Troféu O que fez Alceu Valença engatinhar no palco do Prêmio da Música Brasileira Cantor e compositor pernambucano conquistou dois troféus, pelos discos "Amigo da arte" e "Valencianas"

Por: Luiza Maia - Diario de Pernambuco

Publicado em: 12/06/2015 07:58 Atualizado em: 12/06/2015 00:31

Alceu Valença arrancou risadas da plateia durante a premiação. Foto: Alexandre Moreira/Reprodução do Facebook
Alceu Valença arrancou risadas da plateia durante a premiação. Foto: Alexandre Moreira/Reprodução do Facebook

Em meio à entrega dos troféus do 26º Prêmio da Música Brasileira e das emocionantes apresentações em homenagem aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia, Alceu Valença roubou a cena por alguns segundos. Louco que só ele, o artista pernambucano, foi chamado ao palco pelos apresentadores Dira Paes e Alexandre Nero pela primeira vez, para receber o prêmio de Melhor Cantor Regional, por Amigo da arte.

Confira a lista completa de ganhadores do Prêmio da Música Brasileira, que tem Gilberto Gil, Luiz Melodia, Fernanda Takai, Monica Salmaso, Marisa Monte e Paralamas do Sucesso

Ele foi. Engatinhando, no auge dos 68 anos. A brincadeira foi uma espécie de tributo à infância, embalada por lembranças da primeira vez em que suviu ao palco, no Agreste pernambucano, onde nasceu e passou a infância.

"Eu tinha 5 anos e participei de um festival de música infantil no Cine Teatro Rex em São Bento do Una. Subi numa cadeira, cantei É Frevo, Meu Bem de Capiba e perdi o concurso para um garoto que interpretou a espanhola Granada. Ainda me recordo de ver papai, mamãe e titia Ademilda na plateia. As luzes da ribalta me hipnotizaram e eu, perdedor do festival, quis chamar a atenção da minha família. Enquanto Miquelito recebia merecidamente a comenda, eu dava dezenas de cambalhotas no palco para delírio e risadas do público", escreveu, no Facebook.

Antes da cerimônia, ele já tinha se deitado no chão, enquanto posava para fotos. "Quando saiu o prêmio, andei como cavalo doido, cavalo de pau. Lembrei da minha tia, minha mãe, que estavam no Cineteatro Rex", detalhe.

Para ele, o troféu conquistado por Valencianas, projeto em parceria com a Orquestra Ouro Preto, foi especial, pois, pela primeira vez, arrematou a categoria Melhor Álbum de MPB. Outros discos, como Sete desejos Maracatu, batuques e ladeiras, foram agraciados nas disputas dedicadas aos trabalhos regionais.

O próximo álbum de Alceu Valença deve ser lançado em agosto. A trilha sonora do filme dele, A luneta do tempo, premiada no Festival de Cinema de Gramado, ganhou novos arranjos para o CD. "Eu toco todas as flautas, faço todos os coros, dez vozes. Está dando o que falar", adianta, animado. Antes, ele parte para turnê na Europa em julho, com passagens por Holanda e Portugal já garantidas.  

Johnny Hooker, Fernanda Takai, Luiz Melodia e Zeca Baleiro conquistaram prêmios. Foto: Prêmio da Música Brasileira/Divulgação
Johnny Hooker, Fernanda Takai, Luiz Melodia e Zeca Baleiro conquistaram prêmios. Foto: Prêmio da Música Brasileira/Divulgação

Outro projeto em andamento é um documentário sobre os primeiros anos de carreira. O início das filmagens foi em 2013, na França, onde morou durante oito meses, no fim da década de 1960. São Bento do Una, Garanhuns, Recife e Rio de Janeiro também devem servir de locações para outras cenas. "Em São Bento do Una, eu fazia viagens com o meu pai, no jipe. Minha mãe viajava na frente, com minha irmã. Eu ia atrás com os irmãos. É o cara da estrada", explica Alceu, para encerrar como gosta: com um poema:

“Onde é que tu vais, senhora estrada,
Companheira de mim, do meu destino
E do tempo que corre em disparada
Sobre ti e teu solo agrestino
Onde é que vamos fazer parada
Pois o sol está quente, quase a pino
Me lembrei do meu tempo de menino
E agora estou voltando para casa
Sob a lua rodamos em disparada
Sob o céu causticante e cristalino”

Entrevista // Alceu Valença

Que brincadeira foi aquela de entrar no palco engatinhando para receber o troféu de Melhor Cantor de Música Regional?
Aquilo dali foi uma lembrança de São Bento do Una, do primeiro em show que participei, um concurso de música. Eu tinha 5 anos. Depois de perder, comecei a embolar no chão. Eu já tinha me deitado nos bastidores. Quando saiu o prêmio, andei como cavalo doido, cavalo de pau. Lembrei da minha tia, minha mãe, que estavam no Cineteatro Rex, em São Bento do Una.

Álbum com a trilha sonora do filme "A luneta do tempo" será lançado em agosto. Foto: Antonio Melcop/Divulgação
Álbum com a trilha sonora do filme "A luneta do tempo" será lançado em agosto. Foto: Antonio Melcop/Divulgação
Então você já tinha brincado nos bastidores?
Tinha. Não sei porque, eu  não sabia se ia ganhar. Tinha dezenas de fotógrafos e eles me pediram para fazer uma pose. Me deitei e saí fazendo aquilo. Agora e que estou ligando a brincadeira a São Bento do Una. Antes, não tinha percebido.

O que as pessoas falaram?
Todo mundo notou que era uma brincadeira mesmo. Na hora H, eu subi no palco e me deu aquilo. Até para poder tirar o foco das pessoas que estavam na minha frente. Alguns disseram que era para não tirar o foco das pessoas que estavam atrás de mim. Outros disseram que era um tigre. Eu não vi de nenhuma maneira. No fim, entendi que era essa lembrança de São Bento do Una. Até fiz gesto pra minha mulher: “será que fiz merda?”. Ela mandou um legal para mim e fiquei aliviado.

Qual a importância de receber prêmios como esse?
Ganhei muitos prêmios, mas sempre na categoria regional. Com Sete desejos, ganhei. Com Maracatu, batuques e ladeiras, ganhei. Mas desta vez foram dois. O prêmio de Melhor Álbum de MPB, por um espetáculo erudito com a Orquestra Ouro Preto, que fiz em Portugal, São Paulo, Rio de Janeiro, com uma orquestra muito grande, no ano passado.

O prêmio conquistado com Valencianas foi mais especial, então?
De uma certa maneira, sim. Com Amigo da arte, eu concorri como artista regional. Ganhei como melhor cantor regional. Depois, ganhei o melhor disco de música popular brasileira.

Ouça o disco Amigo da arte:



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