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Música Não tem Copa mas tem forró: expectativa dos forrozeiros para o São João 2015. Confira lançamentos Gênero encontra cenário mais animador em relação a 2014, período ofuscado pela Copa do Mundo

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/05/2015 14:45 Atualizado em: 11/05/2015 15:05

Sanforneiros Gennaro e Verônica. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press (Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press)
Sanforneiros Gennaro e Verônica. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

O mercado forrozeiro começa a se agitar no período que antecede a festa junina. A época propícia para escoar a produção, ampliar os cachês e aumentar a maratona de shows chega chancelada com a projeção obtida pelo forró no mês de abril: três músicas do gênero ficaram entre as 15 mais tocadas nas rádios recifenses. Problema seu, de Alcymar Monteiro, Espaços e vazios, de Magníficos, e Ressentimento, de Flávio José - de acordo com o instituto Crowley, empresa de monitoramento.

O lançamento de discos, vitrine indispensável para os novos trabalhos e aproximação com o público, tem pela frente um panorama aparentemente melhor em relação ao ano passado, quando a divulgação perdeu espaço para a Copa do Mundo. “É o mês que todo mundo ‘lava a égua’, como dizia Gonzaga”, brinca o sanfoneiro Cezzinha, que lança o disco Gosto de tudo em você. “O período de maio a julho representa a melhor época em relação à quantidade de shows, mesmo concorrendo com artistas do forró estilizado e outros ritmos”, diz o cantor Maciel Melo, na praça com a coletânea Na quentura do mormaço. 

“Não é comum emplacar uma música pé-de-serra em abril. Nos últimos anos, isso não tinha acontecido, mas as faixas têm agradado o público e se mantêm entre as 20 mais pedidas”, observa o diretor da Rádio Clube FM, Léo Gangana. Em 2013 e 2014, nenhuma das canções que lideraram as listas eram do forró, de acordo com as informações do instituto de monitoramento das rádios. 

Enquanto reconhece o cenário melhor em 2015, o empresário Fábio Cabral, proprietário da loja Passa Disco, se mostra cauteloso: “Embora as vendas aumentem e a procura por discos seja maior, este ano terá uma safra enxuta. O ano passado já não foi bom por causa da copa e das eleições”. Soma-se à avaliação menos otimista o temor na diminuição dos shows. Avalia o sanfoneiro Gennaro, ex-integrante do Trio Nordestino: “Os forrozeiros estão preocupados com a crise. A saída das prefeituras é cortar logo a verba para shows. Além disso, competimos nas programações com as duplas sertanejas”. 

Foto: Brenda Alcantara/Esp.DP/D.A Press
Foto: Brenda Alcantara/Esp.DP/D.A Press

O veterano Alcymar Monteiro, no entanto, se mostra confiante. “Está de igual para igual com qualquer outro estilo”, celebra. O Viver selecionou 16 discos de forró, novidades que chegam às lojas até o São João. Nomes como Jorge de Altinho, Cristina Amaral, Petrúcio, Gennaro e o DVD póstumo do Mestre Camarão, que será lançado dia 21, devem oxigenar as prateleiras e o comércio online durante o arrasta-pé. 

“Luiz Gonzaga fortaleceu o São João. Fez uma festa de dois dias se transformar em 30 ou 40. Ele era um gênio mesmo”, comenta o cantor Santanna. Ele é um dos artistas que preferiram lançar disco com meses de antecedência, para dar tempo suficiente de as canções chegarem aos ouvidos do público. A aposta é no disco Xoteamar. “Costumo fazer disco para o ano inteiro e não apenas para junho. Lancei em setembro do ano passado para chegar tinindo agora”, explica.

"O forró é uma escola. Hoje estou expert, mas tive que ouvir e estudar muito. Parece ser simples, mas não é. Queria ver cantoras de MPB cantarem forró. Quando dizem: ‘Ah ela canta forró’, parece que diminui você. Não é fácil cantar Jackson do Pandeiro. Já ouvi outras intérpretes tentando e não sai com naturalidade. Exige suingue e uma capacidade de interpretação especiais. É uma arte”
Elba Ramalho, confirmada na abertura do São João de Caruaru, no dia 30 de maio. 

"O São João é melhor para todo mundo. Sempre foi a roça do forrozeiro. Antes, na época do Trio Nordestino, fazia 80% dos shows em eventos particulares. Hoje, vivemos reféns de eventos do governo. Talvez a colheita não seja tão farta. Os forrozeiros estão preocupados com essa crise. A saída das prefeituras é cortar logo a verba para shows. Além disso, competimos nas programações com as duplas sertanejas”.
Gennaro, sanfoneiro e ex-Trio Nordestino

"Faço até 20 shows em média no São João. Em outro meses, são 4 a 5. É bom fazer shows na rua, interagir e sentir a energia do povo. O repertório é mais dançante, com forró, xote e arrasta-pé. A expectativa para esse ano é boa, mas, com a crise, acredita-se que as prefeituras diminuam a quantidade de shows para todos”
Cristina Amaral, cantora 

Roça e cidade nas melodias
Crsitina Amaral. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Crsitina Amaral. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

O forró não sobrevive somente do São João, frisam os artistas do gênero. E nem só aborda “pobreza” e “simplicidade” característicos da vida sofrida sobretudo no Sertão. “Nossa música toca em em qualquer época. Saímos da roça e chegamos à cidade para conquistar um público classe A, mas que não perde a matutice”, explica Alcymar, que lança o 97º disco da carreira, Forró bonito, e já tem agenda em Pernambuco, na Paraíba, Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. 

Nas composições da nova safra, há a preocupação sobre a renovação dos temas cantados. Fala-se da natureza, dos pássaros, do rio, da chuva, da seca e do amor com um linguajar atualizado. “É necessário modernizar a linguagem e urbanizar o forró para que se possa atingir todo mundo e não se restringir ao Sertão. Não adianta usar termos antiquados, porque, talvez, o pessoal de hoje nem entenda”, explica o compositor Xico Bizerra, homenageado na recém-lançada coletânea Forrozando para o mundo - volume 2, com selo da Passa Disco.

A ideia de mesclar músicas novas com as clássicas é assumida pelos forrozeiros. “Colocamos sempre três ou quatro inéditas. Mas não abro mão dos sucessos. Há canções que se tornaram parte da minha existência”, afirma Alcymar. “Costumo cantar o que o povo quer ouvir, dançar e curtir. Sempre tem forró, coco, xote, baião e quadrilha. Canto de Xico Bizerra a Nando Cordel, Flávio José, Flavio Leandro, Rogério Rangel e Petrúcio Amorim”, explica Elba Ramalho, figura frequente no São João de Caruaru e Campina Grande, duas das maiores festas do Nordeste. 

As expectativas



Alcymar Monteiro
O 97º disco da carreira, Forró bonito, tem baião, forró e xote. Entre as 19 faixas, o destaque para o reggae inédito Justiça cega e regravações como Sessão das dez, de Raul Seixas, em ritmo de baião. O disco chega às lojas neste mês, e já está disponível na web em plataformas como Deezer, Spotify, Amazon, Qobuz, Mixrad, Google Play, Rdio e Zvooq.

Andrezza Formiga
A forrozeira Andrezza Formiga mistura elementos da música regional com o forró moderno em E tome forró, meu bem, o segundo disco da carreira solo. O material é composto por onze faixas assinadas pelos compositores Roberto Cruz, Flávio Leandro, Jessier Quirino, Maciel Melo, Bruno Lins e Rafael Beibe. Sai em maio.

Bruno e Forró Flor de Lotus
Um registro do show da banda Bruno e Forró Flor de Lótus na Sala de Reboco rendeu o DVD No colar colou, nova canção de trabalho que dá título ao álbum. O material conta com participações de Luizinho Sanfoneiro, Nilton Neto Forró Pratú e Nerilson Buscapé.

Camarão (Póstumo)
O primeiro DVD de carreira do sanfoneiro Camarão, Mestre de um brejo distante, será lançado na Passa Disco (Parnamirim), no dia 21 de maio, um mês após o falecimento do compositor. O projeto foi registrado em show na Cachaçaria Carvalheira, em 2013, e inclui depoimentos de artistas e amigos, como Dominguinhos. Beto Hortis, Thaís Nogueira, Geraldinho Lins, Josildo Sá e o filho, Salatiel, fizeram participações.


Cezzinha 
O sanfoneiro completa três anos de carreira solo e divulga o disco Gosto de tudo em você, pela Som Livre. O álbum traz parcerias de Cezzinha com grandes compositores: Um anjo pra cuidar (com Nando Cordel), Samba matuto (com Fábio Simões), e o samba Judia de mim, de Zeca Pagodinho, com novo arranjo. 

Cristina Amaral 
Minha voz, minha vida é o segundo DVD de Cristina Amaral, que comemora 30 anos de carreira neste ano. No registro, a artista fez uma releitura dos sucessos, como Eu sou o forró, Cidade grande e Arisca. Há participação de Genival Lacerda, César Amaral, Jorge de Altinho e Lucy Alves, no show gravado no Parque Dona Lindu. “Investimos muito em qualidade e não ficamos atrás de nenhum gênero”, explica Saulo Gouveia, produtor da cantora. Foram investidos cerca de R$ 150 mil.

Fim de Feira
O DVD comemorativo de dez anos da banda, Bomba cordão, remete ao clima junino das festas das interior. O repertório autoral é composto por 13 faixas e inclui as canções Sina de passarinho e Preso 137, de Bruno Lins e Tonzinho. O material chega às lojas em maio.

Gabriel Diniz
O primeiro DVD de carreira do forrozeiro, #Gdatthepark foi gravado em março no Mirabilândia Parque, em Olinda. O material traz participações especiais de Wesley Safadão, Alinne Rosa e Léo Santana e chega em maio às lojas de todo o Brasil. 


Gennaro 
O sanfoneiro Gennaro, com 40 anos de carreira, lança Intriga da oposição, disco autoral de inéditas que resgata o estilo “forró pinicada”, que segue a linha do coco. Com destaque para as faixas Tome xote, Forró da samarica, A saudade tá matando e Doce. 

Jorge de Altinho
O segundo DVD de Jorge de Altinho, Melhor assim, é composto por 19 faixas, com sete inéditas. Também reúne principais sucessos na voz do cantor como Nem ligue e Confidências, e dá continuidade ao trabalho baseado no forró urbano com a faixa homônima, do compositor caruaruense Renato Carvalho. O registro do show chega às lojas em maio. 

Maciel Melo
Na quentura do mormaço é a aposta de Maciel Melo para o período junino. Uma compilação com 17 faixas, entre elas regravações de sucessos como Velho arvoredo, Nos tempos de menino e Tampa de pedra, em novos arranjos. Com participação de Zeca Pagodinho e Elba Ramalho. Álbum está disponível nas Livrarias Cultura, Passa Disco (Parnamirim) e Box Sertanejo, no Mercado da Madalena. 

Maria Lafaete
Feliz pra danar é o segundo disco solo da cantora Maria Lafaete. Álbum traz repertório de xote, baião e arrasta-pé, com canções como Espere por mim morena (Gonzaguinha), Eu sou poeira de forró (Junior Vieira) e ainda composições de Xico Bezerra, Flávio Leandro e Nelson Gusmão. 


Petrúcio Amorim
O álbum duplo Petrúcio Amorim - 30 anos de forró reúne os principal sucessos da carreira do poeta caruaruense, entre eles Tareco e mariola, Meu cenário, Confidências, Anjo querubim e Cidade grande. Lançado em maio, em show especial na Casa da Rabeca, em Olinda. 

Sarah Brasil 
Eu quero é cantar Luiz é o terceiro disco lançado neste ano pela cantora e compositora Sarah Brasil, de 35 anos. Uma homenagem a Luiz Gonzaga em 17 faixas, explora sonoridades do xote, forró e arrasta-pé. Entre as canções Viva a festa de São João, Caruaru ou Campina Grande, Rainha da cocada e Saudade tirana, em dueto com Cezzinha. 

Pernambuco forrozando para o mundo - Viva Xico Bizerra
O selo Passa Disco lança o segundo volume da série de coletâneas para festejar os 15 anos de carreira do compositor cearense radicado no Recife Xico Bizerra. A obra composta por 20 faixas passeia pelas composições de Xico Se tu quiser (Elba Ramalho), Hoje tem Forró (Silvério Pessoa), Musa (Dominguinhos) e Pelos cantos da casa (Maciel Melo) e ainda traz outros intérpretes como Amelinha, Elba Ramalho, Flávio José, Marinês e Trio Nordestino. 

Quinteto Violado
Grupo faz releitura da obra de Dominguinhos no projeto Quinteto canta Dominguinhos, que inclui clássicos como Só quero um xodó, Sete meninas e Tenho sede. Além de canções menos conhecidas como Fé do lavrador, Quando chega o verão, Sanfona sentida, Abrir a porta e Retratos da vida. Participaram Marina Elali, Mônica Salmaso, Cezzinha e Maciel Melo. Show no Recife será no dia 30 de maio, no Teatro RioMar. O disco será distribuído pela gravadora Atração.


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