Sétima arte
Cinema chileno se destaca entre os produzidos na América Latina
Títulos como No e Machuca ganharam prêmios e foram sucesso de público
Por: Anna Beatriz Lisboa - Especial para o Correio
Publicado em: 04/07/2015 09:17 Atualizado em:
Edison Cájas é um dos destaques do novo cinema chileno - Foto: Sinclair Maia/Divulgação |
Ao longo dos anos 2000, o cinema chileno estabeleceu-se como uma das filmografias mais instigantes da América Latina, ganhando visibilidade em festivais como Cannes, Berlim, Sundance e até mesmo a primeira indicação do país ao Oscar — em 2012, com o longa-metragem No, de Pablo Larraín. O mesmo diretor levou este ano o prêmio do grande júri do Festival de Berlim, com El club.
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Assim como o Brasil, o país andino vem registrando um crescimento da produção audiovisual, sendo que, no ano passado, 40 filmes chilenos chegaram às salas comerciais — a maior quantidade de estreias nacionais na história —, levando 586 mil espectadores aos cinemas, segundo dados da Cámara de Exhibidores Multisalas de Chile.
Além da abertura política, o cinema local vem sendo incentivado pelo Fundo Audiovisual que, estabelecido em 2004, financia a produção e a distribuição de obras cinematográficas. Porém, os desafios que o país vizinho enfrenta para difundir o cinema internamente são semelhantes aos do mercado audiovisual brasileiro. Desde a pouca diversidade de gêneros que chegam às salas comerciais — dos cinco filmes chilenos mais vistos no ano passado, três são comédias —, até a formação de público e a profissionalização da indústria.
Duas perguntas para Edison Cájas
O documentário El vals de los inútiles enfoca dois personagens: um empresário que esteve preso durante a ditadura e um jovem estudante. Qual é o significado desse encontro de gerações no filme?
Não acredito que eles façam parte de momentos distintos da história do Chile. Acho que eles estão entrelaçados. Por isso, juntamos os dois no filme. Sempre pensei que a história política do Chile depois do golpe é uma só, inclusive depois que acabaram com a ditadura de Pinochet com o plebiscito e tal. O que continua acontecendo nos anos 1990 é parte dessa história. Digo que o movimento estudantil é como a ponta de um iceberg e tudo o que vem abaixo é a ditadura que segue presente. O maior feito de Pinochet foi deixar uma marca que segue em toda a sociedade e acho que ainda terão de passar umas duas gerações para que isso acabe. O filme fala um pouco da recuperação da confiança no outro, nas ruas, na ordem social. Porque sinto que o que deixou Pinochet, além de tudo, foi o medo.
Que relação você vê entre os movimentos pela educação pública no Chile em 2011 e as manifestações que tomaram conta do Brasil a partir de 2013?
Creio que é o mesmo movimento histórico. Lembro que quando os protestos aconteceram no Chile, o mesmo acontecia no Egito, na Turquia, na Argentina… No Brasil aconteceu um pouquinho depois, mas tem a ver com a mesma corrente histórica. Na filosofia, dizem que existe uma especie de corrente subterrânea na consciência, essa coisa que faz uma pessoa na Finlândia e outra na China estarem fazendo a mesma coisa. Sinto que alguma coisa aconteceu nesse ano, que esteve em todas as partes.
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