Literatura Ferreira Gullar fala sobre poesia contemporânea em entrevista A obra completa do autor maranhense ganha edição ampliada e revisada

Por: Vanessa Aquino - Correio Braziliense

Publicado em: 26/07/2015 13:05 Atualizado em:

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O autor maranhense Ferreira Gullar não esconde a inquietação que o faz poeta — aliás, considerado por muitos como o maior autor vivo do Brasil. A poesia o impulsionou a ler e escrever a vida, em momentos dramáticos de exílio e de lutas políticas e sociais. Toda poesia — obra poética completa do poeta, crítico de arte, dramaturgo e tradutor — acaba de ganhar edição revista e ampliada, após cinco anos fora do mercado. Além da inclusão de Em alguma parte alguma, o mais recente livro de Ferreira Gullar, a coletânea recebeu intenso trabalho de curadoria e revisão de poemas.

Ao Correio, Gullar avaliou as produções da poesia contemporânea e evocou alguns momentos marcantes da própria trajetória, como o engajamento político e social que o levou à literatura de cordel e à composição de Poema sujo, tido como um dos melhores poemas do século 20, que o levou a acessar a memória e chegar ao limite da criação, no exílio, quando pensava ser aquele o último poema.

Um dos destaques da coletânea é Romances de cordel (1962-1967), que o poeta fez para aderir à luta pela reforma agrária. Os poemas foram escritos quando Gullar foi diretor do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). Época em que se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Por esse motivo, os poemas são engajados. O primeiro poema do gênero, João Boa-Morte, conta a história de um lavrador que sofre na mão dos latifundiários e somente vê o futuro quando se junta a outros da mesma classe.

Sentido da poesia
Pode nascer da dor, mas a poesia serve para dar alegria às pessoas. São muitos os poetas brasileiros bons. Se eu deixar de falar de algum, vou ofender. O que posso dizer é que tem muito poeta de qualidade, que estão escrevendo hoje, que pertencem a gerações posteriores à minha, poetas jovens que estão publicando seus primeiros poemas e com qualidade. Sobre eu ser um grande poeta, é uma opinião das pessoas que me deixa muito feliz. Mas não sou eu que tenho essa opinião. Seria falta de humildade achar uma coisa dessas.

Poesia contemporânea
Não vou mencionar um poeta contemporâneo específico, porque são vários, mas há uma geração que está produzindo bons poemas. Agora, como sempre, a maior parte não tem a mesma qualidade. Não acho que exista uma crise na poesia contemporânea. A verdade é que nem todas as épocas têm poetas do mesmo nível. Isso não significa crise, propriamente. Às vezes, você tem uma série de poetas bons em um mesmo período, e, às vezes, não. Porque isso depende da personalidade de cada um, se nascem ou não pessoas com um talento maior ou não. Mas eu concordo que não há, nas últimas gerações mais recentes, poetas do nível de um Thomas Stearns Eliot, de um Carlos Drummond de Andrade, mas isso não quer dizer que a poesia esteja em crise, porque há alguns poetas que são de qualidade. Ninguém tem a fórmula para fazer nascer um Carlos Drummond de Andrade.


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