Memória
Obra de Eduardo Galeano passa por Pernambuco com trabalhos de J. Borges e Fábio Trummer
Escritor uruguaio, conhecido por obras como "As veias abertas da América Latina", faleceu nesta segunda-feira
Por: Pedro Siqueira - Diario de Pernambuco
Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco
Publicado em: 13/04/2015 12:00 Atualizado em: 13/04/2015 18:48
Galeano não resistiu a complicações de um câncer. Crédito: Arquivo Pessoal/Reprodução |
O mundo da literatura perdeu, nesta segunda-feira (13), um de seus maiores representantes. Com uma obra singular, o uruguaio Eduardo Galeano entendeu como poucos as dificuldades políticas e o sentimento de viver em uma América Latina abalada por ditaduras. O que muitos não sabem, no entanto, é que a obra do escritor também tem laços com Pernambuco, de parcerias com o artista J. Borges até influência em disco da banda Trummer Super Sub América.
Capa do livro "As palavras andantes", com ilustração de J. Borges. Crédito: Skoob/Reprodução |
“Nos correspondíamos e telefonávamos sempre. Quando a coisa apertava, eu usava os orelhões para lhe pedir ajuda. E ele me enviava dinheiro imediatamente”, conta J. Borges, que reforça a gentileza com que Galeano sempre o tratou. Para Meca Moreno, pesquisador especializado em literatura de cordel, essa parceria somou genialidades. “Galeano aproveitou com maestria a semiótica de J. Borges. As figuras falam pelo texto e sobre o texto”, explica.
Jota Borges trabalhou em parceria com Galeano durante três anos. Foto: Inês Campelo/DP/DA Press |
Em vídeo publicado em seu site oficial, Borges comenta a convivência com o escritor: "Ele é provavelmente o escritor que eu tive mais prazer em trabalhar. O livro chegou a ser publicado em espanhol, inglês e português. Ainda hoje as pessoas me procuram em busca de exemplares do livro. Eduardo é um cara muito legal, fiel, sensivel à arte, humano, uma beleza."
Ao resgatar na memória a figura de Eduardo Galeano, J. Borges se recorda de um jantar, oferecido pelo escritor Cláudio Aguiar, cearense radicado em Pernambuco, ao qual compareceu com o amigo uruguaio, nos anos 2000. Lá, entre figuras da literatura e artes plásticas locais, J. Borges diz ter vivido uma das noites mais animadas e bonitas da vida. "A lua estava alta e clara no céu. Jantamos todos no jardim. É uma lembrança que sempre gosto de visitar", conta o cordelista. Os dois se encontraram pela última vez em Pernambuco, na Fliporto de 2009.
Já o olindense Fábio Trummer, líder da banda Eddie, usou os ideiais políticos de Galeano como inspiração no primeiro álbum do projeto Trummer Super Sub América, lançado em 2014. A banda, formada em parceria com membros do Vivendo do Ócio, tem como grande inspiração a obra As veias abertas da América Latina.
"Galeano sempre foi um dos pensadores que eu mais admiro. Ele era um dos intelectuais que enxergavam a ideia de como somos uma colônia, e sempre denunciava isso de maneira muito poetica. Ele falava muito da condição da América do Sul, que até hoje é explorada por grandes empresas que só visam o lucro."
As ideologias de Galeano inspiraram a banda Trumer Super Sub America. Foto: Facebook/Reprodução |
"Galeano sempre foi um dos pensadores que eu mais admiro. Ele era um dos intelectuais que enxergavam a ideia de como somos uma colônia, e sempre denunciava isso de maneira muito poetica. Ele falava muito da condição da América do Sul, que até hoje é explorada por grandes empresas que só visam o lucro."
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“As veias abertas da América Latina trata de um recorte específico no tempo. Ao vilanizar o imperialismo, primeiro da Europa e depois dos Estados Unidos, exime de culpa os governos e elites da América Latina pelas nossas desgraças. Mas é um poderoso relato de como víamos o mundo naquela época.” (Anco Márcio, professor da pós-graduação do departamento de Letras da UFPE)
“Uma obra como As veias abertas da América Latina continua atual, ainda mais numa época de levantes e insatisfação popular na América Latina. Ler Galeano é fundamental para compreender as consequências do imperialismo e entender o que sentia quem vivenciou a ditadura militar.” (Rafael Monteiro, historiador e mestre em teoria da literatura)
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