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Música "A música já me deu muito mais do que eu poderia querer", diz o rapper Criolo Ao lado de Ivete Sangalo, ele sobe ao palco neste domingo, no Recife, para comandar show da turnê em homenagem a Tim Maia

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 25/04/2015 17:00 Atualizado em: 24/04/2015 18:27

Ivete e Criolo se apresentam no Recife neste domingo (26). Foto: Stein Viva/Divulgação
Ivete e Criolo se apresentam no Recife neste domingo (26). Foto: Stein Viva/Divulgação


Ao telefone, Criolo deseja luz e axé ao fim da entrevista com o Viver. Fala sobre a turnê Nívea Viva Tim Maia, seu primeiro projeto com a cantora Ivete Sangalo, e sobre o significado da obra do "Síndico" em sua vida. O rapper vive um momento grandioso da carreira. "Fui convidado. Convidado mesmo. Já pensou?!", repete, se referindo ao projeto e recordando o próprio passado.

"Quando você cresce ouvindo que não vai ser ninguém, pelo lugar onde nasceu, por seus pais serem quem são, por você ter as condições que tem, e, um dia, é convidado para cantar em grandes projetos musicais, isso não tem preço", diz Criolo.

Neste fim de semana, ele faz uma passagem rápida pelo Recife e, ao lado de Ivete, comanda o show gratuito em homenagem a Tim Maia, no domingo (26). O projeto Nívea Viva Tim Maia já passou por Porto Alegre, onde reuniu cerca de 100 mil pessoas, e do Recife segue para outras capitais.

>> ENTREVISTA: CRIOLO

Você se lembra do dia em que recebeu o convite para participar do projeto? O que estava fazendo quando recebeu a notícia?

Os produtores ligaram e disseram que ele estava sendo convidado para um projeto. Fui a uma reunião. Explicaram que era um grande projeto para homenagear o Tim Maia. Fiquei bastante surpreso. Trata-se de um projeto muito grandioso. Tudo feito com carinho e respeito.

Seu trabalho costuma ter cunho crítico, com observações acerca da sociedade e suas carências. Considera esse projeto uma fase mais leve?
Apesar do Tim Maia ter grandes canções românticas, ele não foge à minha linha crítica de raciocínio. O ser social é feito do que está ao redor, mas também do que o coração sente. E a história da vida dele é de luta, me inspira.



Quando começou sua relação com a obra de Tim Maia? A acompanha há muito tempo?
O Brasil inteiro começou a acompanhá-lo quando ele despontou. Para nós, quando passamos a entender o que representa aquela música que toca na rádio. Ele é um daqueles gênios que estão lá desde sempre, para serem descobertos. Não é alguém que se conheceu agora. As músicas dele ficam na sua cabeça. É tão simples, e isso é o melhor de tudo.

Se debruçaram sobre a biografia dele? Fizeram algum tipo de laboratório?
Nós nos encontramos, tivemos uma conversa com o Daniel [Ganjaman], com a diretora artística, conversamos sobre a ideia do show, o que queriamos dizer com o show. Por se tratar de alguém que faz parte da história da MPB, o acompanhamos há muito tempo. É uma pessoa que faz parte das nossas vidas. Às vezes você desconhece alguns detalhes. Mas isso é comum. Quantas vezes não sabemos detalhes da vida dos nossos irmãos, que vivem conosco?

Qual sua fase preferida entre as que ele vivenciou?
O cara é um todo, eu gosto de tudo que ouço dele. Talvez daqui a cinco anos eu goste mais de uma, mas não significa que deixei de gostar de outra.



Como avalia sua performance no palco? Considera ter se saído melhor em determinado momento ou música?
Estou cantando com todo o meu coração. O que estou mostrando por fora é o que tenho por dentro. Estou cantando com muito carinho, com muito respeito. Estou procurando colocar o meu coração e fazer o meu melhor. Avalio assim.

E a interação com Ivete? Foi a primeira vez que trabalharam juntos?
Ela é muito humilde, cheia de energia, cheia de luz. Nunca tinhamos nos encontrado antes nos palcos. A agenda dela é gigantesca, nosso projeto está começando ainda. Com o passar dessas apresentações, fica a certeza de que ela é uma pessoa extremamente competente, séria, profissional, uma pessoa que ama música.

Como aconteceram os ensaios? Durante quantos meses treinaram para a turnê?
Houve um primeiro momento para a banda levantar as canções, os arranjos. Tive dez dias de ensaio com os músicos e fomos ajustando as coisas.

Foto: Leo Aversa/Canivello/Divulgação
Foto: Leo Aversa/Canivello/Divulgação
Daniel Ganjaman já trabalhou com você em outros projetos, inclusive no seu disco mais recente, Convoque seu Buda. Como é o trabalho com ele?

A gente vem trabalhando juntos desde o Nó na orelha, meu primeiro disco. É uma relação de muito amor à música, depois amor a essa amizade que nasceu desse encontro. A gente se respeita muito, somos amigos de alma, de verdade. Um amigo verdadeiro sabe onde apontar falhas de outros amigos, sabe em que o amigo pode melhorar. É um irmão que Deus me deu. Eu confio muito nele. Inclusive profissionalmente. Além da questão afetiva, de querer o bem dele, eu acredito na competência dele. Me sinto à vontade em ser dirigido por alguém que sabe o que está fazendo.

Quais mudanças ocorreram entre Nó na orelha (2011) e seu momento atual?

Não muda muito. Minha música sou eu. Eu coloco muito de mim na música. Sou o mesmo cara. Quem está de fora nem sempre sabe o que aconteceu até ouvir aquela música. Mas nós estamos vivenciando aquela construção. Eu vou fazer 40 anos de idade, muita coisa muda em cinco anos. Isso acontece com todo mundo, com qualquer ser humano.
 
O que espera do show no Recife, no próximo domingo? Quantos dias passará na cidade?

Esta cidade, em especial, para mim, é algo esplendoroso em arte, cultura e política. No teatro, na dança. A regionalidade do Recife é muito forte, a palavra é essa. As lições do cotidiano dessa cidade, da história da cidade, isso tudo é algo que eu respeito muito. E é uma coisa muito séria pra mim. Não vou saber te explicar muito. É uma coisa muito forte, não é uma brincadeira. Pra mim é uma honra muito grande. É uma energia forte. Mas somos operários da música. Vamos, trabalhamos e voltamos. Não vamos nos demorar.
 
O que leva de herança desse projeto?
Ele ainda está no começo, mas levo a lição de o quanto a música é algo que faz bem pra vida da gente. Eu acredito na música, no quanto ela é importante para nós brasileiros, como amamos música. E até o final do projeto, muita coisa vai acontecer. Esses músicos da banda estão se esforçando muito, dando o melhor de si. Estão tentando fazer tudo de modo muito respeitoso e com muita energia para a memória desse Tim Maia maravilhoso. É sobre a importância da música na vida da gente.

Qual seu próximo passo na carreira solo?
A música já me deu muito mais do que eu poderia imaginar. Quando você cresce ouvindo que não vai ser ninguém, pelo lugar onde nasceu, por seus pais serem quem são, por você ter as condições que tem, e, um dia, é convidado para cantar em grandes projetos musicais, isso não tem preço. A música já me deu muito mais do que eu poderia querer. Eu não peço muito mais coisas. Enquanto eu tiver energia, sigo cantando.

SERVIÇO
Show Nivea Viva Tim Maia, com Ivete Sangalo e Criolo
Onde: Orla da Praia do Pina, na Zona Sul do Recife
Quando: 26 de abril, às 16h30
Quanto: Entrada gratuita



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