Literatura Poeta mineiro Afonso Henriques Neto duela com versos de Alberto Caeiro Escritor lança livro e participa de debate nesta quinta-feira, no Espaço Pasárgada, com Cida Pedrosa, Luís Serguilha e Delmo Montenegro.

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/07/2015 11:32 Atualizado em:

Crédito: Acervo Pessoal
Crédito: Acervo Pessoal
A biografia de Alberto Caeiro - um dos principais heterônimos (autores fictícios) criados pelo poeta português Fernando Pessoa - aponta 1915 como ano da morte. Foi, portanto, contemporâneo do escritor mineiro Alphonsus de Guimaraens, expoente do simbolismo. Cem anos depois de a pena do lusitano ter sido posta de lado, coube ao neto do brasileiro criador de Ismália ressuscitar a faceta de Pessoa... para então matá-lo de novo. O encontro de duas gerações distintas só foi possível graças à liberdade poética tomada por Afonso Henriques Neto em A outra morte de Alberto Caeiro (Circuito, R$ 20). O livro retoma e enfrenta a obra do escritor em 49 poemas, propositalmente o mesmo número de O guardador de rebanhos, de Caeiro. Será lançado nesta quinta-feira (30), às 19h30, no Espaço Pasárgada (Rua da União, 263, Boa Vista), onde o autor também participa de debate com Cida Pedrosa, Luís Serguilha e Delmo Montenegro.

“É basicamente um diálogo. Na verdade, uma esgrima saudável meu com o Caeiro. Entre os heterônimos de Fernando Pessoa, sempre tive mais afinidade com Álvaro de Campos, mas Caeiro me agrada, apesar das diferenças ideológicas, de pensamentos e ideias. É um poeta de uma claridade solar, de texto brilhante e belíssimos poemas, mas que sempre me trouxe algum mal estar. Tenho um pé atrás”, esclarece Afonso Henriques. Entre as características mais destacadas do autor fictício, estão o naturalismo exacerbado, o perfil de pagão naturalista, a crença apenas na realidade. Para Caeiro, quaisquer questionamentos sobre o mistério da existência eram “doenças do espírito”. Álvaro de Campos e Fernando Pessoa, por outro lado, eram homens mergulhados no ceticismo e em dúvidas sobre a condição humana.

Segundo a pesquisadora pernambucana Bianca Campello, há quem relacione a existência dos heterônimos do poeta português a uma questão mediúnica. Em carta escrita a Adolfo Casais Monteiro, de 1935, sobre a gênese dos autores fictícios, Pessoa faz menção a um “dia triunfal”. Ele estava em pé à frente da máquina de escrever, como sempre ficava, e de repente vieram todos os poemas de O guardador de rebanhos. “Teria sido quase um transe. Mas vários estudiosos apontam que isso é lenda, pois você encontra várias versões dos poemas desse livro, com correções, anotações”.

A obra de Pessoa ficará em evidência no estado de 12 a 15 de novembro, quando a Festa Literária Internacional de Pernambuco dedica a edição ao escritor. O ensaísta Arnaldo Saraiva e a escritora Elisa Lucinda estão entre os nomes confirmados.
 
Várias faces
Não há consenso sobre o total de pseudônimos, heterônimos e semi-heterônimos utilizados por Fernando Pessoa. Segundo levantamento do biógrafo pernambucano José Paulo Cavalcanti, são mais de 120 nomes. Conheça os quatro mais importantes:

Álvaro de Campos
Engenheiro de origem portuguesa, o autor tinha constante sensação de não pertencimento, de se sentir estrangeiro. Manifestou várias fases poéticas. Bastante crítico, faz apologias da vida moderna.

Ricardo Reis
Médico que simboliza a herança clássica na literatura ocidental. Em sua obra, estão presentes elementos como simetria, harmonia e bucolismo. É tema recorrente dos textos a finitude da existência humana.

Alberto Caeiro
Camponês com pouca educação formal, embora considerado “mestre” entre os heterônimos. Sua linguagem estética é direta, concreta e simples. Era conhecido como poeta-filósofo. Morreu em 1915, de tuberculose.

Fernando Pessoa
A obra considerada “ortônima” de Pessoa é ligada à busca de um patriotismo perdido. Com um ar heroico, mítico e trágico, teve influência de doutrinas religiosas e sociedades secretas. É considerado simbolista e modernista.
 
Serviço
Lançamento de A outra morte de Alberto Caeiro, de Afonso Henriques Neto (Circuito, R$ 20), e debate com os escritores Cida Pedrosa, Luís Serguilha e Delmo Montenegro.
Quando: quinta-feira (30), às 19h
Onde: Espaço Pasárgada (Rua da União, 263, Boa Vista)
Quanto: entrada gratuita.
 


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