Literatura
Um ano sem Ariano: livro inédito será editado em formato de livro-arte. Leia prefácio
Escritor Ariano Suassuna se dedicou à produção da obra por mais de 30 anos
Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco
Publicado em: 23/07/2015 09:50 Atualizado em: 22/07/2015 22:24
O jumento sedutor é considerado a maior obra do autor por ele próprio. Foto: DP/D.A. Press |
Em agosto, a empresa responsável por gerenciar a obra de Ariano Suassuna, Agência Riff, vai se reunir com a família do autor para definir detalhes a respeito da publicação de O jumento sedutor, livro inédito, a ser lançado postumamente pela editora José Olympio.
Saiba mais...
Um ano sem Ariano: os projetos para homenagear o autor de Auto da Compadecida
Suassuna ganha homenagem em SP com filmes, fotos e show
Após quatro décadas perdidos, textos de Raimundo Carrero e Ariano Suassuna viram livro
Novo livro de Ariano Suassuna é para poucos leitores, diz Carlos Newton Júnior
Festival A Letra e a Voz enxuga programação após corte de gastos
Dia dos Pais: filhos de Reginaldo Rossi, Ariano Suassuna, Samico, Lula Cardoso Ayres e Abelardo da Hora vivem entre o legado e a saudade
Poeta mineiro Afonso Henriques Neto duela com versos de Alberto Caeiro
Boa safra de lançamentos literários marca primeiro semestre do ano. Confira os essenciais
Um ano sem Ariano: Canal Brasil exibe programação dedicada ao escritor
Um ano sem Ariano: Adaptação de Auto da Compadecida para quadrinhos espera autorização
Para Carlos Newton Júnior, pesquisador especialista na obra de Ariano Suassuna, não se trata de um livro simples, e sim para poucos leitores, assim como Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. "Só mergulha nesse universo o leitor mais maduro. Este é um livro para leitores de Ariano".
Enxertados no livro mais recente, frisa Carlos Newton Júnior, estão vários poemas escritos pelo dramaturgo há muitos anos. Essa é uma das explicações para a ausência de obras de poesia na bibliografia do dramaturgo. "Ele postergou a publicação desses textos porque estava incluindo nessa última, que é toda em diálogos, com os personagens declamando". A orelha do livro foi escrita por Raimundo Carreiro, que se disse honrado com a tarefa.
Leia, abaixo, o texto enviado por Carrero à editora:
Raimundo Carrero prefacia o livro. Foto: Bernardo Dantas/ DP/D.A Press |
É mesmo uma Revelação ao trazer à luz o espírito vivo, mágico e grandioso do verdadeiro Brasil, a iluminar e esclarecer nossa formação inquieta e revolucionária, e ao desvendar, em estilo ou estilos que se consagram pela luminosa interpretação da cor, da raça e do sangue do brasileiro, seus amores, suas intrigas, e suas aventuras e, ainda mais, oferecendo-lhe um caminho e um destino como fizeram Dostoievski e Tólstói da Rússia, ou com Cervantes já fizera antes com a terra áspera e montanhosa da Espanha, transformada em Grande Teatro do Percy Lubock diz que Tólstoi escreveu Guerra e Paz com as duas mãos. Enquanto a esquerda escrevia a Epopéia russa, a direita redigia um romance. Ariano Suassuna, porém, escreve este livro com as duas mãos, o coração, a mente, os nervos e o sangue, dando-lhe a dimensão de notável obra-prima, dessas capazes de iluminar não apenas personagens e situações, mas de revelar os caminhos de um povo traça para formar a sua grandiosidade e sua força; por isso, está muito acima do que comumente se escreve neste e noutros países. Aqui, a literatura de ficção vai além daquilo que se convencionou chamar de textos literários, pelo menos no sentido que nós conhecemos. Personagens, por exemplo, não são apena metáforas e símbolos, assumem a dimensão de Mitos e se revelam e se transformam durante todo o livro.
O leitor que se prepare para ter visões deste Brasil que se levanta aqui e que, por razões óbvias, ainda não se dera totalmente a conhecer, mesmo em obras fundamentas como Os sertões, de Euclides da Cunha, ou Grande Sertão-Veredas, de Guimarães Rosa. Estruturado em canas teatrais, Repentes, Epístolas, cantares e cordel, o Livro se apresenta como um espetáculo de circo, ao mesmo tempo popular e erudito, com muitas variações e exibições que desafiam, grandemente o espectador. Porque aqui o leitor não é apenas um leitor, é muito mais do que isso, é leitor, participante e espectador, no que revoluciona toda a prosa brasileira, desde seus textos mais tradicionais e conservadores, passando pelas vanguardas, até o caminho pronto, a nos indicar o verdadeiro e definitivo destino da ficção nacional.
Então, o espectador, participante ou leitor, que se prepare para acompanhar as páginas que vão se agigantar revelando – para seguir a Revelação -, numa plena realização Estética, Social Religiosa e Profana, tudo isso que reunido forma a prosa literária e que é atributo dos escritores guiados pelo Espírito e pelo Sangue e não apenas pela caneta e pelo papel, como se dizia antigamente."
Raimundo Carrero, escritor
Leia especial sobre a morte de Ariano Suassuna
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL
MAIS LIDAS
ÚLTIMAS