° / °

Viver
Entrevista

Seu Jorge lança novo disco e fala sobre influência de Chico Science: "Era um homem sério, um líder"

Cantor trabalha na divulgação de "Músicas para churrasco volume dois", que traz novos sucessos como "Ela é bipolar" e "Motoboy"

Publicado: 15/04/2015 às 09:31

Seu Jorge falou sobre nvoas composições e atuação no cinema. Crédito: Universal Music/Divulgação/

Seu Jorge falou sobre nvoas composições e atuação no cinema. Crédito: Universal Music/Divulgação()


Seu Jorge falou sobre nvoas composições e atuação no cinema. Crédito: Universal Music/Divulgação
São Paulo - “Véio, você tem que conhecer e acreditar no seu regionalismo”. Com a voz esganiçada e um falso sotaque nordestino, o cantor Seu Jorge resgata da memória as palavras ditas por Chico Science durante entrevista, em meados da década de 1990. Entre mordidas em um sanduíche de charque e comentários sobre o movimento manguebeat, o pernambucano influenciaria na criação do grupo Farofa Carioca, marco inicial da carreira do compositor fluminense. O episódio foi lembrado em conversa com a reportagem no bar Karavelles, administrado por ele no bairro dos Jardins, na capital paulista.

[SAIBAMAIS] Após refletir sobre qual era o próprio “regionalismo”, Seu Jorge encontrou resposta nos sambas de Bezerra da Silva e Martinho da Vila. Desde então, passou a se dedicar com vigor ao gênero e apostar em canções como espécie de crônica social, característica ainda mais visível no disco Músicas para churrasco - volume dois, recém-lançado. Assim como as já populares Burguesinha e Mina do condomínio, o novo álbum lança mão de personagens em faixas como Motoboy, Mina feia e Ela é bipolar.

Bem-sucedido na música, no cinema e nos negócios, o sambista ainda hoje faz questão de prestar reverências ao ícone do mangue. “Agradeço muito a Chico Science. Era um homem sério, um líder. Se estivesse vivo, a música dele já não estaria mais aqui. Já não nos pertenceria, porque ele era plural, falava para todo o mundo”. A admiração de agora, contudo, não existia no primeiro contato de Seu Jorge com a banda Nação Zumbi, quando assistiu a um trecho do clipe Maracatu atômico, veiculado em propaganda televisiva. “Achei horrível, um bando de caras imitando o Red Hot Chilli Pepers”, confessa. A banda norte-americana havia lançado, anos antes, o clipe de Give it away, esteticamente semelhante ao do grupo pernambucano.

A opinião mudou após os primeiros acordes de um show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. “Lembro como se fosse há duas horas. Eu estava no meio da plateia e ouvi aquele negócio: ‘Eu vim com a Nação Z…. BUM, BUM, BUM!’. Fui parar atrás da mesa de som. Ali, percebi como eu era idiota. Eles tinham inventado a melhor coisa que podia ser inventada”. Vários anos depois, Seu Jorge se tornaria parceiro musical da banda (a essa altura sem Chico Science), por meio do projeto Almaz. “Com esse pessoal, a música nordestina está muito bem representada”.

entrevista >> Seu Jorge

Homenagem aos motoboys

“São Paulo sem motoboy e internet, acaba. Ninguém está vendo o que essas pessoas estão fazendo por aí. Não prestam atenção no benefício que proporcionam. Antes, já havia feito música sobre o trabalhador brasileiro… Eu gosto dessas pessoas, dessa gente. Então preciso falar com eles, mostrar que estou de olho neles. Precisava fazer essa homenagem.”

Desejos de parceria
“Adoraria poder ter nível para fazer um som com Hermeto Pascoal, um dos artistas brasileiros que admiro muito. Ele é uma das coisas mais interessantes de hoje. No cinema, fiquei muito a fim de fazer o Jimi Hendrix, me achava parecido, o corpo e tudo. Mas fiquei feliz que foi o André 3000. Ele é canhoto, ‘negroide’, canta bem. Também adoraria fazer um filme de ficção científica, trabalhar com o Tarantino…”

Vida em Los Angeles

Cidade de Deus foi um filme muito determinante em minha vida. Ele me tornou um artista reconhecido e respeitado, e isso me credenciou a morar nos Estados Unidos. As possibilidades lá são grandes. Mas uma das coisas que mais me atraiu foi a educação oferecida. Meus filhos se aclimataram bastante, e eu também gosto”. 


O pai do Pelé
O cantor atua em filme sobre o Rei Pelé - The birth of legend, dirigido pelos irmãos norte-americanos Jeff e Michael Zimbalist - cujo lançamento deve ocorrer ainda neste ano. O longa retrata o período do nascimento à conquista da primeira Copa do Mundo pelo jogador, em 1958, aos 17 anos. Seu Jorge interpretou Dondinho, o pai, a quem o atleta promete conquistar o torneio depois de vê-lo lamentar decepção em campo.

“É engraçado falar disso, porque em 1950, depois de uma grave contusão de Dondinho, Pelé diz: ‘Não chore que eu vou ganhar uma Copa do Mundo para o senhor e para o Brasil’. Era uma criança com uma certeza dentro de si. Coisa para poucos. A mãe dele não gostava, pois futebol era algo super perigoso".

Mais de Viver