Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco
Publicado em: 17/08/2015 09:45 Atualizado em: 17/08/2015 09:46
Livro é ilustrado com obras embçemáticas de episódios históricos do país, como a Batalha dos Guararapes. Foto: Companhia das Letras/Divulgação |
Corrupção existe em todos os países e períodos históricos, mas o brasileiro exagera, na visão de Evaldo Cabral de Mello, 79. Logo depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em março deste ano, o historiador pernambucano comentou, em breve entrevista, a falta de “noção de medida” do habitante médio dos trópicos. “Ele perde isso em qualquer atividade a que se dedique. Inclusive a de roubar. Se eu ainda escrevesse livros, escreveria De D. Pedro I a Lula, a megalomania brasileira”. Polêmicas à parte, o irmão do poeta João Cabral de Melo Neto é um dos responsáveis pela tarefa hercúlea de revisar e reinterpretar a história do país e, assim, contribuir com o entendimento da sociedade contemporânea.
Foto: Companhia das Letras/Divulgação |
Ao refletir sobre o passado, o levantamento permite ao leitor insights, como deixar de encarar a corrupção como “problema da biologia” e passar a entendê-la como construção social e histórica. Da mesma forma, a existência (ou persistência) do racismo é colocada sob lupa, ao ser associada ao fato de o Brasil ter sido o último país do Ocidente a abolir a escravidão. “Não se passa por isso impunemente. É algo presente no nosso dia a dia”, acrescenta Lília.
Outra questão investigada é a mistura entre as esferas pública e privada, responsável pelo “patrimonialismo”, a visão do estado como “grande mãe”. “Uns pensam que nada muda. História é mudança e reiteração. Por isso a ideia de biografia, pois a história não é seta evolutiva”.
Serviço
Lançamento de Brasil: uma biografia (Companhia das Letras, R$ 59,90), de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Palestra das autoras e sessão de autógrafos
Quando: segunda-feira (17), às 19h
Onde: Livraria Cultura no Paço Alfândega (Rua Madre de Deus, s/n, bairro do Recife)
Quanto: gratuito. Entrega de senhas às 18h
Informações: 2102-4033
Foto: Renato Parada/Divulgação |
Como surgiu a ideia de biografar o Brasil?
A partir de uma encomenda da editora Penguin junto com a Companhia das Letras. Vai ser publicado na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Espanha e em Portugal. Eu e a Heloísa buscamos uma história mais renovada, que passa por uma série de imagens renitentes, mitos que não que escondem, mas que revelam muito sobre o nosso país.
Então é uma tentativa estrangeira de entender o Brasil? Quem é o público?
O público vai mudando. O livro foi encomendado há quatro anos, quando o Brasil era a bola da vez, estava entrando como sede da Copa do Mundo, da Olimpíada, passava a ideia de ser o primeiro dos Brics... Era um gigante. Hoje, o mundo olha para nós com muita apreensão, preocupação. O Brasil chama a atenção. A diferença é que o motivo da atenção hoje é outro. Se, antes, éramos um país fora da curva, fora da crise, passamos por uma queda rápida.
Rever o passado ajuda a compreender o presente?
Sim. Nós temos certa dificuldade de entender nossos impasses, nossas contradições. O livro encara o Brasil como um personagem que tem altos e baixos. Não há uma história evolutiva. O fato de ter virado uma monarquia, de em Pernambuco ter havido um domínio holandês... São muitas discussões que não eliminam, mas incorporam as contradições.