Artes visuais Impacto do frevo no presente é mote da exposição "Faz que vai" Barbara Wagner e Benjamin de Burca trazem questionamentos em fotos e vídeos sobre a apropriação dessa manifestação cultural como patrimônio local

Por: Isabelle Barros

Publicado em: 01/07/2015 11:30 Atualizado em: 01/07/2015 12:10

Imagens feitas com impressão lenticular, sobrepostas, dão a ilusão de efeito 3D. . Crédito: Barbara Wagner e Benjamin de Burca/Divulgação
Imagens feitas com impressão lenticular, sobrepostas, dão a ilusão de efeito 3D. . Crédito: Barbara Wagner e Benjamin de Burca/Divulgação


Em Pernambuco, o frevo se tornou ponto pacífico de uma sociedade que valoriza a noção de tradição com um grande fervor. Desse lugar formador de identidade que essa manifestação cultural ocupa por aqui, os artistas visuais Barbara Wagner e Benjamin de Burca desfiaram os questionamentos que levaram à mostra Faz que vai…, cuja abertura acontece hoje, às 19h, no Capibaribe Centro da Imagem, na Boa Vista. A partir da produção e seleção de imagens no acervo da Fundação Joaquim Nabuco, seja em fotos ou em vídeos, a dupla coloca em perspectiva passado e presente.

O casal começou a pesquisar quais as ramificações que o frevo passou a ter na arte e na cultura, desde sua repressão como dança surgida dos negros e da capoeira até a apropriação dessa manifestação cultural pelo poder local, seja estatal ou empresarial. A ideia, segundo Bárbara e Benjamin, “é entender o que faz as manifestações populares sobreviverem e ver como elas se modificam”. A partir daí, os dois decidiram entrar em contato com quatro passistas de frevo que, no resto do ano, se dedicam a outras danças, além de estudar e trabalhar. “O passista de frevo de hoje não tem um discurso purista, ao contrário, eles são muito pragmáticos. Como esses corpos conseguem lidar entre o local e o global?”, emendam os artistas.

Como desdobramento, a mostra apresenta uma série de fotos em impressão lenticular, com duas imagens sobrepostas que dão a ilusão de efeito 3D. Cada um desses trabalhos traz essas pessoas paramentadas como passistas e também como dançarinos de outros ritmos que adotam ao longo do ano: Brhunno Henryque é envolvido com suingueira e quadrilhas juninas; Ryan Neves também faz shows como drag queen na Boate MKB; Eduarda Lemos, conhecida como Tchanna, participa de bailes funk e competições de brega e Edson Flávio é professor de uma dança chamada Vogue, inspirada em poses típicas de modelos.

A outra obra concebida por Bárbara e Benjamin foi um video-ensaio com esses quatro dançarinos, nos quais eles fazem tanto os passos do frevo quanto os das danças que eles costumam praticar ao longo do ano, a partir das batidas por minuto do funk, da suingueira, da música eletrônica e do vogue. Na edição, foi adicionada uma percussão de frevo concebida por Cícero Batom, Wellington Jamaica e Waltinho D’Souza, da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério.

A escolha pelo frevo, segundo Bárbara, também fez os artistas refletir sobre a abordagem da dança e da música nas artes visuais locais. “Vicente do Rêgo Monteiro, Lula Cardoso Ayres, Cícero Dias, todos esses grandes artistas modernistas pernambucanos incluíram o frevo em sua obra. Mas, atualmente, ele se tornou algo tão agressivamente propagandístico que os artistas parecem não querer lidar muito com ele”. O recorte documental, com lupa, sobre a sociedade e as contradições locais também são outra característica do trabalho de Bárbara, que abordou as relações humanas no ensaio fotográfico Brasília Teimosa, de 2006, e a relação entre arte e mercado imobiliário na exposição Edifício Recife, do ano passado, esta última concebida junto com o marido.



SAIBA MAIS

- JUVENTINO GOMES

Outra faceta da exposição encontrada no acervo da Fundaj está em duas pequenas imagens de um passista de frevo feitas em 1945 pelo fotógrafo amador Juventino Gomes de Albuquerque. Uma delas mostra o contexto original, em que o passista está cercado por transeuntes, e outra fotomonagem, na qual ele está descolado de seu contexto. Barbara e Benjamin fizeram uma pequena intervenção no chapéu deste homem usando a mesma lógica da impressão lenticular.

-FERNANDO SPENCER
Outra forma de contextualizar o contexto no qual surgiu o frevo está na exibição de outro vídeo durante a exposição, intitulado Trajetória do frevo (1988), de Fernando Spencer, com cerca de oito minutos de duração. O trabalho também está disponível via Youtube.

-NELSON FERREIRA
Durante a pesquisa para a mostra, Barbara e Benjamin também acharam a partitura de um frevo-canção nunca gravado de Nelson Ferreira, chamado O picadinho do faz que vai mas não vai. “Nós encontramos esse material em um estágio adiantado da pesquisa, quando já tínhamos o nome da mostra e o vídeo. Foi uma grande coincidência”. A ideia é chamar maestros e músicos locais para executar essa partitura em encontros às quartas-feiras, até agosto, mas os convidados ainda não estão totalmente definidos.



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