° / °

Viver
Total Tour

Público canta junto e emociona Joss Stone, em show intimista e marcante em Olinda

Diferentemente do que fez nos shows de São Paulo e Brasília, Joss deixou a cargo do coro entoar toda a primeira parte de "Right To Be Wrong"

Publicado: 16/03/2015 às 14:30

/Crédito: Rafael Koch Rossi/T4Fun/Divulgação

(Crédito: Rafael Koch Rossi/T4Fun/Divulgação)



Joss Stone não é uma diva do pop. Ela está longe, sabe disso e assim quer que continue - o que justifique sua saída de gravadoras comerciais e os projetos experimentais aos quais se dedica nos últimos anos. A cantora britânica se mantém fora do convencional o bastante para encarar uma turnê que se propõe a ir em todos os países do mundo em dois anos, assumindo a possibilidade de prejuízo em algumas dessas passagens.

A menina com voz de Aretha Franklin e postura de Janis Joplin que dominou as paradas de sucesso há dez anos não é a mesma que pisou no palco do Chevrolet Hall, em Olinda, na noite do último domingo (15). Dessa faceta, apenas uma passagem rápida, quase contemplativa e para cumprir obrigação, na abertura do show da turnê World Total, com "You Had Me" e "Super Duper Love". Quem visitou Pernambuco foi a mulher de sorriso largo, farta cabeleira e uma voz poderosa o suficiente para saltar das nuances de doces agudos ao alto som gutural, daqueles sofridos, que carregam consigo todas as dores de um coração partido repetidas vezes, como quem vai de 0 a 200 km/h em meio segundo. A mesma que, por opção, deixa de fora do show sucessos estrondosos como "Spoiled" e "The Love We Had", por não mais representá-la, ou mesmo o carro-chefe de seu último álbum "The High Road".

Stone faz questão de fugir do convencional e sabe bem que essa é sua marca, diferencial que crava a memória de muitos - o suficiente para justificar turnês audaciosas mesmo estando longe da "parte de cima" de iTunes e Billboards em todo o mundo. Em Pernambuco, cantou 17 canções, a maioria dos álbuns The Soul Sessions vol.2 e do ainda não lançado Water For Your Soul, que testa enquanto roda o mundo com suas experimentações que misturam blues, r&B e jazz ao reggae e ao soul. Para uma das músicas, The Answer, pediu a colaboração dos fãs recifenses para que levassem instrumentos de percussão ao show. O momento acabou nem tendo muito espaço, mas a música executada e ainda nem lançada, foi a escolha perfeita para a interação com o público local, uma vez estruturada com pegadas de cumbia e R&B com uma percussão marcante numa música que, apesar de britânica, seria "a cara" de Olinda.

Na segunda metade do show, confessa: "Nossa! É hora de acalmar um pouco". A banda responde e o lado mais romântico - e sim, sensual - aflora, tendo início com "Stuck On You". Uma garota de vestido estampado, azul e branco, leve, mexe amarra lentamente os cabelos acima da nuca, enquanto balança de frente ao microfone que captura cada sussuro de sua poderosa voz. O público grita. Ela sorri, como se não fosse para ela. Magnética, vai conduzindo a dança que toma conta de cabeças e rebolados de uma audiência longe de numerosa, mas barulhenta e animada como só aqui se encontra.

Entre o provocante cover de Nina Simone "I Put a Spell On You" e a versão da canção da banda White Stripes "Fell In Love With a Boy", a cantora vai cantarolando uma conversa com o público "Obrigado por se juntarem a mim nessa viagem. Música não é para ser feita para um único lugar. Grato por deixarem eu 'me espalhar'", sussura num jazz bem marcado. Esbanja simpatia mesmo quando cercada de dezenas de celulares e câmeras em sua direção, por parte daqueles cuja experiência se resume a uma tela de 7 polegadas mesmo quando o atrativo está a poucos metros de distância: "Que bonito. De novo. Sabe, onde cresci quase não há casas. Esse brilho todo me emociona e me lembra das estrelas que via em casa. Obrigada".

No ponto alto do show, o sucesso "Right To Be Wrong" é antecipado pelo público pernambucano. Diferentemente do que fez nos shows de São Paulo e Brasília, Joss deixou a cargo do coro entoar toda a primeira parte da música, gritada a plenos pulmões por dezenas, deixando a artista visivelmente emocionada.

Antes da derradeira "Some Kind of Wonderful", confessa: "Vocês devem ouvir essa música pela primeira vez agora. É sobre se apaixonar por uma pessoa mesmo sabendo que você não deveria. É aquele momento "Merda!", mas que você se entrega mesmo assim", conta, antes de atingir notas sofridas de amores passados, entoável apenas por quem já testemunhou planos e sonhos serem pisoteados por tempos, agendas, perfis e verdades incompatíveis.

É uma voz poderosa a la Maria Bethânia, cantando as dores de corno de Reginaldo Rossi, em uma "embalagem" de uma loira, alta de apenas 27 anos, descalça num palco que é dela, mas que sempre pede licença para entrar. E mais, termina lançando rosas brancas ao público, beijadas por ela há pouco, tal qual o rei Roberto Carlos. Joss Stone se despede. Não é da realeza, nem faz questão de ser. Prefere bater à porta dos quatro cantos do mundo e ousa tentar conquistá-lo literalmente no grito, como nenhuma majestade já fez...

Veja a abertura do show


PEGADINHA DO MALANDRO
Dois problemas causaram transtornos a parte do público que tentava ver a britânica Joss Stone, no Chevrolet Hall, neste domingo (15). O primeiro, logo na entrada, com a ação de flanelinhas bloqueando o acesso ao estacionamento com cavaletes, alegando que o mesmo estaria lotado. A informação estimulou muitos motoristas a deixarem os carros no acostamento do lado de fora da casa de shows ou mesmo no lado de fora do Centro de Convenções e atrapalhou o acesso ao show.

Pior do que isso, apenas a falta de informação sobre o horário em que se apresentaria a cantora latina Lena Burke, convocada para fazer o show de abertura da turnê da cantora no Brasil. Apesar do evento estar marcado às 20h - com ampla divulgação -, a cubana fez show para público de poucas dezenas de pessoas, às 19h, enquanto Stone subiu ao palco às 20h10. Mesmo depois da metade do show, ainda tinha quem chegasse à casa de shows, perdendo boa parte da apresentação. Com exceção destes contratempos, o show seguiu sem problemas, inclusive no que diz respeito ao acesso a bebidas, banheiros e à refrigeração do local.
Mais de Viver