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Carreira Homofóbico em Babilônia, Bruno Gissoni usa salto alto no teatro Ator está em cartaz, em São Paulo, no espetáculo Dzi Croquettes em Bandália

Publicado em: 10/07/2015 20:00 Atualizado em: 10/07/2015 18:26

Bruno Gissoni com o elenco de Dzi Croquettes em Bandália. Foto: Divulgação
Bruno Gissoni com o elenco de Dzi Croquettes em Bandália. Foto: Divulgação

A fila quase contornava o quarteirão onde se localiza o Teatro João Caetano, em maio, com os fãs ansiosos por ver a volta dos Dzi Croquettes. Como muitos não conseguiram assistir ao espetáculo, o grupo que, há 40 anos, surgiu com uma nova proposta cênica para bagunçar os palcos do Brasil e da Europa está de volta, agora em um espaço maior, o HSBC Brasil (São Paulo), que vai abrigar, sábado (11), e domingo (12), a peça Dzi Croquettes em Bandália.

A apresentação traz três remanescentes da formação original que, de alguma forma, participam de sua criação: Ciro Barcelos, na concepção, direção, texto e atuação, Claudio Tovar no figurino, e Bayard Tonelli, em participação especial.

Entre os novos recrutados, o mais conhecido é o ator Bruno Gissoni, que vive uma bela oportunidade proporcionada pela arte: se, no teatro, é visto de salto alto, maquiado e com figurinos femininos, na televisão, ele vive Guto, personagem com forte tendência homofóbica, na novela Babilônia.

Bruno Gissoni aparece em cena de salto, maquiagem e figurino feminino. Foto: Antonio Guerreiro
Bruno Gissoni aparece em cena de salto, maquiagem e figurino feminino. Foto: Antonio Guerreiro

"Além de uma transgressão típica do Dzi, é também uma desconstrução, um trabalho no qual vou realmente contra tudo que aprendi na vida, todos os moldes que a sociedade fez você ter", comenta Gissoni. "No palco, vivo algo completamente oposto do que faço em Babilônia, pois Guto é um tipo de cidadão que a sociedade tenta criar. Claro que se trata de uma situação extremada esse cidadão homofóbico, mas, infelizmente, na sociedade em que vivemos hoje, esse pensamento homofóbico ainda é comum, mesmo que muitos não ajam da mesma forma que o Guto. O triste é que pensam assim, são preconceituosos sem saber que são. E esse é o buraco entre os dois personagens que faço."

Nascido na década de 1970, época nada propícia para liberalismos o Dzi Croquettes era comandado pelo bailarino americano Lennie Dale, que trazia uma visão andrógina para as artes teatrais. Com suas piadas escrachadas, os 13 rapazes eram, por si só, uma afronta ao regime militar.

E em qual tipo de transgressão o Dzi se encaixaria hoje? "Aquela em que, por meio da arte e da liberação dos sentidos, a gente ainda se torne referência para as novas gerações buscarem alternativa para o momento em que vivemos. Uma pseudodemocracia, atrelada a uma economia perversa e manipulada por interesses coloniais e na qual somos escravos desse sistema, ansiosos por uma saída", conta Bayard Tonelli.

O ponto de partida do espetáculo é o documentário Dzi Croquettes de Tatiana Issa e Raphael Alvarez, lançado em 2009. Em cena, os garotos assistem às cenas do filme e decidem tentar uma experiência como a dos Croquettes, depois do encontro com um remanescente (Barcelos, interpretando a si mesmo).

Mesmo que os tempos atuais sejam mais amenos, o espírito contestador é o mesmo. "Nesses anos de retorno do Dzi, é fascinante acompanhar o crescimento e conscientização dos novos Dzi a se entregarem à proposta", observa Tonelli.

A apresentação de domingo vai contar com duas participações especiais: a dançarina de flamenco Carmen La Talegona e Filipe Catto, que vai cantar o bolero Dois pra Lá, Dois pra Cá.

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