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Superprodução Jurassic World, em cartaz nos cinemas, é cheio de efeitos e defeitos Novo filme mantém o nível de diversão, mas aspectos científicos são banalizados

Publicado em: 11/06/2015 10:01 Atualizado em: 11/06/2015 10:13

Dinossauro carnívoro maior que o tiranossauro é o vilão da aventura. Foto: Universal/ Divulgação
Dinossauro carnívoro maior que o tiranossauro é o vilão da aventura. Foto: Universal/ Divulgação
 
Em Jurassic World, já em cartaz nos cinemas, tudo ocorre dentro de uma zona de conforto, sem ousadias mais arriscadas. Esse tipo de filme tem a obrigação de divertir como um parque de diversões (e consegue). Mais do que isso seria visto como exigir muito. As cenas de terror protagonizadas pelos répteis provocam o medo e o espanto que se espera delas, com recursos clássicos de suspense associados a imagens mais explícitas.

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A ação é ambienada em um novo parque, localizado na mesma ilha, mas bem maior que o do primeiro filme de 1993, com mais dinossauros e uma variedade mais ampla de espécies. Os cientistas que trabalham no empreendimento chegam a criar novos seres a partir de combinações genéticas entre animais diferentes. Uma dessas criaturas fictícias é o Indominus rex, uma versão turbinada do tiranossauro. É justamente esse monstro que vai conseguir escapar e provocar toda a confusão do novo filme.

O primeiro Jurassic Park (1993) surpreendeu pelos efeitos especiais, mas os dinossauros só apareciam em 15 minutos de filme no total. A direção envolvente de Spielberg deixava o público dominado, com a sensação de ter visto bem mais. O deslumbramento era maior a cada aparição. Havia ainda uma oportuna discussão global sobre pesquisas genéticas na época. Com ideias relativamente plausíveis, o filme contribuiu para o tema e popularizou a questão. Tornou-se praticamente um clássico.

Como as tecnologias digitais evoluíram e os monstros pré-históricos deixaram de ser uma surpresa, o novo filme não precisa economizar tanto, apesar de recursos de sugestão psicológica ainda serem bastante utilizados. Dirigida pelo pouco conhecido cineasta Colin Trevorrow (com produção e supervisão de Spielberg), a nova aventura tem cenas impossíveis de serem produzidas na época dos filmes anteriores da série. O temido erro de deixar tudo com aparência digital demais, por exemplo, é praticamente evitado. O visual chega a ser palpável (bonecos mecatrônicos também foram utilizados na produção).

Jurassic World recupera parte do impacto provocado pelo filme original, apesar de exagerar nas cenas finais. O maior defeito é mesmo científico, já que o comportamento dos monstros pré-históricos apresenta uma racionalidade exagerada, sobretudo no desfecho da trama. Eles chegam a ter índole, como se decidessem ficar do lado do bem ou do mal. Isso representa um prejuízo em relação à credibilidade biológica que ajudou a impulsionar a série baseado no livro de Michael Crichton. Se no primeiro filme eles já eram capazes de girar maçanetas para abrir portas, agora só falta começarem a falar.


Como em 99% dos filmes de ação, há ainda várias coincidências exageradas, previsibilidade (dá pra adivinhar quem vai morrer e quem vai sobreviver), personagens que desaparecem sem maiores explicações e soluções apelativas. em entrevista cedida esta semana, Trevorrow afirmou que convidou atores de vários países e etnias para tornar os personagens mais globais e gerar identificação em todo o mundo, mas o ponto de vista ainda é essencialmente branco e norte-americano.

A presença humana funciona como fio condutor, mas os atores dramaticamente nem acrescentam e nem atrapalham. Chris Pratt (Guardiães da Galáxia) e Bryce Dallas Howard (A vila) formam um casal de heróis. Ele é expressivamente insignificante e faz um trabalho mais corporal, enquanto ela começa robótica mas se solta aos poucos (a personagem muda completamente de perfil, como se virasse outra pessoa). Há ainda duas crianças (Nick Robinson e Ty Simpkins) que atuam principalmente como vítimas assustadas que servem para fugir e ser salvas (além de funcionarem como ponte de identificação para o público infanto-juvenil consumidor de brinquedos, videogames e álbuns de figurinhas). O vilão (Vincent D'Onofrio) tem cara de "vou ser mastigado".



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