Pobre do povo que precisa de um herói. Não precisamos de heróis. Precisamos de bons governantes, que nos respeitem. Eu acho que o herói brasileiro vai ser aquele que vai falar a verdade. Vão aparecer vários candidatos para esse posto, então temos que tomar muito cuidado."

Herói de novela:
"Na novela Que rei sou eu?, eu fazia uma voz de dublagem. Eu fazia uma voz de mocinho. Eu chegava a falar fora de sync de propósito. Era uma brincadeira com um grande herói."

Os cafajestes:
"Na cena da praia do filme Os cafajestes, naquele famoso traveling circular, eu estava dirigindo o jipe onde a câmera estava apoiada. Havia apenas seis pessoas presentes na filmagem: Eu, Jece Valadão, Norma Benguel, Ruy Guerra, o diretor de fotografia Tony Rabatoni e um assistente de câmera . O plano foi filmado apenas uma vez. Os movimentos de câmera e os enquadramentos eram absolutamente fantásticos. Filmamos no Arraial do Cabo e precisamos andar bastante para chegar em um local onde não houvesse ninguém em volta, até porque a Norma Bengel ia ficar nua e naquela época ela já era uma vedete. Ela estava menstruada e precisamos solucionar de forma muito rudimentar com algodão, pois não havia absorvente interno naquela época."

Ser homenageado:
"Como dizia Billy Wilder, depois que a gente fica velho, a gente recebe os dois H's: hemorroidas e homenagens."

Filme preferido:
"O filme que eu mais gosto é Cantando na chuva, talvez o filme mais alegre que já foi feito. Ele funciona pra mim como um Rivotrill ou um Lexotan. Quando eu estou tenso, coloco Cantando na chuva e vou ficando calmo, vou ficando calmo e choro sempre no final".

Cinema atual:
"Estou apaixonado por diretores que não são americanos. Michael Haneke, Asghar Farhadi e Nuri Bilge Ceylan são três pessoas que eu acompanho com grande emoção atualmente. Sem falar no Béla Tarr... Entre os americanos, gosto de Wes Anderson e Paul Thomas, que fez Magnólia. Como diretor, me acho um palhaço, não me levo a sério. Vim do circo. Talvez seja por isso que eu prefira fazer comédias, apesar de ter feito alguns dramas como O primo Basílio. Eu não paro de contar piadas."


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