Diario de Pernambuco
Busca
Literatura Modinha dos livros de colorir se desdobra em quadros decorativos e grupos virtuais Vendas de dois dos títulos mais famosos já ultrapassam a marca de 1 milhão de exemplares, enquanto obras motivam encontro entre leitores

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 05/07/2015 09:50 Atualizado em: 03/07/2015 15:19


Comunidades virtuais reúnem registros dos leitores. Fotos: Facebook/Reprodução
Comunidades virtuais reúnem registros dos leitores. Fotos: Facebook/Reprodução


As caixas de lápis de colorir remetem aos meses de janeiro da infância de Camilla, quando a mãe a acompanhava às papelarias para a compra do material escolar. A escolha das cores, porém, amadureceu: nos livros de colorir para adultos, cada tom deve harmonizar-se rigorosamente a outro, de modo a compor uma modesta "obra de arte" - que pode ser publicada na internet ou ganhar moldura e enfeitar as paredes de casa.

Camilla é adepta dos livros de colorir há meses. Foto: Facebook/Reprodução
Camilla é adepta dos livros de colorir há meses. Foto: Facebook/Reprodução
Funcionária de logística de uma multinacional, Camilla Mello encontrou na tendência uma forma de terapia, assim como vêm fazendo milhares de brasileiros desde o lançamento de títulos pioneiros como Floresta encantada (R$ 29,90) e Jardim secreto (R$ 29,90), ambos encartados no Brasil pela editora Sextante - juntos, os dois livros ultrapassam a marca de 1 milhão de exemplares vendidos este ano. Agora, ela endossa uma corrente de leitores ativos que desdobram a "modinha" em outros canais: do compartilhamento em redes sociais aos encontros em espaços públicos para troca de dicas sobre as pinturas.

Para Camilla, que conheceu os livros através de postagens de blogueiras no Instagram, o apelo lúdico é uma das principais motivações para colorir mais páginas a cada dia: "Foi a isso que me apeguei para tomar coragem e comprar meu primeiro livro de colorir para adultos. E não é que funcionou?!", brinca. No Facebook, o mesmo argumento é reproduzido em grupos como o Livros de colorir DICAS (4.700 membros) e Livros de colorir antiestresse PE (1.500 membros), dedicados ao tema.

Nas postagens, fotos dos desenhos já concluídos se misturam a sugestões - como o uso de aquarela, giz de cera, maquiagem e tintas em relevo para substituir o tradicional lápis de cor. "Testei e deu certo", dizem uns. "Vejam como ficou minha pintura", exibem outros. Em alguns estados do Brasil, essas comunidades virtuais já agendam encontros em parques públicos e livrarias, para colorir em grupo e trocar experiências. Entre os pernambucanos, por enquanto, a conversa se restringe ao ambiente virtual.

"Essa possibilidade de socialização é outra consequência benéfica dos livros de colorir, que podem ser usados como recurso terapêutico", explica a terapeuta ocupacional Karla Emanuella Amorim, que considera os títulos uma possível fuga ao isolamento. "[Os livros] Têm se mostrado mais poderosos do que uma febre passageira. Além do contato entre os adeptos, há o desafio da pintura, que proporciona a sensação de satisfação consigo mesmo", explica.



Pensando nisso, algumas obras têm sido encartadas com páginas sem impressão no verso - que podem ser emoduradas e transformadas em objetos de decoração. É o caso, por exemplo, de O mundo encantado das cores (Butterfly Editora, R$ 29,90), cujas folhas podem ser destacadas. Além do contorno de mandalas, animais e flores, o título reúne frases inspiradoras de Mario Quintana, Victor Hugo, Érico Veríssimo, entre outros, que podem virar cartazes motivacionais.

“[Os livros] promovem uma desaceleração. Se tornam uma ferramenta, ou mesmo um remédio que conduz a um desligamento do cotidiano”, explica o ilustrador Paulo Debs, autor de O Jardim do Éden (Editora Thomas Nelson Brasil, R$ 26,90), finalizado em cerca de dez dias. Segundo ele, quanto mais detalhes agregados aos desenhos, mais potencializados são os efeitos. Ilustrador experiente de títulos infantis - como O linguado linguarudo e Um casebre bem firmado e um castelo nada encantado - vê na desaceleração o principal atrativo para os adultos.

Para a ilustradora Maria Alice Ximenes, consultora de imagem e autora do livro de colorir Entre amigas (Estação das Letras, R$ 35), essa cadeia de benefícios estimula o consumo e, consequentemente, a produção de novos títulos, que se desdobram em diferentes eixos temáticos. Em menos de um mês, produziu as ilustrações baseadas no universo da moda. "Minhas personagens foram inspiradas em garotas que conheço e que possuem universos e estilos de vida muito diferentes", explica.



O título integra uma lista de lançamentos recentes com temas inusitados - desde os rabiscos conhecidos como doodles (em Doodle, a invasão, Editora Pandorga, R$ 29,90) até as passagens bíblicas (em Jardim do Éden, Editora Thomas Nelson Brasil, R$ 26,90). A editora Sextante, “mãe” dos sucessos Floresta encantada e Jardim secreto, também anunciou esta semana o lançamento de duas novas obras: Gato mania e Segredos de Paris.

>> DUAS PERGUNTAS: Karla Emanuella Amorim, terapeuta ocupacional

Por que os livros de colorir ganharam tanto espaço?

Nossa vida anda tão corrida, que é cada vez mais difícil parar para ter um tempo tranquilo, uma atividade de lazer. Esses livros possibilitam essa quebra na rotina, algo que buscamos cada vez mais. Além do apelo lúdico, que nos remete à infância.

E quais os benefícios?

Os livros podem ser usados para trabalhar componentes motores e também componentes cognitivos, como atenção, concentração, e até a própria criatividade. Eles podem ser vistos como um recurso terapêutico precioso, desde que trabalhados por um profissional. Mas no dia a dia também funcionam como um lazer, como um tempo para si mesmo. Podem ser usados na sala de espera de um consultório médico, no avião.



>> NÚMEROS
Fonte: Publish News e Bookscom Brasil

4 livros de colorir entre os 10 mais vendidos de não-ficção, na primeira semana de junho

46.667 exemplares de livros de colorir vendidos pela Sextante durante a primeira semana de junho

2,5 milhões faturados pelo setor, entre janeiro e maio de 2015

Mais de 1 milhão de exemplares vendidos em 2015, somando Floresta encantada e Jardim secreto




MAIS NOTÍCIAS DO CANAL