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Quadrinhos Pernambucanos desenham para Marvel, DC Comics e outras gigantes das HQs

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/03/2015 12:40 Atualizado em: 01/03/2015 12:47

Credito: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press.
Credito: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press.

A última década foi de prosperidade para o mercado brasileiro de histórias em quadrinhos, com a multiplicação de revistas, adaptações literárias, obras traduzidas e até o surgimento de editoras especializadas nesse nicho. Ainda não foi superada, contudo, uma série de dificuldades para quem atua nessa área e busca espaço para publicar trabalhos autorais. De tanto conviver com a falta de oportunidades, alguns migraram dos fanzines de HQs para a publicação independente via crowdfunding (modelo de financiamento coletivo). Outros, já há algum tempo estão focados em exportar o próprio talento.

Direto de um quarto no bairro do Janga, em Paulista, o quadrinista Thony Silas coloca os lápis, tintas e pincéis a serviço de personagens conhecidos mundialmente. Não por hobby. Ele de fato tem contratantes internacionais do porte da Marvel e DC Comics à espera de revistas inteiras protagonizadas por heróis como Batman e Homem-Aranha. Há dez anos focado nos mercados norte-americano e europeu, ele começou a carreira dedicado a ilustrações infantis e somente aos poucos conseguiu migrar para os desenhos “mais acadêmicos e complexos”.

“Por muito tempo resisti a entrar para o mercado americano. Cheguei a recusar convites porque acreditava que a renda da pessoa aumenta muito, mas crescem também os gastos, e você fica preso nessa história”, revela o artista gráfico. A mudança de ideia veio com o casamento e o nascimento da filha. Para turbinar o orçamento, procurou os gringos e foi bem aceito. Passou a trabalhar com prazos curtos e alto nível de exigência. “É essencial ser muito rápido e manter a qualidade, algo cobrado pelas editoras e pelos fãs”.

Credito: Dynamite/reprodução
Credito: Dynamite/reprodução


Figura conhecida nos sebos do centro do Recife na década de 1990, Milton Estevam foi outro a ser aceito entre os desenhistas de grandes editoras. De casa, no bairro da Macaxeira, Zona Norte da cidade, ele faz os primeiros rabiscos das personagens Queen Sonja e Lady Rawhide (heroína do universo do Zorro). Para isso, ele recebe um roteiro traduzido, com referências e menções a histórias anteriores. Depois do lápis, vem a arte-final com o nanquim e a colorização.

“A demanda americana por brasileiros começou motivada pela mão-de-obra barata. Antigamente, eles nos viam como talentosos, esforçados, rápidos... e ainda cobrávamos menos. Hoje está mais nivelado. Temos as mesmas condições de trabalho que os gringos”, comenta Milton, que além de quadrinista é agenciador em parceria com o cearense Ed Benes, conhecido por treinar desenhistas e inseri-los no mercado. “Nos últimos anos, mais de 15 artistas passaram por aqui e se tornaram profissionais. É um trabalho contínuo. Nos Estados Unidos há vários brasileiros famosos, reconhecidos. Isso melhora nossa receptividade. A Marvel e a DC Comics são as empresas que mais nos requisitam”, diz o desenhista e empresário Ed Benes.

Para o historiador mineiro Wellington Srbek, pesquisador e autor de quadrinhos, nos anos 1990 os desenhistas brasileiros eram vistos como habilidosos para copiar o estilo das HQs estadunidenses. Com o tempo, no entanto, passaram a se destacar e conseguir negociar a produção a preços melhores. Em duas décadas, melhorou a situação tanto de quem atua local quanto globalmente. “O mercado de quadrinhos está bom, mas ainda difícil. As editoras não estão em uma boa fase. Com a crise econômica, temos um mercado retraído, que afeta a cultura como um todo, inclusive as HQs”.



PASSO A PASSO

1 – Os desenhistas brasileiros recebem, via internet, o roteiro da HQ traduzido para o português, além de elementos que sirvam de referências para o trabalho e menções a histórias anteriores do mesmo personagem

2 – Os primeiros esboços são feitos, a lápis, escaneados e enviados pela web para aprovação da editora norte-americana

3 – Se o material for aprovado, o quadrinista começa de fato a produção da revista. Os prazos são curtos e é exigido um alto padrão de qualidade para os desenhos

4 - Depois do lápis, vem a arte final com nanquim, que engrossa os traços. Essa etapa pode ser feita pelo mesmo desenhista ou por outro artista gráfico

5 - A colorização vem por último. Várias técnicas podem ser utilizadas, desde a aquarela manual até colorização digital

6 – A revista finalmente é enviada para aprovação final, colocação dos textos, numeração das páginas, revisão e impressão.

Credito: Marvel/divulgação
Credito: Marvel/divulgação


PERNAMBUCO PARA O MUNDO

Thony Silas

Começou a carreira como auxiliar de ilustrador em 2000. Entre as primeiras publicações internacionais, Contract, The Cheng Brothers, Rage: Bane of demons. Em 2012, pela Marvel Comics, ilustrou Amazing Spider-Man: Ends of the Earth, seis edições da revista Venom e três Daredevil: Dark nights. Em 2014, pela DC Domics, Batman beyond 2.0

Milton Estevam

O início da carreira foi com histórias em quadrinhos regionais, em parceria com outros desenhistas do estado. Após treinamento técnico no estúdio Ed Benes, no Ceará, passou a ilustrar para editoras do exterior. Inicialmente, trabalhou como assistente, desenhando Super-Homem. Depois, fez várias revistas das personagens Queen Sonja e Lady Rawhide.


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