Decadência Novos filmes desglamourizam a vida dos astros de Hollywood Mapas para as Estrelas, com Julianne Moore, estreia na próxima quinta. Birdman, É o Fim e Acima das Nuvens também são exemplos recentes dessa desconstrução de uma imagem idealizada das estrelas

Publicado em: 26/04/2015 08:03 Atualizado em: 24/04/2015 18:56

Mia Wasikowska interpreta a assistente de uma inescrupulosa atriz. Fotos: Caitlin Cronenberg/ Divulgação
Mia Wasikowska interpreta a assistente de uma inescrupulosa atriz. Fotos: Caitlin Cronenberg/ Divulgação
 
"Eu queria morar em Beverly Hills", dizia a letra de uma música da banda pernambucana Paulo Francis Vai pro Céu, que está cada vez mais desatualizada. Foi-se o tempo em que ser ator de Hollywood era sinônimo de glamour. Uma série de filmes recentes tem demonstrado que os próprios artistas da indústria cinematográfica norte-americana sentem desconforto em relação ao estilo de vida no qual eles mesmos estão inseridos. Mapas para as estrelas, de David Cronenberg, que entra em cartaz na próxiuma quinta no Recife, é um dos mais fortes exemplos dessa safra marcada pela autocrítica e pela desglamourização.

No filme, astros como Julianne Moore, Robert Pattinson, Mia Wasikowska e John Cusack interpretam personagens que vivem em Los Angeles e trabalham direta ou indiretamente para os grandes estúdios. No lugar de uma rotina cheia de classe, entretanto, eles protagonizam uma sequência de situações constrangedoras, desumanas e até escatológicas.

O ator vivido por Evan Bird, por exemplo, é um astro mirim, com 13 anos de idade, viciado em drogas, arrogante, capaz de atirar em um cachorro e espancar um garoto até a morte. Ele é uma demonstração de como a fama e o dinheiro podem corromper uma personalidade muito cedo.

Personagens vividos Evan Bird e Julianne Moore em cenas do filme de David Cronenberg
Personagens vividos Evan Bird e Julianne Moore em cenas do filme de David Cronenberg

Com Mapas para as estrelas, Julianne Moore (ganhadora do Oscar este ano por Para sempre Alice) venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes no ano passado pelo papel de uma atriz fictícia chamada Havana Segrand. Sexo é o mínimo que ela está disposta a fazer para conseguir emprego ou ostentar poder. A personagem está angustiada porque perdeu um papel em um filme, mas vibra de felicidade quando sua concorrente desiste do trabalho por causa da morte do filho.

Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas) interpreta a assistente pessoal de Havana, que é humilhada pela patroa com naturalidade. Ela é obrigada até a entrar no toalete em meio a uma crise de diarreia da chefe. Julianne Morre sentada na privada é uma das cenas mais bizarras do filme, que ao mesmo tempo demonstra a coragem dela para assumir papéis que outras recusariam com medo desse tipo de exposição esquisita.

Diretor de clássicos como A mosca (1986), Cronenberg é um cineasta que sempre consegue inserir alguma nojeira em seus filmes, seja ela fisiológica ou moral. Ele gosta de provocar desconforto e de obrigar o público a enfrentar o lado podre da vida, que muitos preferem fingir que não existe.

A NOVA DESGLAMOURIZAÇÃO DE HOLLYWOOD EM OUTROS FILMES RECENTES:

Birdman
Vencedor do Oscar, Birdman é cheio de situações e diálogos marcados por alfinetadas contra os atores que negam trabalhos mais sérios para ganharem dinheiro com filmes de super-heróis. O filme mostra o mundo dos artistas como um ambiente cheio de falsidade, grosserias e mesquinharias. O próprio Michael Keaton sempre ficará associado a Batman, personagem interpretou em 1989.



Acima das Nuvens
No drama Acima das nuvens, Juliette Binoche interpreta uma consagrada atriz francesa (assim como ela na vida real) que vive dividida entre trabalhos artísticos mais desafiadores e propostas comerciais, como a ficção científica para adolescentes. Seus defeitos, como a vaidade e certa arrogância disfarçada de inteligência, ficam explícitos a partir de sua relação com uma assistente, vivida por Kristen Stewart. O assédio sexual entre artistas, a vida secreta das celebridades, as mentiras da mídia, a relação com os paparazzi e os preconceitos (internos e externos) contra astros adolescentes também são abordados (Chloë Grace Moretz também está no elenco).



É o Fim
Astros do cinema e da música pop interpretam a si mesmos na escatológica comédia É o fim, um exercício consciente de mau gosto com direção de Seth Rogen e Evan Goldberg (mesma dupla de A entrevista). Estrelas como Emma Watson, James Franco, Jonah Hill, Rihanna, Michael Cera, Channing Tatum  e os Backstreet Boys ridicularizam-se e destroem suas próprias imagens, sem aliviar.



Bling Ring: A gangue de Hollywood
A maneira como adolescentes banalizam a própria vida por causa de deslumbramentos diante da vida das estrelas milionárias é um dos temas investigados pela cineasta Sofia Coppola em Bling Ring: A Gangue de Hollywood, que tem Emma Watson como personagem principal e participações especiais de artistas como Kirsten Dunst e Lindsay Lohan no papel de si mesmas.



MAIS 15 FILMES QUE CRITICAM HOLLYWOOD:

Crepúsculos dos Deuses é um dos maiores clássicos sobre o tema
Crepúsculos dos Deuses é um dos maiores clássicos sobre o tema


Crepúsculo dos Deuses (1950), de Billy Wilder

Assim estava escrito (1952), de Vincente Minelli

Cantando na chuva (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly

A cidade dos desiludidos (1962), de Vincente Minelli

O dia do garfanhoto (1975), de John Schlesinger

O último magnata (1976), de Elia Kazan

Mamãezinha querida (1981), de Frank Perry

Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991), de Joel e Ethan Coen

O jogador (1992), de Robert Altman

O preço da ambição (1994), de George Huang

Celebridades (1998), de Woody Allen

Cidade dos sonhos (2001), de David Lynch

Cecil Bem Demente (2000), de John Waters

Dália negra (2006), de Brian De Palma

Um lugar qualquer (2011), de Sofia Coppola



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