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Entrevista

Tulipa Ruiz apresenta no Baile Perfumado música feita para pernambucanos

Canção "Virou" foi composta especialmente para o Abril pro Rock. Cantora também fala sobre gênero e arte em família

Publicado: 09/07/2015 às 15:30

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A cantora Tulipa Ruiz é uma das atrações do aniversário de três anos do Baile Perfumado, nesta sexta-feira (10), a partir das 22h. A cantora da voz aguda se apresenta à meia-noite e mostra o álbum Dancê, o terceiro da carreira, lançado em junho. "Fiz um disco para ser ouvido e celebrado com o corpo. Sabe quando você ouve uma música e mexe o pé antes de reconhecer qual está tocando? Essa é a ideia", comenta a artista. Em seguida, sobe ao palco o cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker, que comemora o troféu de melhor cantor na categoria canção popular no Prêmio da Música Brasileira, pelo disco Eu vou fazer uma macumba para te amarrar, maldito!.

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[SAIBAMAIS] Em Dancê, 10 das 11 canções inéditas foram composições de Tulipa em parceria com o irmão Gustavo Ruiz, que também assina a produção. "Pensando em imagem e cinema, costumo falar que Efêmera era um plano detalhe, Tudo tanto um plano um pouco mais aberto e o Dancê é um plano geral. Falo de coisas mais amplas que não têm gênero nem idade", explica a cantora que destaca as faixas Prumo, Reclame, Elixir, Proporcional e Algo maior para representar o astral do disco.

No palco, Tulipa será acompanhada por Gustavo e o pai, Luiz Chagas (guitarras), além dos músicos Marcio Arantes (baixo) e Caio Lopes (bateria). Ela ainda inclui canções dos discos anteriores em nova roupagem. "Num primeiro momento, é nervosa essa transposição de levar o que se grava em estúdio para o palco. Mas a gente está curtindo fazer o show e empolgado para tocar no Recife", confessa.

A relação de Tulipa com a capital pernambucana começou lá atrás. A primeira vez que ela cantou fora de São Paulo foi uma participação no show de Junio Barreto, no carnaval de 2007. Este ano, Tulipa foi uma das convidadas de Pupillo, baterista da Nação Zumbi, no show Frevo do mundo, idealizado por ele para o baile do Enquanto Isso na Sala da Justiça. Com a turnê Dancê Tulipa ainda passa por João Pessoa (sábado, 11), e por Natal (domingo, 12). Ingressos: R$ 80, R$ 40 (meia) e R$ 60 (1kg de alimento), à venda nas lojas Avesso, Passadisco e Chilli Beans. Informações: 2626-2605.

Entrevista// Tulipa Ruiz

"Quando cantoras brasileiras se reúnem, isso vira uma mostra feminina. E gosto de não estar presente nesses momentos"


Qual a mensagem principal do novo disco?
A minha primeira intuição é que queria fazer um disco dançante. Então a narrativa vem em cima disso. A coisa do dançante pode ser ouvida de várias maneiras. Você pode se relacionar com o disco, ouvindo tudo junto, e ir para vários lugares, ouvindo cada instrumento e melodia. É um disco que tem muitas camadas. Fiz um disco para ser ouvido e celebrado com o corpo, num primeiro momento, mas que pode ser decupado de outras formas depois que ele passa pelo corpo. Sabe quando você ouve uma música e mexe o pé antes de saber que música está tocando? Essa é a ideia.  

Como foi o processo de criação e escolha do repertório?
Primeiro saí de São Paulo para fazer um retiro com meu irmão, o Gustavo Ruiz, meu parceiro em 10 das 11 músicas. Ficamos reclusos 15 dias pensando no disco. E um mostrou pro outro o que já tinha de rascunho. Músicas novas também aconteceram nesses dias. E depois, em um segundo momento, fomos com a banda para o sítio para fazer os arranjos. Foi muito produtivo, nunca tinha feito uma imersão profunda com a banda. A gente rendeu muito tocando o dia inteiro, deu muito pano pras mangas. Eu até brincava que só via isso em programa da MTV e nunca tinha vivido algo assim. Nesse momento fizemos juntos Reclame e terminamos Algo maior. Para mim, foi uma experiência maravilhosa.

O que destaca que mudou na sua música em Dancê?
Pensando em imagem e cinema, costumo falar que Efêmera era um plano detalhe, Tudo tanto um plano um pouco mais aberto e o Dancê é um plano geral. Em Efêmera, tenho palavras muito pontuais, de colocar um salto e ir andando para a rua. No Tudo tanto o eu lírico é feminino. Já em Dancê, falo de coisas mais amplas que não têm gênero nem idade. Essa é a principal diferença.

Qual sonoridade você buscou?
A gente trouxe a prensença dos metais. Os arranjos foram feitos pelo Marcio Arantes e Jacques Mathias. Esse é um grande diferencial da minha sonoridade, que é consequência do que desenvolvemos como banda na estrada. Isso faz diferença. Quando se convive muito, a banda toca mais junta e isso fica nítido agora.

Como é essa relação dos irmãos na música?
A gente tem um ano de diferença. Então, desde a adolescência, nossos amigos são os mesmos, crescemos ouvindo a mesma vitrola. Digo que somos irmãos e brothers. Antes de começar a trabalhar, a gente já andava junto. Na hora de compor, nos entendemos muito bem. A gente produz de um jeito prático. Por conta da intimidade é possível experimentar. Ele escuta o que eu tenho e pensa a partir do que eu proponho. Também me mostra uma letra e tentamos sair do lugar comum. É muito legal.

E como é ter seu pai na banda?
Meu pai é uma das grandes influências, desde pequena ouço ele tocando. Ele é crítico musical e cresci lendo o que ele escrevia. Você vai mostrar algo novo para ele e ele já conhece há dois meses. Entre meus amigos meu pai é o cara que mais conhece de música. É uma influência constante.

Como foram escolhidas as participações do disco?
Um dos grandes baratos é pensar nas participações. É como receber visitas na sua casa. Eu já sabia que queria chamar o Manoel e o Felipe Cordeiro. Fizemos a música Virou especial para apresentar no Abril pro Rock, no Recife. Combinamos um almoço de família e compusemos a música em grupo. Até então, só tinha tocado no Recife, mas tinha esse desejo de registrar. As outras, as músicas que chamaram as participações.

No Brasil, vemos cada vez mais artistas dando voz às mulheres e aos desafios sociais que elas enfrentam. Você sempre se sentiu confortável neste papel?
O artista tem um desafio de estar presente e traduzir a época em que ele vive e todos os problemas sociais. Eu, como mulher e parte disso, tenho total consciência que devo ser uma espécie de porta-voz. Mas espero que meu trabalho transcenda essa coisa do gênero. Quando cantoras brasileiras se reúnem, isso vira uma mostra feminina. E gosto de não estar presente nesses momentos. Prefiro participar de festivais, onde tem de tudo. Não me enquadro nessa categoria.


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