Artes visuais Exposição resgata legado de Abelardo da Hora com obras inéditas Mostra "Abelardo da Hora 90 anos: vida e arte" tem abertura nesta quarta, na Caixa Cultural

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 12/08/2015 11:00 Atualizado em: 12/08/2015 16:25













Abelardo da Hora (1924-2014) tinha o costume de receber bem quem ia à sua casa para falar sobre seu trabalho ou mesmo para jogar conversa fora. Comunicativo, cativava quem o conhecia e, ao mesmo tempo, devotava uma grande atenção ao seu trabalho como artista. A curiosidade o levou a uma grande versatilidade nos suportes: gravura, escultura, pintura, cerâmica, desenho. A exposição Abelardo da Hora 90 anos: vida e arte, aberta hoje, às 19h30, na Caixa Cultural, traz uma dupla missão: aproximá-lo da cidade que amou e de surpreender quem já conhece sua obra. Esta também é a primeira mostra após a morte do artista, em setembro de 2014, e conta com 110 trabalhos.

Depois de São Paulo, o Recife é a segunda cidade a receber a exposição, que também marca os 35 anos da Caixa Cultural. A curadoria é de Renato Magalhães Gouveia. “Abelardo é conhecido pelas esculturas de mulheres, mas estamos trazendo muitos projetos, esboços, coisas nunca vistas. A mostra exibe o processo de trabalho dele, desde o começo da concepção de uma obra. Além da exposição, pretendemos reabrir em setembro, como uma casa-museu, a residência dele na Rua do Sossego”, detalha Daniel da Hora, um dos netos do artista e diretor cultural do Instituto Abelardo da Hora.

Entre as peças que nunca foram expostas, está uma jarra de barro esculpida quando ele tinha aproximadamente 18 anos, enquanto trabalhou na Cerâmica São João, do industrial Ricardo Brennand, pai do artista Francisco Brennand. Este último também deu um depoimento para a exposição, que também terá vídeos nos quais ex-alunos, como Brennand, e amigos falam sobre a relação de Abelardo com eles.

A linha do tempo abarca o máximo possível dos trabalhos significativos do artista, até O artilheiro, última escultura completa de Abelardo, inaugurada em 31 de julho de 2014, dia do seu aniversário e pouco menos de dois meses antes de sua morte. Outra característica da mostra é a de que os visitantes podem tocar várias das peças sinalizadas com esta permissão.

+DESTAQUES
TORRE CINÉTICA
A Torre de Iluminação Cinética foi construída em 1961 na Praça da Torre e derrubada em 1964 pelo regime militar, por ser vista como monumento que repassaria mensagens subversivas contra a ditadura. A torre tinha dois metros e era feita com peças metálicas que se moviam com o vento. Na mostra, uma sala será reservada a esse trabalho, com fotos, desenhos, uma maquete e um depoimento de Abelardo sobre a obra. “Esta foi a primeira escultura de grande porte de arte cinética no Brasil”, lembra Abelardo da Hora Filho, diretor executivo do Instituto Abelardo da Hora, que negocia reconstrução da peça com a Prefeitura do Recife.

ENGAJAMENTO SOCIAL
Parte da obra de Abelardo era dedicada a denunciar as mazelas sociais, e seu posicionamento político de esquerda custou a ele não apenas 70 prisões, mas a destruição de obras como a série de desenhos Meninos do Recife, de 1962, publicada em um álbum com tiragem de mil exemplares. Este é um de seus trabalhos mais emblemáticos, mas cerca de 500 exemplares foram queimados pelos militares em plena Praça do Diario. O artista escondeu os originais, que atualmente, fazem parte do acervo do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). Entre as obras com a temática, está a escultura Menino de mocambo, de 1969, que foi exposta no Museu do Louvre no Ano do Brasil na França, em 2005.

INÉDITOS
Duas paredes vermelhas vão diferenciar as obras inéditas do resto da mostra. Paisagens urbanas do Recife, seja do Bairro de São José ou do Cais José Estelita, estão entre os materiais que o público não conhece. “Há desenhos em nanquim, esboços, obras que não estão nem assinadas. Encontramos muito material após a morte dele, ao arrumarmos suas coisas. Tem coisas desenhadas em papel de lixa, papel de pão. Dentro de um baú, encontrei obras inspiradas no candomblé que, por si só, valem outra mostra”, afirma Daniel da Hora.

HORA DE BRINCAR
A série de pinturas Hora de brincar, de 2004, é uma das atrações mais recentes da exposição. Nela, Abelardo volta a retratar crianças, mas dessa vez pela ótica lúdica das brincadeiras populares. Cabra-cega, pipa, catavento, rói-rói e pular corda foram relembradas por ele. Além da série, a Caixa Cultural vai abrigar maquetes com os brinquedos de concreto que ele desenhou para praças e parques da cidade enquanto foi diretor da Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura do Recife, no início dos anos 60, quando Miguel Arraes era prefeito da capital pernambucana.

MULHERES

As esculturas monumentais de concreto feitas por Abelardo fazem parte da paisagem do Recife, e a exposição traz obras dos mais variados tamanhos e matérias-primas, incluindo gesso e bronze, material mais durável. A seleção privilegiou muitas das mulheres esculpidas por ele, com as formas voluptuosas que o tornaram conhecido como um admirador das curvas femininas em seu trabalho. “O Instituto está, aos poucos, fazendo réplicas em bronze das esculturas de concreto já existentes”, anuncia Daniel da Hora.

DANÇAS BRASILEIRAS POPULARES DE CARNAVAL

A série de 17 desenhos a bico-de-pena foi produzida entre 1962 e 1965, sendo uma das mais conhecidas do artista. Ela foi publicada como álbum em 2004, nas comemorações de seus 80 anos, e terá espaço na mostra a partir de reproduções. Todos os originais, que retratavam o frevo, o maracatu e caboclinhos, foram vendidos assim que foram expostas em São Paulo, ainda nos anos 60. O registro dessa série só foi feito por meio de fotografias em alta qualidade realizadas nessa época. “Algumas das obras foram retocadas com Photoshop. Foi ele mesmo quem sugeriu isso e acompanhou todas as modificações”, recorda Daniel.

+CATÁLOGO
O lançamento do catálogo da exposição acontece em 1º de setembro, às 19h30, no auditório da Caixa Cultural, com participação do professor Antonio Alves. A publicação conta com depoimentos de artistas amigos, ou que foram seus alunos, com uma participação de nomes de gerações mais recentes, como Derlon e Joana Lira.

SERVIÇO
Abelardo da Hora 90 anos: Vida e Arte
Abertura: Hoje, às 19h30
Onde: Caixa Cultural Recife - Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife,
Visitação: Terça a sábado das 10h às 20h e aos domingos das 10h às 17h, até 27 de setembro
Quanto: Entrada gratuita
Informações: 3425-1900



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