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Homenagem Fãs de todo o país lembram o aniversário de morte de Raul Seixas amanhã Roqueiro revolucionou a música brasileira compondo clássicos que ainda hoje são celebrados

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 22/08/2015 11:35 Atualizado em: 22/08/2015 11:44

Amanhã, completam-se 26 anos desde que o Maluco Beleza se foi, deixando um rico legado de canções e histórias que revolucionaram a música brasileira. Foto: Juan Luiz Guerra/Divulgação
Amanhã, completam-se 26 anos desde que o Maluco Beleza se foi, deixando um rico legado de canções e histórias que revolucionaram a música brasileira. Foto: Juan Luiz Guerra/Divulgação
Na noite de 13 de agosto de 1989, Raul Seixas, ao lado de Marcelo Nova, subia ao palco, no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, para dar continuidade à turnê de 50 shows do disco Panela do diabo. Foi a última vez que os fãs puderam ver uma apresentação do músico. Oito dias depois, foi encontrado morto sobre sua cama, vítima de uma parada cardíaca, consequência de uma grave pancreatite, agravada pela diabetes. Amanhã, completam-se 26 anos desde que o Maluco Beleza se foi, deixando um rico legado de canções e histórias que revolucionaram a música brasileira.

Sylvio Passos tinha entre 17 e 18 anos quando ligou para o ídolo a fim de marcar um bate-papo. “Fui com minha cara de pau, peguei uns três ônibus para sair da Zona Norte de São Paulo e ir encontrar ele na Zona Sul, no bairro do Brooklyn”, conta. Passos fundou o primeiro fã clube do artista, ainda no ano de 1981. Atualmente, mantém um acervo gigantesco, com discos, fotografias, manuscritos, entre outros objetos. Ao todo, 34 anos dos 52 que Sylvio possui foram dedicados à função. “Não tem como desvincular minha vida da dele. Foi a forma que encontrei para ser útil”, afirma.

“Raul morava na rua mais modesta do bairro, era estrada de terra, tinha um carrão maior do que a garagem. Fui recebido super bem, como se já fosse um amigo de anos”, comenta Passos. Não demoraria muito tempo até que os dois virassem amigos de longa data, convivendo ao longo de oito anos de amizade. “Ele começou a me chamar de Silvícola, não sabia se estava me xingando ou me elogiando”, conta, entre risos. “Como estava muito sem graça, no primeiro encontro, não conseguia almoçar com ele. Raul pegou o macarrão com a mão e me serviu, falando que eu já era de casa”, lembra. “Sinto uma saudade gigantesca dele. Ele e meu pai foram meus grandes heróis”, desabafa.

Kika Seixas, ex-mulher de Raul, com quem teve uma filha, Vivi, explica que o 21 de agosto é uma data de comoção espontânea. “Até hoje vai um monte de Maluco Beleza visitar o túmulo do Raul, prestar respeito, cantar as músicas”, conta. “Depois de 26 anos, a dor diminui, mas o Raul foi o amor da minha vida, é o pai da minha filha. Guardo comigo milhares de manuscritos, bilhetes que ele deixava para mim, letras que compomos juntos”, lembra.

Kika também permanece envolvida com a obra de Raul, recordando que um dos momentos mais marcantes foi quando o artista gravou o hit Plunct, plact, zum. “Quando me juntei ao Raul, ele estava em uma época muito ruim, sem gravadora, esquecido. Lembro-me de pedir que dessem uma oportunidade a ele na Globo com essa música e foi um sucesso, virou número um. Foi um dos momentos mais marcantes que tivemos”, conta.

Antologia
“O cara foi um profeta, um guru e infelizmente muita gente o vê como um drogado”, afirma Tika Seixas, fundador e vocalista da banda Dentadura Postiça, que homenageia Raul há mais de 10 anos. “Ele ficava indignado de cantar para uma plateia de 30 mil pessoas e só 12 entenderem o que ele estava querendo dizer com as letras”, afirma Tika, que nunca chegou a conhecer Raul mas, em um episódio curioso, conheceu a mãe do artista. “Eu vi o endereço em alguma antologia, liguei para a dona Maria Eugênia e disse que era um fã, que queria conhecê-la.” Ela o recebeu, mostrando objetos que pertenceram ao filho, como discos de ouro, fotografias, álbuns e pôsteres. “Ela me disse que não era fã, era mais como uma tiete”, conta, entre risos. “Acredito que Raul tentou falar, mas muita gente não entendeu a mensagem.”

Raul receberá homenagens em todo país amanhã, como na Passeata em São Paulo, evento que reunirá milhares de pessoas na capital, e que ocorre há 26 anos. Em Brasília, pela primeira vez, no próximo domingo, vai ocorrer a mesma marcha, com concentração na a Praça do Cebolão, no Setor Bancário Sul, às 13h. A ideia é inspirada no próprio cantor, que fez, em 1973, a Passeata Ouro de Tolo, no Rio de Janeiro, ao lado de Paulo Coelho. Raul andou pela ruas do centro da cidade, cantando a música e agregando transeuntes. “As gerações futuras precisam ter acesso a esse acervo enorme que existe do Raul. Ele continua muito mais vivo que muito artista que está vivo”, conta Sylvio Passos.

Linha do tempo de Raul Seixas


1962
Aos 17 anos, o cantor Raul Santos Seixas forma a primeira banda, na Bahia, os Relâmpagos do Rock, ao lado dos irmãos Délcio e Thildo Gama. Eles se apresentaram na televisão e no rádio à época.

1964
A banda troca de nome, passa a se chamar The Panthers, agora mais profissionais, chegaram até a gravar um disco, mas não foi lançado. Logo depois, o nome passou a ser em português.

1965
A convite do amigo Jerry Adriani, eles passaram a acompanhar alguns shows da Jovem Guarda, no Rio de Janeiro. Nesse ano, gravam um disco com a EMI sob o nome de Raulzito e os Panteras. O álbum foi um fracasso de vendas e resultou no fim do grupo.

1970
Apesar do fim do grupo, Raul é chamado para ser compositor e produtor na CBS. Nessa época, compôs vários sucessos para o pessoal da Jovem Guarda e assinados como Raulzito.

1971

Ainda na CBS, ele gravou às escondidas o disco-manifesto Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, com os amigos Sergio Sampaio, Miriam Batucada e Eddy Starr. Isso custou o emprego dele na gravadora.

1972

Raul inscreve duas músicas no Festival Internacional da Canção daquele ano, uma delas é a famosa Let me sing, Let me sing. Logo ele consegue contrato com a Phillips/Polygram.

1973
A estreia de Raul Seixas foi com o disco Krig, ha bandolo, no qual apresentou grandes sucessos, como Mosca na sopa, Metamorfose ambulante e Ouro de tolo.

1974
Raul Seixas e Paulo Coelho fundam a Sociedade Alternativa, baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley. A ditadura militar, então, os prendeu e os tortorou. Em seguida, foram obrigados a se exilar nos Estados Unidos.

1974
Meses depois, Raul volta do exílio e seu disco Gita, que estava pronto antes de ir para os Estados Unidos, estoura em vendas no país. O cantor recebeu o Disco de Ouro, com mais de 600 mil cópias vendidas.

1975

A gravadora Phillips/Polygram decide relançar o disco Os 24 maiores sucessos da Era do Rock, gravado originalmente em 1972, mas, agora, com a assinatura de Raul Seixas. Antes, o LP levou o nome da Banda Generation. Nesse ano, sai também o LP Novo Aeon.

1975
Raul casa-se com Glória Vaquer, uma norte-americana irmã do guitarrista da banda. É o segundo casamento do cantor — o primeiro foi em 1967, com Edith Wisner, que gerou uma filha, Simone. Com Glória, o artista tem a filha Scarlet.

1976
Raul lança o último disco pela Phillips/Polygram, Há dez mil anos atrás, que teve como grande sucesso a faixa homônima. Nesse ano, ele encerra a parceria com Paulo Coelho.

1977
Na gravadora WEA, Raul lança O dia em que a Terra parou, que inclui o sucesso Maluco beleza. No entanto, o álbum não foi um sucesso de vendas.

1978

Raul Seixas começa a ter vários problemas de saúde causados, principalmente, pelo alcoolismo. Nesse ano, passa a morar com Tania Barreto e lança o disco Mata virgem, com a ajuda de Paulo Coelho. As vendas não foram boas.

1979
Raul lança o último disco pela WEA, Por quem os sinos dobram. Sem muita divulgação, o álbum não faz o sucesso esperado.

1979
Raul separa-se de Tania e começa um processo de depressão. Nessa época, conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, que consegue ajudá-lo a se reerguer.

1980
De volta à CBS, Raul apresenta o álbum Abre-te Sésamo, com músicas que misturavam o humor e o rock. Mesmo nessa nova fase, as vendas continuaram baixas.

1982
Sem gravadora, Raul tem uma volta triunfal durante um show na Praia do Gonzaga, em Santos (SP). Mais de 100 mil pessoas cantaram juntas os maiores sucessos da carreira do cantor.

1983
Raul começa a fazer sucesso também com o público infantil, graças a presença no especial Plunct, plact, zum, exibido pela TV Globo. O cantor ficou conhecido nesse segmento como o Carimbador Maluco.

1984
Casa-se com Kika Seixas e lança o disco Metrô Linha 743, com músicas compostas por ele e por Kika. Há ainda o lançamento do disco Ao vivo — único e exclusivo.

1985
Apesar dos problemas de saúde, Raul Seixas faz um grande show no Estádio Lauro Gomes, em São Caetano do Sul, São Paulo. Nesse ano, ele se separa de Kika Seixas.

1986
Raul conhece Lena Coutinho, a quinta mulher. Começa uma relação mais próxima com Marcelo Nova e faz participações no disco Duplo sentido, da banda Camisa de Vênus.

1987
Três anos depois, ele lança um disco, o Uah-bap-lu-bap-lah-béin-bum. As vendas foram satisfatórias e levou o sucesso Cowboy fora da lei a tocar em rádios e tevês por todos o país.

1988
Raul lança o último disco solo da carreira, A pedra do Gênesis, que teve como sucesso Não quero mais andar na contra-mão. O amigo Marcelo Nova o convida para shows em Salvador, onde faz grande sucesso.

1989
Raul começa uma turnê com Marcelo Nova e faz 50 apresentações pelo Brasil. No entanto, por conta da saúde frágil, ele abre apenas a primeira parte dos shows, a outra é feita só com Marcelo Nova. Em 13 de agosto, sobe ao palco pela última vez, justamente no Ginásio Nilson Nelson.

1989
Raul Seixas é encontrado morto em 21 de agosto, vítima de uma parada cardíaca. O último disco dele (com Marcelo Nova), A panela do diabo, vendeu 150 mil cópias, que deu a ele um disco de ouro póstumo.



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