Música Vida dupla: músicos autorais fazem cover em projetos paralelos Pernambucanos recorrem ao trabalho de outros artistas para arejar produções autorais e movimentar agenda de shows

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 12/04/2015 17:00 Atualizado em: 10/04/2015 21:01


Na primeira vez em que o projeto Del Rey, parceria do pernambucano China com os conterrâneos do Mombojó, subiu aos palcos, o cachê foi pago em escambo: em troca do show, cervejas geladas. A informalidade, que não elimina o profissionalismo por trás das apresentações, é um dos principais estímulos ao crescente número de artistas dedicados a covers em paralelo às carreiras autorais.

China e Mombojó cantam Erasmo e Roberto Carlos em Del Rey. Foto: Vitor Salerno/Divulgação
China e Mombojó cantam Erasmo e Roberto Carlos em Del Rey. Foto: Vitor Salerno/Divulgação


Ganham, além de uma agenda mais movimentada e lucrativa, a chance de adaptar ao próprio estilo as obras que já admiravam. “Não temos o peso de apresentar algo novo, que pode encontrar resistência. O público reconhece aqueles clássicos com facilidade, mesmo quando adaptados”, explica China, que canta os hits de Erasmo e Roberto Carlos nos vocais do Del Rey. A ideia tem dado tão certo que o Los Sebosos Postizos (formado por integrantes da Nação Zumbi) planeja agora lançar disco autoral, três anos depois do álbum de estreia, com covers de Jorge Ben Jor.

Assim como China, que deu início à empreitada para animar o aniversário de uma amiga, o músico pernambucano Tibério Azul também acredita que o cover pode ser interessante e original. No comando da banda recifense Seu Chico, dedicada à obra de Chico Buarque, ele assegura ainda que o projeto e a carreira solo convivem de forma saudável.

Tibério Azul integra a Seu Chico, com repertório de Chico Buarque. Foto: Daah Oliveira/Divulgação
Tibério Azul integra a Seu Chico, com repertório de Chico Buarque. Foto: Daah Oliveira/Divulgação
“Quando a banda começou, já tínhamos nossas carreiras e o objetivo era simplesmente reunir amigos por diversão. Com a popularidade do Seu Chico aumentando, especialmente com o lançamento do DVD, ficamos mais ligados a esse projeto”, afirma. No palco, permite-se dar nova roupagem às composições de Chico, sem a cobrança de reproduzi-las fielmente.

Também na capital pernambucana, o cantor Silvério Pessoa mantém há cerca de oito anos o projeto Sir Rossi, um tributo ao falecido Rei do Brega. “Nos apresentamos em casamentos, prévias carnavalescas e fizemos turnê pelo interior do estado”, explica Silvério, que atribui grande valor afetivo ao repertório de Reginaldo Rossi, além de considerá-lo um facilitador da empatia entre a banda e o público. “Quando subimos ao palco cantando hits já consagrados, estamos em vantagem. Podemos improvisar arranjos, ousar, nos divertir e, ainda assim, ouvir as pessoas cantarem conosco”, comemora. Para ele, o cover também ajuda a arejar a criatividade necessária às composições autorais.

Jorge Du Peixe, vocalista do Nação Zumbi, que deu origem ao grupo de tributo Los Sebosos Postizos, concorda. Em 2012, lançou o disco Los Sebosos Postizos interpretam Jorge Ben Jor, materializando projeto que dura mais de dez anos. “O que, a princípio, é uma homenagem a um artista que admiramos, se torna uma oportunidade de movimentar o calendário da banda e agregar novas experiências sonoras, inovar”, avalia Du Peixe.

Jorge Du Peixe comanda os vocais da Los Sebosos Postizos. Foto: Vinicius Nunes/Divulgação
Jorge Du Peixe comanda os vocais da Los Sebosos Postizos. Foto: Vinicius Nunes/Divulgação


>> VIDA DUPLA


CHINA E MOMBOJÓ cantam Erasmo e Roberto Carlos, no projeto Del Rey

Como surgiu: projeto começou de forma despretensiosa e, atualmente, tem show toda semana. Para China, o tributo a Erasmo e Roberto Carlos foi criado por diversão e prazer. “Mas, se pagar as contas, melhor ainda”, brinca. Alcança diferentes faixas etárias com o repertório cover, além de circular em eventos particulares, como casamentos e aniversários - eventos nos quais China acredita que não haveria espaço para o trabalho autoral.

NAÇÃO ZUMBI canta Jorge Ben Jor, no projeto Los Sebosos Postizos

Como surgiu: há mais de dez anos, os Los Sebosos Postizos revisitam a obra de Jorge Ben Jor, o que rendeu álbum lançado em 2012. Para Jorge du Peixe, a ideia nasceu da vontade de tocar algo que todos gostassem de ouvir. A temporada que passaram no Rio de Janeiro, no Bairro de Santa Teresa, onde Jorge Ben Jor é bastante popular, ajudou na escolha do homenageado. “Não adianta tentar copiar o que Ben Jor já fez. São nossas versões”, explica.



SILVÉRIO PESSOA canta Reginaldo Rossi, no projeto Sir Rossi
Como surgiu:
Reginaldo Rossi ainda vivia quando Silvério deu início ao projeto, que chegou a ser “abençoado” por ele. Os músicos da banda priorizam as carreiras autorais, mas se reúnem para casamentos, aniversários e prévias carnavalescas. Ainda não gravaram álbum, mas em 2014 fizeram turnê pelo interior pernambucano. O primeiro show foi há cerca de oito anos, no Clube Carnavalesco Misto das Pás, no Recife.

CÉU canta Bob Marley, no projeto 73 produções da Radiola Urbana
Como surgiu:
em 2013, envolveu-se com projeto em que canta o álbum Catch a fire, de Bob Marley. O convite partiu do site Radiola Urbana para o projeto 73 produções, que convocou artistas para interpretar discos clássicos lançados em 1973. Fiel aos arranjos contidos na obra do cantor jamaicano, Céu celebra a boa receptividade do projeto e a chance de tocar o álbum completo e não apenas as canções mais famosas.



TIBÉRIO AZUL canta Chico Buarque, no projeto Seu Chico
Como surgiu:
Tibério costuma frisar que a banda Seu Chico não é estritamente um grupo de fãs da obra de Chico Buarque. São músicos em busca de desafios paralelos às carreiras autorais. Os arranjos ousados e improvisos no palco não visam copiar clássicos da MPB, mas criar versões próprias. Flexível, o projeto é congelado quando algum dos integrantes está em fase de gravação de discos, por exemplo. Fazem shows em diferentes estados, durante todo o ano.


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