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Entrevista Elba Ramalho fala sobre o novo disco e comemora férias após 40 anos de carreira: "Chegou a hora de colher o que plantei" Em entrevista exclusiva ao Viver, cantora contou detalhes do álbum que foi produzido por seu filho

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/04/2015 08:55 Atualizado em:


Elba Ramalho durante apresentação no Marco Zero, em 2014. Crédito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Elba Ramalho durante apresentação no Marco Zero, em 2014. Crédito: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Alguns metros acima do nível dos mares cariocas, na Zona Sul do Rio de Janeiro, o bairro de São Conrado vive em comunhão com a natureza. Trilhas conduzem à mata, que conduz a montes que, ao longe, revelam a praia. Perto dali, turistas se aventuram nos saltos de asa delta e parapente. Enquanto Elba, uma paraibana de 63 anos, leva uma vida anônima.

Dentro de casa, acompanha a rotina dos filhos e vivencia os problemas de rotina da manutenção de um lar. Faz caminhadas ao ar livre, vai à missa e pratica musculação diariamente. Numa manhã de abril, ela abre as portas à nossa reportagem e faz uma pausa no dia a dia pacato para reassumir a identidade reconhecida em todo o país. Em traje de academia, a cantora Elba Ramalho senta ao sofá e afasta os cabelos do rosto. Sente-se comum. Passou as últimas quatro semanas reclusa, junto à família: feito inédito em quase 40 anos de carreira. Agora, é hora de retomar o trono e voltar aos palcos.

Para Elba, a montagem do estúdio caseiro foi um grito de independência. Sem essa decisão, tomada há anos, as últimas semanas dedicadas exclusivamente à família não seriam possíveis. Passada a adaptação à rotina de artista autônoma, ela considera o novo disco um produto maduro, que caminhará por si. “Tirei dos meus ombros o peso de subjugar meu trabalho aos interesses de grandes gravadoras”, diz. E mostra-se leve. “Hoje, canto o que eu quero, com quem admiro e da forma que acho mais interessante. Do meu olhar pra fora prova isso”.



Produzido pelo filho, Luã Mattar, e pelo pernambucano Yuri Queiroga, o disco – o 33º da carreira – reúne 12 músicas e vários jovens artistas de todo o país. Além de Yuri e Luã, o acordeom de Rafael Meninão, a harpa de Cristina Braga, as batidas do DJ Dolores, os pífanos de Dirceu Leite e as composições de Zélia Duncan, Dani Black, Dudu Falcão, Lenine e Dominguinhos também se misturam na obra. E não por acaso, porque Elba não acredita em acasos.

“São sincronicidades. Eu interpreto sinais que me ligam a essas pessoas e, sobretudo, apuro meus ouvidos para tudo o que é produzido de novo na música brasileira. Eu quero o que é inovador”, conta a artista. Disposta a manter corpo e mente flexíveis, ela ressalta a importância de não se amargurar com a idade, nem oferecer resistência aos jovens talentos. Diz que é preciso manter o coração e as portas abertas. Lembra que Carlinhos Brown e Lenine – cujo verso da canção É o que me interessa dá nome ao disco da paraibana – se lançaram em shows dela, que os “amadrinhou.” Para Elba, isso atesta o acerto em apostar no que ainda não foi sacramentado pela crítica ou pelo público. Sem, é claro, esquecer os antigos parceiros.

O garanhunhense Dominguinhos, inclusive, está em três faixas do disco, sendo duas inéditas. “Atenuada a dor pela morte dele, fui a Fortaleza buscar algumas composições que havia me deixado”, explica a cantora. Do acervo até então não divulgado do sanfoneiro, um fado (Nos ares de Lisboa – Passarinho enganador) foi a mais grata surpresa para Elba. Enriqueceu a mistura de ritmos, que considera o ponto mais forte do disco, no qual passeia da clássica La noyeé, de Serge Gainsbourg, ao manguebeat pernambucano em Risoflora, de Chico Science.



Sentada no sofá da sala, Elba agradece à Nossa Senhora, de quem é devota há anos, por ter em mãos o álbum pronto. Agora, passado o período sabático em comunhão com a família, pretende cair na estrada como tem feito desde a década de 1970. Quer gravar outro DVD ainda este ano e dar continuidade à parceria com a música instrumental do grupo Sa Grama. Em São Paulo, faz show no dia 24 deste mês. “Mas devo levar esse trabalho ao Recife somente no segundo semestre, mesmo me apresentando por lá no período junino com outro repertório”, prevê. E sorridente, sintetiza: “Estou mais tranquila do que nunca e essa tranquilidade é transmitida através da minha música. Chegou a hora de colher o que eu plantei.”

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