Favorito Filme que pode levar o Brasil ao Oscar estreia no Recife Regina Casé interpreta uma empregada doméstica em Que Horas Ela Volta?, que já superou a bilheteria de Cidade de Deus na França

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 27/08/2015 07:15 Atualizado em: 30/08/2015 17:12

Atriz está perfeita no papel de uma nordestina que trabalha em São Paulo. Fotos: Aline Arruda/ Divulgação
Atriz está perfeita no papel de uma nordestina que trabalha em São Paulo. Fotos: Aline Arruda/ Divulgação
 
Que horas ela volta? tem tudo para alcançar ou até superar a repercussão internacional conquistadada por Central do Brasil, Cidade de Deus e Tropa de Elite. O longa-metragem, que chega nesta quinta aos cinemas do Brasil e estreia nos Estados Unidos na sexta, já é considerado um dos cinco favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

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O filme já foi visto por mais de 150 mil espectadores na França, onde ultrapassou a bilheteria de Cidade de Deus (130 mil). No Recife, entra em cartaz em quatro cinemas (Cinemark RioMar, UCI Kinoplex Recife, Cinépolis Guararapes e Cinema do Museu).

O diferencial de Que horas ela volta? está na forma delicada de retratar temas graves. A partir de uma história de ficção narrada com bastante clareza para obter um alcance popular, o filme tem o poder de interferir sobre o cotidiano real da sociedade. Por meio de emoções irresistíveis proporcionadas pelo trabalho envolvente do elenco, provoca uma mistura entre carinho, constrangimento e amadurecimento crítico ao estimular o público a repensar a relação entre patrões e empregadas domésticas.

A história é praticamente toda ambientada em uma casa de classe média em São Paulo. A nordestina Val (perfeitamente interpretada por Regina Casé) é a empregada de Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles). Além de fazer serviços de limpeza e cozinhar, dorme no trabalho diariamente e foi babá do filho deles, Fabinho (Michel Joseas), que está prestes a entrar na universidade. Com o salário, ela sustenta uma filha, mas não acompanhou o crescimento da menina, que ficou no Nordeste.

A suposta boa educação dos donos da casa é confrontada com a chegada de Jéssica (Camila Márdila), filha de Val, que precisa de hospedagem para fazer vestibular em São Paulo. A garota passa a questionar o humilhante comportamento subalterno da mãe e provoca um desconforto que expõe um cruel conformismo social (com raízes na escravidão) disfarçado de cordialidade profissional e afetividade.

Cartazes internacionais do filme com os títulos em italiano, inglês e francês
Cartazes internacionais do filme com os títulos em italiano, inglês e francês

Tudo isso é abordado com uma simplicidade aparente, mas com uma profundidade complexa, já que os personagens estão sempre bem intencionados, sem perceberem a mediocridade dos próprios atos. Um tema bastante presente é a importância da presença materna, já que Val passou mais anos dedicada ao filho dos patrões do que à própria filha. Jéssica, além disso, demonstra possuir um nível educacional superior ao de Fabinho, apesar de ser economicamente mais pobre. Há ainda um frescor atual, pois a mudança de visão em relação à condição dos empregados é algo que tem crescido no Brasil nos últimos anos graças a políticas de inclusão social e a novas conquistas trabalhistas.


RUMO AO OSCAR
Que horas ela volta?
já tem estreia garantida em mais de 20 países, impulsionado pelos prêmios alcançados nos festivais de Berlim (júri popular na mostra Panorama) e Sundance (melhor atriz para Camila Márdila e Regina Casé). Além dos 150 mil espectadores na França, atraiu 70 mil na Itália e 40 mil na Espanha. Nos últimos dias, foi apontado como um dos cinco favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por publicações como a revista inglesa Screen International e o site norte-americano Indiewire, conhecido por elaborar previsões sobre a estatueta.

Lourenço Mutarelli e Camila Márdila em cena do filme
Lourenço Mutarelli e Camila Márdila em cena do filme

INFLUÊNCIA PERNAMBUCANA
A diretora do filme, Anna Muylaert, vem ao Recife neste sábado para conversar com o público após a sessão das 19h30 no Cinema do Museu, em Casa Forte. A trilha sonora é formada por músicas dos pernambucanos Fábio Trummer (banda Eddie) e Vitor Araújo (pianista). Também de Pernambuco, participam a montadora Karen Harley, o maquiador Marcos Freire e o diretor de arte Thales Junqueira. No Festival de Berlim, a cineasta dedicou as projeções ao cinema pernambucano. Ela também já afirmou que foi diretamente influenciada por O som ao redor.

A cineasta Anna Muylaert durante as filmagens em São Paulo
A cineasta Anna Muylaert durante as filmagens em São Paulo

FRASES DE ANNA MUYLAERT
(em entrevista cedida no Festival de Gramado)


"Eu quero que uma empregada doméstica entenda esse filme inteiramente. Eu nunca quis que o filme fosse além do alcance do que uma empregada doméstica poderia compreender. Ele é cheio de símbolos, cheio de metáforas, mas eu quis que ele fosse inteiramente compreendido por qualquer pessoa, até por crianças."

"Criar uma criança é uma coisa nobre. Pra falar nisso no Brasil, você tem que falar de mulher e de desvalorização da mulher. Se esse trabalho é desvalorizado, então a mulher está desvalorizada também. O que é mais importante: fazer um filho ou educar um filho? Eu acho que educar um filho é mais importante."

"A personagem está ali obedecendo regras que vêm desde o tempo colonial. São regras invisíveis, automáticas. Quando chega a filha, que vai contra essas regras, ela fica desesperada e é a que mais fica incomodada."



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