Diario de Pernambuco
Busca
Entrevista "Quem deve aparecer é Jesus, não os padres", diz Frei Damião Silva sobre a fama Neste sábado, o pároco grava DVD com repertório do álbum Só ele, no Teatro Guararapes, o primeiro com faixas autorais

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/06/2015 08:20 Atualizado em: 05/06/2015 15:13

Frei Damião completou 15 anos de sacerdócio em maio deste ano. Foto: Facebook/Reprodução
Frei Damião completou 15 anos de sacerdócio em maio deste ano. Foto: Facebook/Reprodução


Com 15 anos de sacerdócio, recém-completados no mês passado, o paraibano radicado em Pernambuco, Frei Damião Silva, se prepara para gravar a versão em DVD do terceiro álbum da carreira, intitulado Só Ele, o primeiro com canções autorais. As gravações estão programadas para este sábado, no Teatro Guararapes, durante show de lançamento do disco.

“O título indica que eu quis chamar a atenção para a importância de Deus. Só Ele é capaz de nutrir nosso espírito”, diz o frei, que classifica as músicas como mensagens de esperança e superação. Em meio aos versos, orações, que ele chama de “marca registrada” do próprio trabalho.

Em entrevista ao Viver, Frei Damião falou sobre o momento mais popular da Igreja católica, as declarações do Papa Francisco e a tolerância às minorias. Comentou também sobre o poder das redes sociais e sobre o conflito entre a figura do sacerdote tradicional e a fama de padres que também são cantores. “Quem deve aparecer é Jesus, não os padres”, sentenciou. À frente da Paróquia de Santo Amaro, em Jaboatão dos Guararapes, ele também apresenta o programa Encontro com Deus, na Clube FM (99.1).

O frei comanda programa na Rádio Clube FM. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
O frei comanda programa na Rádio Clube FM. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press


>> ENTREVISTA: FREI DAMIÃO

Quantas faixas estarão no DVD?

São 14 canções. Entre elas, 12 são do álbum mais recente, Só Ele. Duas são do CD antigo, Em Jesus. Sete canções são de autoria própria, são frutos de orações. Em peregrinações nos santuários marianos, na Itália, tive essas inspirações. Vêm de momentos de interiorização. Muitas músicas nasceram, ainda, de momentos de evangelização, após missas e pregações.

Quanto tempo levou para concluir as composições?
Um ano e meio entre as primeiras composições até a conclusão do CD e gravação do DVD.

E quando o DVD chegará às lojas?
Provavelmente no Natal.

Quais as participações especiais? Como foram escolhidas?
Além da participação de pessoas do nosso ministério, teremos Dudu do Acordeon, que toca seu instrumento na canção Deus chega na hora. Participa também uma criança de dez anos, da nossa paróquia, que vai cantar comigo em Deus te faz um vencedor.

Em que momento o senhor se descobriu cantor? Foi antes ou após os votos do sacerdócio?

Antes de me tornar padre, ainda no período de formação, a música era muito presente no coro da igreja. Então, eu já era motivado a desenvolver essas capacidades. Mas esse dom despontou no ano de 1999, quando assumi o movimento Hora da Graça, em Goiana. É um momento de muita oração. Um momento de adoração ao santíssimo sacramento, uma cerimônia presencial, com o povo. Atraia cerca de 1.500 pessoas. Em 2005, já como padre, comecei a promover ensaios de músicas, com repertório de outros cantores religiosos, com temas de fé, adoração, superação. Gravei o primeiro álbum em 2008, Mais que vencedor. Este último, Só ele, é meu terceiro disco.

Acompanha a interação virtual de padres como Fábio de Melo, conhecido pela informalidade em seu perfil no Twitter? O que pensa a respeito dessa ferramenta de contato com os fiéis?
Acompanho no sentido de pesquisar, de olhar. Tenho acompanhado. A mídia, as redes sociais em geral, tem esse poder de evangelização, de fazer a mensagem chegar mais rapidamente ao público. Padres como Marcelo [Rossi], Reginaldo [Manzotti], Fábio [de Melo], além de personalidades de outras vertentes religiosas, aumentam o alcance das suas mensagens com essas ferramentas. É semelhante ao efeito que a Rádio Clube, na qual gravo, faz por mim. As pessoas me reconhecem mais facilmente, são mais alcançadas. A Igreja, o papa Francisco, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) têm incentivado a evangelização por meio das redes sociais. Por isso o papa Francisco está no Instagram, no Twitter…

A Igreja Católica parece estar mais popular entre a sociedade contemporânea, mesmo entre os não-católicos, especialmente através das declarações do Papa Francisco, consideradas libertárias. Como vê esse momento?
Eu sei que, em cada tempo, o Espírito Santo renova as forças da Igreja, assim como foi com o papa João Paulo II, com o papa Bento XVI… Cada um com sua missão, com sua particularidade. Assim, de forma muito especial, a Igreja e o Espírito Santo convocaram o Papa Francisco. O papa, do meu ponto de vista, aproximou as igrejas das comunidades. Esse momento é reflexo disso. Ele consegue dialogar com as diversas realidades que o mundo apresenta. Se destaca, quebra paradigmas, traz novos conceitos de cristianismo, foge à maneira mais ortodoxa de praticar e pregar o catolicismo.

Frei Damião autografou disco Só Ele para os fiéis. Foto: Facebook/Reprodução
Frei Damião autografou disco Só Ele para os fiéis. Foto: Facebook/Reprodução
Acha que o exercício da tolerância às minorias ajuda a aproximar os fiés da congregação?

Até certo ponto. A tolerância aproxima, mas isso significa tolerar, aceitar a diferença do outro, sem, entretanto, perder a sua ou a minha individualidade. Algumas minorias tentam se impor. Tolerar não significa aceitar imposições. Mas, a grosso modo, sim, essa tolerância aproxima a igreja das minorias.

Como vê a transformação da figura do sacerdote numa espécie de celebridade?
O padre, no seu exercício do ministério, já é uma figura pública. A música, mais ainda, atrai os fiéis. E isso é bom, isso nos dá um alcance que normalmente não teríamos. Essa coisa da celebridade, porém, isso é ruim. Pode levar a pessoa a perder a sua essência, a essência da sua vocação. Porque somos apenas servos. Quem deve aparecer é Jesus, não os padres.

O excesso de exposição pública pode desencadear males psicológicos, como depressão, síndrome do pânico, anorexia e outros transtornos... Já se sentiu pressionado ou prejudicado nesse sentido?

O fato de eu estar numa comunidade paroquial evita esses males. Estar na comunidade, ser parte dela, estar em contato com as pessoas durante 24 horas… isso previne o isolamento, os transtornos. Na nossa comunidade, nós já acordamos com alguém por perto. Há convivência em grupo a todo tempo. Mas, talvez, quando o padre não tem paróquia, é somente cantor, fica só no palco… talvez isso o prejudique. O palco sugere esse tipo de transtorno. O padre, como qualquer pessoa, pode se fechar em si. O que me ajuda é poder evangelizar através da música, mas sem perder o dia a dia da paróquia, da igreja. Assim, não adoeço.

O que costuma fazer quando não está exercendo publicamente o sacerdócio?

Eu curto muito a família, a estrutura familiar. Quando não estou a serviço do sacerdócio, eu me encontro com famílias que fazem parte da Igreja, da comunidade. Estar próximo às famílias me faz um bem imenso. Minha família sanguínea também, que vive no interior, eu gosto de visitá-la.

Qual a grande lição desses 15 anos de sacerdócio?

Completei 15 anos de sacerdócio em maio. Aprendi muito. Primeiro, a entrega a Deus em qualquer circunstância, seja noite ou dia, riso ou lágrima, tempestade ou bonança, essa é a razão do nosso viver, que o ser humano nunca poderia perder de vista. É isso que nos sustenta na nossa luta, sempre com Deus, alimentando e nutrindo esse homem espiritual que existe em cada um de nós.

SERVIÇO
Gravação do DVD Só Ele, com Frei Damião

Quando: Sábado, 6 de junho, às 19h
Onde: Teatro Guararapes (Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N - Salgadinho, Olinda)
Quanto: R$ 25 (bancada superior) e R$ 50 (plateia)
Informações: 3182-8000


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL