Reconhecimento Reportagem do Diario sobre Casa-Grande & senzala recebe prêmio de jornalismo cultural O vigor e as contribuições da obra de Gilberto Freyre para o entendimento do Brasil motivaram o material publicado pelo Viver em 2013. O conjunto de matérias foi reconhecido como melhor reportagem cultural do Nordeste pelo Prêmio Petrobras de Jornalismo

Publicado em: 05/07/2015 14:05 Atualizado em: 05/07/2015 14:29

Arquivo/DP
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Repórter do Diario de Pernambuco desde 2012, Fellipe Torres foi premiado em cerimônia no Rio de Janeiro
Repórter do Diario de Pernambuco desde 2012, Fellipe Torres foi premiado em cerimônia no Rio de Janeiro
Das ideias polêmicas sobre miscigenação racial às ricas referências gastronômicas do povo brasileiro. Da postura refratária da academia de intelectuais em relação ao autor ao lugar indispensável na prateleira dos livros essenciais para o entendimento do país. A obra Casa-grande & senzala, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, atravessou oito décadas desde o lançamento sem perder a capacidade de estimular debates acalorados e construtivos. O vigor, as discordâncias e a contribuição do livro motivaram a série de reportagens 80 anos Casa-grande e senzala, publicada pelo Viver em 2013 e agora reconhecida como a melhor reportagem cultural do Nordeste pelo Prêmio Petrobras de Jornalismo, honraria concedida no Rio de Janeiro.  

Em cinco dias de reportagens, o jornalista Fellipe Torres destrinchou as teses propostas pelo livro e confrontou os textos com aspectos da sociedade contemporânea para observar o quanto continuam atuais os recortes alinhavados pelo sociólogo Gilberto Freyre. “Os mais gabaritados pesquisadores do assunto concordam que Casa-Grande & senzala é o livro mais influente já escrito no Brasil (embora as opiniões a respeito dele tenham se modificado várias vezes ao longo desses 80 anos). Na obra, Freyre enxerga as particularidades do povo brasileiro, o surgimento de uma identidade forjada a partir do encontro de raças, algo a ser visto como maravilhoso, pois nos dá uma riqueza e uma potencialidade cultural e humanitária”, avalia o repórter. A condecoração ocorreu na semana dos 115 anos de nascimento do estudioso pernambucano. 

A reportagem foi alicerçada com entrevistas de especialistas - foram mais de 20 pesquisadores entrevistados para a série. Entre eles, a biógrafa de Freyre, Maria Lúcia Pallares-Burke - e discorreu sobre cinco eixos temáticos: miscigenação racial, arquitetura, gastronomia, influências exercida em intelectuais e um inusitado diálogo com as ideias defendidas pelo abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco. A análise baseada em pesquisas feitas por órgãos de mapeamento social, como o IBGE, fundamentaram as matérias. 
  
A escolha da reportagem se deu depois de obedecidas duas etapas: a primeira foi fruto da avaliação feita pela Comissão de Pré-Seleção, composta por oito jornalistas. Em seguida, seis jornalistas elegeram os melhores trabalhos. Ao todo, na segunda edição do Prêmio Petrobras, foram inscritos 1.104 trabalhos, de todas as regiões do país, e premiados 17 na categoria nacional, 17 na regional e um na internacional. 

Outros pernambucanos foram contemplados: Ciara Carvalho e Julliana de Melo, do Portal NE10 (Jornal do Commercio), em Reportagem Responsabilidade Socioambiental, regional, pelo trabalho Pelo menos um - sobre a vida de meninos e meninas de Caruaru, dez anos após deixar uma organização não-governamental. A jornalista Fabiana Moraes, do Jornal do Commercio, levou o Grande Prêmio Petrobras, pela série Especial Casa-Grande e Senzala, em parceria com Diogo Guedes e Bruno Albertim. A matéria trata do cotidiano de jovens que sofrem exploração sexual.
Obra de Gilberto Freyre inspirou série de reportagem. Crédito: Fundação Gilberto Freyre/divulgação
Obra de Gilberto Freyre inspirou série de reportagem. Crédito: Fundação Gilberto Freyre/divulgação

A série de reportagens

Domingo, 1º de dezembro de 2013
A miscigenação de raças, fundamental para a formação da identidade brasileira, é abordada no primeiro capítulo da série de reportagens. O historiador Tiago de Melo e a antropóloga Fátima Quintas comentam o papel das diferentes etnias na construção linguística e na sociedade de modo geral. Versões da obra em diferentes idiomas são listadas.

Segunda, 02 de dezembro de 2013
No segundo dia, a série de reportagens mostra como a arquitetura da cidade mudou ao longo de oito décadas, mas continua refletindo a segregação social entre prédios e favelas. O percurso do bairro de Apipucos até o Bairro do Recife, feito por Freyre, serve de guia para o comparativo.

Terça, 03 de dezembro de 2013
O trunfo de perceber a gastronomia como elemento fundamental à formação da identidade brasileira, na obra de Freyre, é tema do terceiro dia da série. O antropólogo Raul Lody, a pesquisadora Maria Lectícia Cavalcanti e a antropóloga Fátima Quintas comentam 
o tema.

Quarta, 04 de dezembro de 2013
A obra Casa-grande & senzala norteou estudos em várias áreas do pensamento. Escritores como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Graciliano Ramos são apontados como autores que seguiram o caminho do mestre pernambucano de
Apipucos. 

Quinta, 05 de dezembro de 2013
Intitulada Um chá com intelectuais, a quinta reportagem da série explora os olhares em comum e os pontos de intersecção entre os pensamentos e produções de Gilberto Freyre e Joaquim Nabuco, justapostos por Fátima Quintas na obra Joaquim Nabuco e Gilberto Freyre face a face. 


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