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Estreia Filme Casa Grande chega aos cinemas com provocações sobre o Brasil atual Longa-metragem do cineasta carioca Fellipe Barbosa está em cartaz no UCI Kinoplex Tacaruna e no Cinema da Fundação

Publicado em: 16/04/2015 08:03 Atualizado em: 15/04/2015 16:42

Premiado em Paulínia, ator Marcello Novaes interpreta ex-rico que precisa adaptar-se a um novo padrão social (Foto: Imovision/ Divulgação)
Premiado em Paulínia, ator Marcello Novaes interpreta ex-rico que precisa adaptar-se a um novo padrão social
 
Na música A cidade (1994), Chico Science cantava: "O de cima sobe e o de baixo desce", a respeito da desigualdade social no Brasil. O filme Casa grande, em cartaz no Cinema da Fundação e no UCI Kinoplex Tacaruna, mostra o que acontece quando essa lógica é invertida. Ao retratar a decadência financeira de uma família rica do Rio de Janeiro e a mudança na relação com os empregados, o longa-metragem retrata uma situação onde "o de cima desce e o de baixo sobe".

Vencedor do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Paulínia pelo trabalho no filme, Marcello Novaes reinventa-se em Casa grande no papel de Hugo, um executivo que está falido, mas não revela o problema para a família. Ele quer manter a mansão onde mora, mas é obrigado a cortar custos e demitir empregados com quem seus filhos tinham uma relação de afeto.

Pernambucana Clarissa Pinheiro vive empregada que tem uma relação íntima com o filho dos donos da casa onde trabalha, interpretado por Thales Cavalcanti (Foto: Imovision/ Divulgação)
Pernambucana Clarissa Pinheiro vive empregada que tem uma relação íntima com o filho dos donos da casa onde trabalha, interpretado por Thales Cavalcanti


A história é contada a partir do ponto de vista de Jean (Thales Cavalcanti), filho adolescente de Hugo, que se vê obrigado a viver novas experiências, como passar a ir para a escola de ônibus. No trajeto, conhece uma menina que torna-se sua namorada, mas a relação é recebida com preconceito pela família dele porque a garota, bastante inteligente, vem de uma classe social mais baixa. Em casa, ele ainda tem uma relação íntima com uma das empregadas, interpretada pela pernambucana Clarissa Pinheiro, vencedora do prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante em Paulínia.

Com cenas que ilustram as contradições sociais do Brasil, Casa grande nasce de um momento de transformação na sociedade brasileira, sobretudo em relação à distribuição de renda. Exibido pela primeira vez em 2014, um ano após os protestos de 2013, o filme agora entra em cartaz nos cinemas em mais um momento marcado por manifestações no país. A ideia de "crise" está presente na tela, mas é o público que vai concluir quem são os atingidos.

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Formado por uma sucessão de cenas afiadas que podem ao mesmo tempo divertir e provocar desconforto, Casa grande é um filme de forte comunicabilidade, com um ritmo envolvente e uma linguagem clara. Percebe-se uma preocupação com o didatismo e uma intenção de atingir qualquer tipo de público, apesar de as mensagens estarem nas entrelinhas para gerar reações diferentes de acordo com os valores de cada um.

Casa grande é o tipo de filme que acontece dentro e fora da tela. As reações da plateia, sobretudo nas sessões no Brasil, funcionam como desdobramentos das questões abordadas na trama. Não é o caso de julgar o público por seu comportamento, mas de constatar quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

No Festival de Paulínia, por exemplo, as pessoas riram com uma piada racista dita pelo personagem de Marcello Novaes, obrigado a se acostumar com um novo padrão de vida. Na verdade, ninguém riu do que ele falou, que realmente não tem graça. Os risos foram uma forma de desprezo ou uma maneira de dizer que aquele homem é ridículo. Os brasileiros sabem protestar, mas também sabem rir da própria desgraça.





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