Cultura
Espetáculo Cabaré Diversiones retoma ironia, deboche e questionamento social do teatro pernambucano
Remanescentes do Vivencial montam espetáculo Cabaré diversiones, no qual o corpo é veículo para ironia, deboche e assuntos mais sérios
Por: Isabelle Barros
Publicado em: 10/08/2015 09:10 Atualizado em: 20/08/2015 09:28
Carol Paz em cena no espetáculo Cabaré Diversiones. Foto: Guilherme Verissimo/DP/D.A Press |
“Acho que o mundo está mais careta, as coisas estão mais camufladas. Vivemos numa censura maior do que antes”. Essa é a opinião do ator e diretor Henrique Celibi, cuja carreira segue o impulso de usar a ironia, o deboche e a exposição do corpo para divertir e, muitas vezes, também falar de assuntos sérios por meio do riso. A verve afiada foi desenvolvida cedo, no Grupo de Teatro Vivencial, no qual entrou com apenas 14 anos e foi um dos protagonistas do desbunde pernambucano nos anos 1970 e 1980. Para trazer de volta esse espírito para os palcos, ele reuniu um novo elenco para montar o espetáculo Cabaré diversiones, que tem estreia prevista para o dia 20.
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A dramaturgia traz uma colagem de textos que fizeram parte de outro espetáculo, escrito em 1996, chamado Diálogos viperinos. O material, por sua vez, foi inspirado em trechos já encenados no Vivencial, além de partes de nomes como Glauco Mattoso. As ideias que já existiam foram atualizadas com referências a pessoas, símbolos e a fatos de hoje, como Dilma Rousseff, Fuleco, o Congresso Nacional e personagens locais. Temas atemporais, como a corrupção, marcam presença.
O fio condutor é uma aula de teatro, intercalada com o Grupo Tatu, em homenagem a Tatuagem. Uma relação mais franca com o corpo, trazida pela nudez em cena, e números de dublagem, atração do Vivencial Diversiones, são outros componentes do espetáculo. “A peça também traz uma crítica de como o teatro é feito e de como ele é visto por quem faz. O teatro perdeu sua característica revolucionária. Ainda sinto preconceito com o suposto ‘riso fácil’”. Outra coisa que se perdeu foi o compromisso com a arte. Brilhar ou ‘aparecer’ se tornou coisa mais importante.
Desta vez, o elenco é composto por dez integrantes: Karol Paz, Cindy Fragoso, Filipe Enndrio, Ítalo Lima, Robério Lucado, Scherlene Esse, Flávio Andrade, Cássio Bomfim, Carlos Malcom e a travesti Ágata Simões em participação especial. O próprio Celibi completa o grupo. Entre eles, há atores, um estilista, uma drag queen e uma bailarina. Segundo ele, a seleção dessas pessoas é outro ponto em comum com o modus operandi do Vivencial. “Escolhi a dedo pessoas que se encaixem no comportamento anárquico vivido pelo grupo. Não víamos como obrigação, por exemplo, colocar atores formados em nossos espetáculos. Tudo o que era rotulado como coisa menor transformávamos em vivência e verdade”.
A estética do espetáculo também passa pelo ato de transformar em arte o que foi jogado fora. Sacos de salgadinho viraram cartola, tampas de ventiladores viraram base para turbantes, entre outras soluções encontradas por Celibi, que é responsável pela cenografia, figurino, direção, texto e trilha sonora. A cenografia, assim como o fiigurino, é composta por materiais reciclados.
Diálogos
Cinderela
O clássico pernambucano Cinderela - a história que sua mãe não contou se originou de um texto apresentado na extinta boate Misty pelo próprio Celibi, nos anos 1980, com o nome A bicha burralheira - a história que sua mãe não contou. Celibi também participou da Trupe do Barulho.
Espaço Vivencial
Após cumprir temporada no Teatro Apolo, o espetáculo deve voltar a ser encenado na cidade no Espaço Vivencial, que tem previsão de abrir as portas em 2016. Um casarão no Bairro do Recife está sendo transformado em espaço cultural, como o Viver antecipou em matéria publicada no dia 27 de julho.
Cabaré Diversiones
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